31 de outubro de 2025
Trinta anos sem Cobrinha, o seresteiro que fez de Piracicaba sua canção
Série ‘Achados do Arquivo’ relembra diversas homenagens, em vida e póstuma, feitas pela Câmara ao seresteiro que deu voz à música que se tornaria o hino da cidade
Nesta segunda-feira (3), completam-se 30 anos da morte de Victório Ângelo Cobra, o Cobrinha, figura lendária da seresta piracicabana e símbolo de uma época em que a cidade se deixava embalar pelas canções que ecoavam nas noites à beira do rio. Mais do que um músico, ele foi reconhecido como “embaixador de Piracicaba”, levando a alma e a melodia de sua terra a cada verso e dedilhado de violão.
Homenagens a Cobrinha, realizadas na e pela Câmara Municipal de Piracicaba, são o destaque da série Achados do Arquivo, parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, do Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social.
Sua trajetória, marcada pela simplicidade e pela devoção à música, inspirou homenagens que se tornaram parte da história da cidade — entre elas, a instalação de uma herma na Praça da Saudade, em frente ao Cemitério da Saudade, por meio do Projeto de Lei nº 224/1998, de autoria do então vereador Moacir Nazareno Monteiro. A justificativa da proposta resgatava o vínculo afetivo do artista com o bairro onde viveu: “Cobrinha sempre residiu no Bairro Alto, que faz divisa com a referida praça”, diz o texto.
O projeto resultou na Lei nº 4.628, de 6 de abril de 1999, sancionada pelo prefeito Humberto de Campos, que oficializou a herma do seresteiro, inaugurada em 26 de agosto de 1999, em uma solenidade que foi registrada pela Câmara, e essas imagens estão disponíveis no Acervo Histórico da Casa. Desde então, o busto de Cobrinha repousa na Praça da Saudade como um marco à memória de quem fez da voz e do violão instrumentos de afeto e identidade cultural.
Nascido em 1908, Victório Ângelo Cobra cresceu em meio à musicalidade familiar — cantava com os irmãos no Grupo Cobra Choro, difundindo as modinhas e serestas que atravessavam gerações. Ao longo de sua vida, tornou-se figura reconhecida nacionalmente. O seu trabalho é destacado por ter sido um dos primeiros cantores a gravar músicas sertanejas, com ‘Minha Terra’, composta em parceria com Mariano da Silva, e ser reconhecido como a “voz icônica” da música Piracicaba, de Newton de Almeida Melo, que viria se tornar o hino oficial da cidade.
Cobrinha personificava a tradição da seresta, arte do encontro entre amigos, violas e poesia. Seu repertório celebrava o amor, a saudade e o cotidiano, e suas apresentações mantinham viva uma estética musical que já se tornava rara nos idos do início da década de 1990.
Uma voz no plenário da Câmara - Quatro anos antes de sua morte, em 22 de agosto de 1991, Cobrinha foi homenageado na Câmara Municipal de Piracicaba, durante a leitura de um voto de congratulações, tramitado na forma do Requerimento nº 420/1991 e apresentado pelo então presidente da Casa, vereador Rogério Vidal, por ocasião dos 83 anos do seresteiro, que seria celebrado três dias depois. A homenagem foi registrada em vídeo pela Casa, no início das produções das atas eletrônicas do Legislativo municipal.
O plenário, em seu formato mais antigo e revestido de mármore branco, recebeu o artista sob aplausos de vereadores e do público. Vidal destacou a importância de Cobrinha. “Não é a primeira homenagem que esta Casa faz, e nem será a última. O Cobrinha é considerado um embaixador de Piracicaba no Brasil. Gravou ‘Minha Terra’ em 1939 e recebeu o disco de ouro em 1989. E é com muito orgulho que esta Casa lhe presta homenagem”, disse.
Naquela noite, o jornalista Geraldo Nunes usou a tribuna para definir o homenageado em tom poético. “Enquanto houver ar, enquanto as estrelas cintilarem no firmamento, haverá sempre um seresteiro, acompanhado do seu violão, cantando melodias nas ruas das cidades.”
O plenário se transformou em palco de seresta. Cobrinha cantou “Minha Terra” e “Chuá Chuá”, acompanhado por Jaime Cúrcio (bandolim) e Zé Moreno (violão). Outros nomes da música piracicabana — Toninho Martini, Zezé Adamoli, Pedro Alexandrino, Florivaldo de Almeida Leme (Chicoca) e Antônio Carlos Fioravante (Bolão) — uniram-se à homenagem, encerrada com o Hino de Piracicaba entoado pelo próprio Cobrinha.
Trinta anos depois de sua partida, o eco das serenatas de Victório Ângelo Cobra ainda percorre as ruas de Piracicaba. Sua herma na Praça da Saudade não é apenas uma escultura de bronze, mas um símbolo da memória afetiva de uma cidade que reconhece na música uma forma de eternidade. Entre partituras e lembranças, permanece viva a imagem do homem simples, de voz terna e chapéu na cabeça, que transformou noites silenciosas em poesia cantada.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.
Supervisão: Rodrigo Alves - MTB 42.583
Pesquisa: Giovanna Felini Calabria
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