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05 DE NOVEMBRO DE 2021

Comurba: maior tragédia de Piracicaba completa 57 anos, sábado (6)


Mais de 50 pessoas morreram, causando comoção nacional; legislações e procedimentos na construção de novos edifícios foram revistos pelo país



EM PIRACICABA (SP)  

Comurba: maior tragédia de Piracicaba completa 57 anos, sábado (6)

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Comurba: maior tragédia de Piracicaba completa 57 anos, sábado (6)

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Comurba: maior tragédia de Piracicaba completa 57 anos, sábado (6)



Piracicaba entrou para a história das tragédias em construções civis no Brasil, devido ao desabamento de parte do Edifício Comurba, em acidente que ceifou vidas de pessoas, além de inúmeras vítimas e danos materiais incalculáveis.

A maior tragédia de Piracicaba aconteceu no dia 06 de novembro de 1964, há 57 anos, na queda do Edifício Luiz de Queiroz, popularmente conhecido como Comurba (Companhia de Melhoramentos Urbanos), responsável pela construção do prédio, conforme projeto do arquiteto Fábio Penteado. Era considerado o Copam da época, com referencial em São Paulo, no projeto emblemático do então arquiteto Oscar Niemayer. O prédio estava localizado onde hoje funciona o Poupatempo Estadual e a Caixa Econômica Federal, na praça José Bonifácio.

A queda aconteceu por volta das 13h35 e formou uma nuvem de poeira que tomou conta da região central. A construção abrigaria escritórios, galeria de lojas, garagem, apartamentos e até um cinema, que já estava em funcionamento, o Cine Plaza. Apenas uma parte do edifício ficou em pé, sendo demolida em 1971. O acidente foi considerado o primeiro grande no setor da engenharia brasileira, onde morreram 54 pessoas.

Acredita-se que os materiais de baixa qualidade e cálculos errados podem ter contribuído para a queda do Comurba, mas as causas exatas ainda não se sabe. O resgate dos feridos contou com a ajuda de tratores de diversas empresas de Piracicaba e região. Foram dias de buscas pelos corpos, em uma época com pouca tecnologia, na comunicação ou em ferramentas para o socorro, tudo era mais demorado e complicado. Os anos a seguir foram considerados um regresso econômico, devido ao medo das pessoas por moradias em prédios.

Maior que o projeto inicial, a obra também era grande para os padrões da época, com 40 metros de altura, 54 apartamentos e 22 mil metros quadrados de construção. O prédio era o maior do interior paulista, onde Piracicaba cumpria seu objetivo na busca de se confirmar como uma das principais cidades do Estado de São Paulo.

O incidente ganhou comoção nacional, mobilizando diversas cidades brasileiras, por intermédio de suas câmaras de vereadores, que enviaram requerimentos de votos de pesar e consternação, além de também contribuir com o debate sobre novas legislações para disciplinar o setor de construção de edifícios. Entidades de classes, empresariais e de trabalhadores, além de segmentos religiosos e organizações como a Maçonaria e clubes esportivos também prestaram condolências.

Parte dos registros destes acontecimentos podem ser conferidos no acervo da Câmara Municipal de Piracicaba, em documentos sob a guarda e responsabilidade do setor de Documentação e Arquivo, com o respaldo do setor de Administração. Na série Achados do Arquivo, com o apoio do Setor de Comunicação da Câmara, nesta sexta-feira (5), o trabalho jornalístico foca diversas manifestações enviadas a Piracicaba, em votos de pesar, bem como no questionamento de legislações sobre a construção de edifícios.

Foram mais de 70 correspondências enviadas à Câmara, ainda no tempo do rádio telegrama e outros meios de comunicação da época. A maioria das cidades foi do Estado de São Paulo, como: Ibitinga, São Manoel, Ituverava, Caraguatatuba, Conchal, Mauá, Santos, Itapetininga, São Bernardo do Campo, São José do Rio Pardo, Cravinhos, Irapuru, Marília, Guareí, Mogi-Mirim, Ibaté, Registro, Franca, Diadema, Botucatu, Bragança Paulista, Itatinga, Pirajuí, Presidente Alves, Itapeva, Colômbia, Santo André, Cubatão, Tietê, Laranjal Paulista, Garça, Valinhos, Cordeirópolis, Socorro, São Caetano do Sul, Campinas, Limeira, Jaú, Ferraz de Vasconcélos, Barra Bonita, Caçapava, São Pedro, Santa Bárbara D’Oeste, Barretos, São João da Boa Vista, Presidente Prudente, São Carlos, Jundiaí, Santa Gertrudes, Itapira, Monte Mor, Pedreira, Iracemápolis, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Rio Claro, Nova Odessa, Mongaguá, Mandaguari, Jaboticabal, Cesário Lange, Taubaté, Paraisópolis, Araras, Araraquara, Brotas, Patrocínio Paulista, Suzano e a Capital, São Paulo.

