12 de setembro de 2025

Madrinha Eunice receberá título póstumo de “Piracicabanus Praeclarus”

Compositora e sambista reconhecida como fundadora da escola de samba mais antiga em atividade na capital paulista será homenageada postumamente pela Câmara de Piracicaba

Em homenagem póstuma, a Câmara Municipal de Piracicaba aprovou, nesta quinta-feira (11), o projeto de decreto legislativo 53/2023, que concede o Título de “Piracicabanus Praeclarus” à Sra. Deolinda Madre, a Madrinha Eunice, figura de extrema relevância para a formação do samba paulista. A propositura é de autoria da vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua.

A importância de Madrinha Eunice, compositora e sambista reconhecida em São Paulo como fundadora da escola de samba mais antiga em atividade na capital paulista, é tema da matéria “Rainha esquecida do samba: o ‘não achado’ de Madrinha Eunice”, da série de matérias históricas “Achados do Arquivo”, publicada em fevereiro deste ano.

"É muito importante que a Câmara reconheça essas personalidades, que muito fizeram pela nossa cultura, pela nossa arte", destacou Silvia Morales ao justificar seu voto ne Tribuna da 49ª Reunião Ordinária. 

“Deolinda Madre, mais conhecida como Madrinha Eunice, nasceu em 14 de outubro de 1909 em Piracicaba (SP), filha de ex-escravizados. Residente do bairro do Pau Queimado nesta cidade, aos 11 anos, mudou-se para São Paulo para morar e trabalhar na casa de uma tia, mais precisamente na rua Tamandaré, nº 138, no bairro da Liberdade. Ali cresceu imersa nas tradições afro-brasileiras, como os batuques, rodas de capoeira e samba”, traz trecho da propositura assinada por Silvia Morales.

O texto também destaca que Madrinha Eunice foi “presidente de time de futebol” e, em 9 de fevereiro de 1937, fundou a Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva Lavapés, na rua da Glória, 961, na Liberdade. Esta escola é considerada a mais antiga escola de samba paulista em atividade e a segunda da história em fundação. Assim, ela se tornou a primeira mulher negra a fundar uma escola de samba em São Paulo, em meio ao grande crescimento e industrialização da cidade.

A justificativa do projeto ainda relata que, em 1935, ela conheceu o italiano calabrês Francisco Papa em Bom Jesus de Pirapora, em meio a uma tradicional festividade. Em 1936, partiram para uma visita ao Rio de Janeiro, quando conheceram a Estácio de Sá, escola carioca que influenciou as cores e o formato da Lavapés.

Sob sua liderança, a Lavapés conquistou sete títulos no Grupo Especial paulistano entre as décadas de 1940 e 1960 e tornou-se “um celeiro de talentos que contribuíram para o surgimento de escolas como a Unidos do Peruche e a Vai-Vai. A escola existe até hoje como Lavapés Pirata Negro, atualmente sediada no Jabaquara e presidida pelo ator Ailton Graça”.

A propositura frisa que Madrinha Eunice foi uma “mulher de coragem”, que “rompeu padrões da época ao se separar do marido para se dedicar integralmente ao samba. Foi uma líder firme, independente e agregadora, conhecida por acolher jovens sambistas e por defender a resistência negra nas ruas e no Carnaval. Sua postura firme a transformou em uma referência não só no samba, mas também no empoderamento feminino e negro”.

Falecida em 1995, aos 87 anos, “seu legado, no entanto, permanece vivo”, traz o texto, que relata que, em 2022, ela foi homenageada com uma estátua de bronze de 1,7 metros na Praça da Liberdade, no centro de São Paulo.

“A escultura, criada pela artista Lídia Lisboa, retrata Deolinda em uma postura de dança típica do samba, com turbante e adereços, marcando sua importância como símbolo da cultura afro-brasileira. A estátua é parte de um projeto de valorização de personalidades negras na paisagem urbana paulistana. A inauguração contou com a presença de sua neta, Rosemeire Marcondes (conhecida como Rose da Lavapés), atual dirigente da escola, que afirmou: ‘Ela é a história do samba paulistano, a matriarca de todas as escolas de samba…’”.

A data e o local da entrega da honraria ainda serão divulgados.

Texto: Fabio de Lima Alvarez - MTB 88.212
Supervisão: Rodrigo Alves - MTB 42.583

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