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17 DE AGOSTO DE 2020

Objetificação do corpo feminino dificulta luta por igualdade de gênero


Jornalista e mestra em antropologia social, Lorena Trindade participou de entrevista ao vivo no Instagram do Parlamento Aberto.



EM PIRACICABA (SP)  

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Lorena Trindade é jornalista e mestra em antropologia social.







Historicamente, mulheres são vistas como seres inferiores e submissos. Essa crença inviabiliza a igualdade entre gêneros, uma vez que reduz o feminino a um objeto inanimado e sem emoções. Embora as diferenças de oportunidades e de acesso estejam mais visíveis, há, no entanto, desigualdades mais subjetivas que se manifestam na imagem socialmente construída da mulher. Tratam-se dos processos de objetificação e hipersexualização do corpo feminino.

Para a jornalista e mestra em antropologia social Lorena Trindade, objetificar um corpo é desumanizá-lo. "A aparência das mulheres importa mais do que todos os outros aspectos que as definem enquanto indivíduos. Passamos a enxergar apenas um corpo, ignorando o sujeito que o anima", explicou Lorena, em entrevista ao Instagram do Parlamento Aberto na última sexta-feira (14).

A banalização da imagem da mulher traz consigo consequências danosas. "Estamos falando em desconsiderar o que mulheres sentem e pensam. Em algum momento da vida, ou em vários, todas as mulheres já se sentiram objetificadas, como se nossos corpos fossem públicos e não nos pertencessem", refletiu Lorena.

Intimamente ligada às funções de objeto sexual e reprodutor, a representação da mulher na sociedade é herança de uma cultura patriarcal que atribuiu maior valor às características masculinas e fortaleceu o estabelecimento de padrões estéticos surreais. "O padrão reportado pela mídia é sempre o da mulher branca, magra e jovem. Quem não se enquadra nesses estereótipos é excluída e depreciada."

A mulher, dentro de uma sociedade estruturalmente machista, conforme observou Lorena, é sempre subjugada e diminuída. "Só na década de 1970 a mulher deixou de ser considerada civilmente incapaz. Tivemos avanços, sim, mas ainda estamos muito longe de sermos representadas em toda nossa diversidade: mulher enquanto pensamento, inteligência e ação."

A divisão sexual do trabalho, que atribui às mulheres as funções de passar, lavar, cozinhar e limpar e aos homens a de trazer o sustento para a casa, também é traço da cultura que desvaloriza e reduz a existência do ser feminino. "Homens também têm mãos, também convivem dentro de uma mesma casa, então por que a divisão das tarefas domésticas é sempre da mulher? Nenhum ser humano deveria acumular tanto trabalho, precisamos repensar essas questões para avançar em outras pautas", advertiu.

"Por que amenizamos as responsabilidades do homem? Não é normal que 5,5 milhões de crianças não tenham registro do pai na certidão de nascimento", questionou Lorena. Ela defendeu a inclusão dessas discussões nos mais diferentes espaços e a atuação da família e da escola como instituições formadoras de indivíduos, na redução das desigualdades latentes e na criação de gerações mais conscientes.

"Nossos corpos não foram feitos para o prazer do outro, é preciso que se entenda que o corpo pertence a quem está dentro", ponderou.

DIVULGAÇÃO INDEVIDA DE MATERIAL ÍNTIMO - Em seu mestrado, Lorena se dedicou a pesquisar o fenômeno da "pornografia de vingança", que consiste na divulgação indevida de material íntimo e que tem a internet como plataforma. A conduta passou a ser considerada crime com a lei 13.718, que entrou em vigor em 24 de setembro de 2018 e inseriu novos crimes no texto do Código Penal. Dentre eles, foi criada a figura do crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de sexo ou pornografia.

A lei prevê como condutas criminosas atos de oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio, fotos, vídeo ou material com conteúdo relacionado à prática do crime de estupro ou com cenas de sexo, nudez ou pornografia que não tenham consentimento da vítima.

"Quando alguém te envia uma foto íntima é porque ela confia em você. Se você repassa a outros, é crime e há penalidades. Não podemos ignorar que se relacionar hoje em dia assumiu novas formas e não temos como controlar a maneira com que as pessoas se expressam, mas temos como conscientizá-las", alertou Lorena.

MULHER - Na semana de 10 a 14 de agosto, as lives do Parlamento Aberto foram focadas na discussão sobre os desafios da mulher na luta por representatividade e na formação crítica frente às pautas feministas e suas interseções na contemporaneidade. Leia mais sobre:

Concepções de gênero sustentam opressões históricas, diz especialista

Mulheres conseguem menos capital de investimentos que os homens

Jornalista defende discussão sobre representatividade na grande mídia

Características da violência obstétrica são detalhadas em live

ACESSE O CONTEÚDO - As lives do programa Parlamento Aberto são realizadas no perfil do Instagram, que pode ser acessado em @parlamento_aberto. As entrevistas também podem ser conferidas no canal do YouTube do Departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores de Piracicaba e, ainda, no podcast produzido pela Rádio Câmara Web. Para receber as informações do Parlamento Aberto direto no celular, cadastre-se na lista de transmissão do Whatsapp, neste link.



Texto:  Raquel Soares
Revisão:  Ricardo Vasques - MTB 49.918


Mulher Parlamento Aberto

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