Também enviaram mensagens um Grupo de Parlamentares Paulistas, incluindo o deputado pela região de Piracicaba, Lino Morganti; Lojas Maçônicas de Campinas e de Martinópolis, Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Artefatos de Papel, Papelão e Cortiça de São Paulo, Sociedade Veteranos de 32 – MMDC, Faculdade de Farmácia e Odontologia de Piracicaba. Prefeitura Municipal de Iacri, Secretaria da Segurança Pública, Estado de São Paulo; Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Diretoria do Banco Moreira Sales, Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado de São Paulo. Além de entidades esportivas, como o Esporte Clube Corinthians Paulista, São Paulo Futebol Clube e a Sociedade Esportiva Palmeiras. E, representações de outros Estados, como a cidade mineira de Uberaba.

Telegramas

Ibitinga: "Voto de pesar, pelo lamentável acidente ocorrido nessa cidade, que abalou profundamente o sentimento humanitário de nossos munícipes. Queremos que o presidente, seja portador ao laborioso povo dessa cidade, que o povo de Ibitinga, irmanados em seus sentimentos cristãos, por nosso intermédio, presta uma justa homenagem àqueles que pereceram nessa tão grande catástrofe, levando a dezenas de lares dessa cidade, o luto, pelo falecimento de seus familiares, mais uma vez reclamados pela incontrolável morte. Da oportunidade, nos aproveitamos para reiterar nossos protestos de elevada estima e distinta consideração."

Caraguatatuba: "Voto de profundo pesar pelo rude golpe que o destino acaba de desferir contra a laboriosa e culta população da cidade de Piracicaba, com o desabamento parcial de um edifício, ferindo e matando inúmeras pessoas. Aceitem pois, o povo de Piracicaba o testemunho de nossa solidariedade à sua grande e sua inefável dor. Causou a mais profunda consternação, a dolorosa tragédia que abateu sobre a população de Piracicaba, arrebatando a vida de mais de duas dezenas de pessoas. Provocou a hecatombe e desabamento de um prédio em construção, com cerca de 15 andares, onde ainda trabalhavam vários operários."

De todos os pontos do Pais, até do exterior, chegaram telegramas de conforto e solidariedade às famílias atingidas por tão rude golpe. "Nesta hora de dor e de angústia, de aflição e de tristeza para o grande e valoroso povo piracicabano, é indispensável que a nossa cidade, que constitui uma parcela da comunidade paulista e brasileira, manifeste o seu pesar, chorando as lágrimas incontidas de quantos foram atingidos por tão grande dor. Essa manifestação haverá, por certo, de se fazer através desta Casa, legítima intérprete dos sentimentos do povo."

Conchal: "Infaustoso acontecimento catastrófico do desabamento do Edifício Luiz de Queiroz, causando a morte de dezenas de piracicabanos e levando a amargura a tantos lares."

Santos - O presidente da Câmara, Júlio Moreno, destacou que quando assumiu como vereador marcou logo sua posição contrária àqueles que, detentores de riquezas, desejam aumentá-las, prejudicando os menos afortunados, seus semelhantes. “Por isso abri campanha contra algumas construtoras e incorporadores de prédios de apartamentos, os quais, abusando da boa fé dos incautos, gente simples, firmam com eles contratos que não cumprem, contratos que tem clausulas de custo fixo, como chamariz e que transformam em custo real, ou custo exato, pelas exigências de constantes reajustes de preços. Fiz, nesta Câmara, vários discursos sobre a matéria, e preconizei promulgação de lei federal para disciplinar a ação dos negociantes nesse campo de atividade, lei cominando severos castigos aos infratores de seu espírito e dos contratos celebrados. Meus trabalhos foram ter às mãos do líder de governo, deputado Pedro Aleixo, que prometeu, em telegrama que me dirigiu, estudar legislação específica a respeito."

"Cumpriu a promessa o parlamentar mineiro e, eis aqui, senhores vereadores, o avulso do projeto de lei 19, de 1964, que o senhor presidente da República, Marechal Castelo Branco acaba de remeter ao Congresso Nacional, regulando o condomínio e incorporação imobiliária."

"Tenho certeza que este diploma legal terá sua aprovação, ainda nesta legislatura. E, rogamos a Deus que assim aconteça, porque se já houvesse uma lei disciplinando a construção de prédios de apartamento, uma fundação projetada para 10 pavimentos não teria recebido 14 andares, como ocorreu em Piracicaba, evitando-se a tragédia que a ganância de criminosos, com a conivência não sei de quem, fez desabar sobre a 'Noiva da Colina', com o sacrifício de numerosas vidas." (Requerimento 3707/1964, de autoria do vereador Abelardo de Moraes, aprovado no dia 9 de novembro de 1964, em votos de profundo pesar do povo santista, pela tragédia que enlutou a cidade de 'Prudente de Moraes' - Piracicaba. Acompanhado de cópia do pronunciamento do mesmo vereador sobre a matéria).

