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30 DE JUNHO DE 2023

Durante a 'Piracicaba colonial', o mercado não gerou frutos


Trechos de atas da Câmara, em meados do século 19, registram as tentativas —frustradas— para construir um lugar para comercializar produtos alimentícios



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Guilherme Leite - MTB 21.401 (1 de 3) Salvar imagem em alta resolução

Pintura de Joaquim Miguel Dutra, de 1921, detalha a região ribeirinha da cidade do final do século 19

Pintura de Joaquim Miguel Dutra, de 1921, detalha a região ribeirinha da cidade do final do século 19
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Pintura de Joaquim Miguel Dutra, de 1921, detalha a região ribeirinha da cidade do final do século 19

Pintura de Joaquim Miguel Dutra, de 1921, detalha a região ribeirinha da cidade do final do século 19
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Professora Marly Perecin mostra quadro que representa a Casa do Povoador no final do século 19

Professora Marly Perecin mostra quadro que representa a Casa do Povoador no final do século 19
Foto: Guilherme Leite - MTB 21.401 Salvar imagem em alta resolução

Pintura de Joaquim Miguel Dutra, de 1921, detalha a região ribeirinha da cidade do final do século 19



A professora Marly Therezinha Germano Perecin sintetiza, em poucas palavras, o que era o território onde hoje é Piracicaba, no início do século 19: "Nada mais do que uma vila com aparência legítima de núcleo colonial".

A paisagem cotidiana era formada por raras pessoas andando pelas poucas ruas e diversos animais soltos. O que havia de movimentação era concentrado no chamado "Picadão de Mato Grosso" —atual rua Moraes Barros—, que atravessava o rio como um trajeto de tropeiros, que viajavam entre os Campos de Araraquara e a Serra de São Pedro em busca de Itu, Campinas e São Paulo.

"Ali também era chamada de rua do sem-fim, porque ligava o sertão ao mar por uma ponte que havia; e que, na verdade, era a quarta ponte abaixo do salto", detalha Marly Perecin. Como espaço de comércio, principalmente de produtos alimentícios, havia o chamado "Beco das Casinhas", ou apenas "quitandas", formadas junto ao paredão do teatro central —localizado próximo ao quadrilátero formado pelo edifício Canadá, pelo antigo prédio do Banco do Brasil, entre as ruas Prudente de Moraes e Santo Antônio, e pela Praça José Bonifácio.

"As cidades coloniais tinham esse apego que vem da cultura portuguesa; esses 'teatros' eram um prédio com bancos de madeira; às vezes nem havia bancos, e as pessoas precisavam levar de suas casas. Mas, resumindo, são construções tipicamente coloniais da primeira metade do século 19", acrescenta a professora.

É nesse contexto social que os habitantes da Piracicaba que ainda se prendia a estruturas coloniais que a Câmara tenta —mesmo que sem sucesso— discutir a necessidade de construção de um espaço para comércio. O registro aparece na folha 150v do Livro A09, na sessão ordinária de 17 de julho de 1858, em que se discutiu "a necessidade que tem este Município de umas casinhas onde depositem os lavradores seus efeitos para serem postos à venda".

"Essa foi a primeira manifestação, em ata, da necessidade de um local específico para o comércio de mantimentos. Discutia-se, de maneira embrionária, sobre esse espaço, trinta anos antes da inauguração do que viria a ser o Mercado Municipal", explica Bruno Didoné de Oliveira, servidor do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara e responsável pela pesquisa dos documentos.

Somente quase 20 anos depois, o assunto retorna às discussões da Câmara, quando o requerimento de Sebastião Ignácio do Amaral Gurgel, registrado na folha 145 do Livro A12, da sessão ordinária de 20 de abril de 1877, sugere "o pedido para estabelecer um pequeno mercado". E no mesmo dia viria a resposta, que é um traço daquele período: "Esta Câmara ainda não pode estabelecer mercado sem Regulamento, que não tem".

Sem solução, o problema de organizar o comércio na "vila colonial" persistia; menos de quatro anos depois, o assunto volta à discussão na Câmara, como registrado na folha 213 do Livro A12, na sessão ordinária de 8 de janeiro de 1881: "Foi indicado (pelo vereador Miguel Antonio Gonçalves de Arruda) que se nomeasse uma comissão para dar seu parecer e plano sobre a necessidade que temos de um mercado".

"Desde a primeira manifestação da ideia [de construir o mercado], lá em 1858, até chegar a 1881, passaram-se 23 anos em que a cidade ficou sem o mercado e muito pouco se discutiu na Câmara sobre essa já antiga necessidade", acrescenta Bruno Oliveira. O curso da história mudaria a partir de 1884.

"Foi a partir dali que a Câmara daria efetividade ao plano, dando início a deliberações e ao posterior acompanhamento das obras que se arrastariam pelos quatro anos seguintes e que, finalmente, viriam a ser concluídas e culminariam na abertura do Mercado Municipal, em julho de 1888, exatos trinta anos após a primeira manifestação da ideia vir à tona", detalha Bruno Oliveira.

A mudança da dinâmica na discussão sobre o mercado é fruto de um outro processo que também ocorria na então pacata "vila colonial". "O início da modernização começa a chegar com alguns proprietários de terra com maior visão, que haviam morado em outras regiões e países", explica Marly Perecin, ao citar figuras como os irmãos Prudente de Moraes e Manoel de Moraes Barros —que haviam se mudado de Itu para Piracicaba— e Luiz de Queiroz —que, 16 anos após viver na Europa, retornava ao Brasil com novas ideias e anseios.

É em um contexto de transformações que o Mercado Municipal sai de uma proposta para se tornar um projeto e, mais tarde, uma realidade. Os anos entre 1884 e 1888 farão germinar o que, até hoje, é uma das construções mais permanentes da Piracicaba, que no dia 5 de julho chega aos 135 anos.

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, para realizar publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessíveis ao público as informações do acervo do Legislativo.



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992


Achados do Arquivo Documentação

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