São José do Rio Pardo. Discurso proferido pelo vereador Pedro Morilha Baldeira, em sessão ordinária da Câmara, em 16 de novembro de 1964. “O dia 6 de novembro, próximo passado, foi um dia de tristeza, de pranto e de luto para o ordeiro e culto povo de Piracicaba. Nesse dia, de triste lembrança, essa simpática cidade do interior paulista foi palco da maior catástrofe sofrida em toda sua história. Seu povo, horrorizado, estático e espavorido, viu ruir, fragorosamente, parte do maior prédio existente naquela cidade. O pavoroso evento enlutou aquela cidade e comoveu todo o interior paulista, e porque não dizer, todo o Brasil. Choravam os piracicabanos os seus mortos. Viveu o povo momentos dramáticos e angustiosos à medida que iam sendo retirados os cadáveres soterrados sob o gigantesco monte de entulho a que ficou o mais alto e o mais vistoso prédio da cidade. Sofre o povo piracicabano. Sei que sofre muito. Gente boa e generosa que conheço bem, pois ali durante oito longos anos, eu pude atestar a grandeza do coração de todos quantos vivem na 'Noiva da Colina'. Voto de profundo pesar pelo triste e trágico acontecimento que marcou o dia 6 de novembro de 1964, com mortes, prantos e dores, a história de uma das mais prósperas cidades paulistas, qual seja, a mais simpática, dinâmica e admirável Piracicaba."

Mensagens de solidariedade

A cidade de Garça, no requerimento 270/1964 registrou o infausto acontecimento, que abalou Piracicaba, entristecendo brasileiros de todos os recantos da Pátria. De Brasília, a palavra do Ministro de Agricultura, cidadão de Piracicaba, Hugo de Almeida Leme, proclamou seu pesar e do próprio governo, num momento em que se dirigia à sua terra, para levar aos seus concidadãos, as suas condolências e comungar dos mesmos sentimentos de pesar. "Outrora, não muito longe, 'Luiz de Queiroz' avançava em direção aos céus de Piracicaba e imponentemente já se fazia orgulho para a cidade, combinando com a beleza dominante e das cascatas do tradicional rio que encanta a cidade. De um instante para outro, eis que o prédio se transforma em ruínas, ceifando preciosas vidas, deixando na desolação famílias inúmeras e uma população ordeira."

"Nós de Garça, que sentimos o piracicabano esportista, intelectual, mestre-escola, servidor municipal, também sentimos o mesmo pesar, e porque não dizer choramos as mesmas lágrimas. Assim, só resta a esta Casa, transmitir ao povo de Piracicaba o seu profundo pesar, ao lado de votos de condolências e que naturalmente servirá como bálsamo para sua dor."

Câmara Municipal de Jundiaí: "Soçobraram 14 andares em cimento, aço, ferro e tijolos, levando a dor não só aos lares piracicabanos como o de todos os brasileiros que tiveram notícias do trágico acontecimento, que pelas suas proporções se classificou como a maior catástrofe já havida no interior do Estado de São Paulo."

A Câmara Municipal de Piracicaba, também se irmanou à dor de toda coletividade, pelo brutal e fatídico acontecimento que levou a amargura a muitos lares. "Pela presidência e em nome dos demais vereadores e do povo piracicabano, agradeço penhoradamente e de todo o coração, a manifestação de pesar e solidariedade recebida. Constarão dos arquivos desta Casa de Leis, com especial carinho, as palavras de conforto e de estímulo, vindas de todas e das mais remotas plagas, e das mais variadas entidades públicas e particulares, como uma coroa de flores a tornar menos pesado o luto de famílias de Piracicaba e de toda esta população. Respeitosamente, Lázaro Pinto Sampaio, Presidente da Câmara Municipal."

Câmara Municipal de São Paulo: “voto de pesar pelo trágico acontecimento, causando mortes e ferimentos em inúmeras pessoas. O infausto acontecimento traumatizou toda a nação, e neste momento, em que ainda aquela cidade do nosso interior vive sob a tremenda comoção, esta Edilidade, lídima representante do povo paulistano, não poderia deixar de, ao consignar em seus anais, um voto de profundo pesar pelo acontecimento, solidarizar-se com os piracicabanos, no doloroso transe por que passa."

O deputado Pacheco Chaves, eleito por Piracicaba na época, se manifestou na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo): “Verificou-se em Piracicaba uma tragédia, de desmensurada proporção, onde um edifício que estava sendo construído, por iniciativa de um grupo de piracicabanos. Era um orgulho desta cidade paulista, pois se erguia em sua praça principal e destinava-se a abrigar uma série de atividades econômicas importantes, pois esse edifício ruiu. Este acidente terrível alcançou várias pessoas, fez grande número de mortos, cerca de 50, entre eles operários, das obras do prédio, pessoas que o habitavam, e outras que trabalhavam em suas lojas, e em seu cinema. Também pessoas que transitavam pelas escadarias do prédio foram atingidas pelos seus destroços. O número de feridos foi muito grande e os danos materiais incalculáveis."

 

 



Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583
Revisão:  Martim Vieira - MTB 21.939




Achados do Arquivo Documentação

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