29 de julho de 2025

Câmara celebra Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha

Solenidade de iniciativa vereadora Rai de Almeida homenageia mulheres com destaque na luta, resistência e valorização da cultura negra

Texto: Daniela Teixeira - MTB 61.891
Supervisão: Rodrigo Alves - MTB 42.583

No Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, a Câmara de Piracicaba realizou uma reunião solene para celebrar a data. De iniciativa da vereadora Rai de Almeida (PT), autora do requerimento 407/2025, em conformidade com o Decreto Legislativo nº 11/2017, a solenidade, realizada na última sexta-feira (25), homenageou mulheres com trajetórias marcadas pela luta, resistência e valorização da cultura negra.

São elas: Ana Carolina Acelino Mota, estudante de Moda e representante do Coletivo Altivas, que promove o empoderamento de mulheres negras; Cláudia Regina Coneglian, pedagoga aposentada e empreendedora, atuante em movimentos sociais e culturais, focada na valorização da ancestralidade negra e no empoderamento feminino; e Elizete Aparecida Adão, assistente social e educadora, fundadora do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba, ativista pelos direitos da população negra e das mulheres negras.

Também foram homenageadas Érica Fernanda Lima, diretora do Instituto Afropira e coordenadora do Espaço Exposição, que ministra oficinas sobre as Bonecas Abayomis, promovendo a cultura afro-brasileira; e Marta Alcântara da Silva, empreendedora conhecida pelo acarajé, símbolo da cultura baiana em Piracicaba, utilizando a gastronomia para promover a cultura negra.

Completam a lista Sônia Maria de Barros Sabino, ativista comunitária e cultural, com atuação no Carnaval de Piracicaba e na Casa do Hip Hop, promovendo justiça social e apoio comunitário; e Stefany Correa Rocha, formada em Engenharia Agronômica e militante do Coletivo Negro Baobás da ESALQ-USP, idealizadora dos Encontros para a Consciência Negra e pesquisadora sobre as relações entre o "Agro" e o racismo.

Durante o evento, a artista Márcia Maria Recchia, a Marcinha Vila África, realizou uma apresentação com o Hino da Negritude, composto por Eduardo Oliveira e interpretado pela cantora Alciony Menegaz. “É uma honra entrar nessa casa e poder dizer que somos protagonistas da nossa história. E estar aqui honrando as nossas mães, os nossos mais velhos, a nossa ancestralidade”, declarou.

Além de homenagear essas mulheres, a solenidade também promoveu um debate sobre o impacto do racismo na sociedade e na vida das mulheres negras.

Ao falar em nome das homenageadas, Elizete Aparecida Adão destacou que a população negra aparece em todos os indicadores negativos, como pobreza, baixa escolarização e violência. Segundo ela, “a acessibilidade é dificultada, e os direitos dessa população são frequentemente violados, com destaque para a invisibilidade de suas necessidades.” Elizete afirmou que, apesar de o Brasil ter maioria negra, essa população sofre exclusão e violência cotidiana, incluindo assassinatos, discriminação e estigmatização. “A população negra passa fome, morre de fome. E dentro dela, a maioria é mulher, que tem seus direitos tolhidos 24 horas.”

Ela também pediu união da comunidade negra para fortalecer a luta por direitos e convidou os presentes para participar da quinta marcha da mulher negra em Brasília, que será realizada no dia 25 de novembro. “Nós vamos para Brasília reivindicar nossos direitos, colocar nossas propostas e dores para que enxerguem o que nós, mulheres pretas, precisamos. Está faltando conversa, olhar e respeito entre nós.”

A solenidade contou ainda com a palestra “O Dia 25 de Julho e o Direito Antidiscriminatório: uma conexão necessária”, ministrada por Daniela Oliveira da Fonseca, advogada e especialista em Direitos Humanos. A palestrante, que também foi homenageada, ressaltou a importância da data para a resistência das mulheres negras. Ela informou que a data existe desde 1992 e marca um encontro feminista de mulheres negras que aconteceu na República Dominicana para celebrar a existência, a resistência e suas pautas.

Ela destacou as disparidades enfrentadas pelas mulheres negras, visto que “66% das pessoas que hoje recebem seguro-desemprego são negras, e a maioria são mulheres”, além da alta incidência de violência doméstica e feminicídio. Segundo Daniela Oliveira da Fonseca, 62% das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres negras.

A palestrante explicou que a luta das mulheres negras está diretamente ligada ao direito antidiscriminatório. Ela defendeu que essa área do direito seja ensinada em todos os cursos de Direito no Brasil. Segundo ela, isso é necessário para garantir que grupos vulneráveis, como as mulheres negras, tenham representatividade e proteção legal. Daniela destacou que, “sem a presença de pessoas negras e mulheres negras nas discussões sobre direito, democracia e justiça social, a discussão fica na superfície e não avança.”

A vereadora Rai de Almeida, autora da solenidade, afirmou que a homenagem também quer dar visibilidade a uma população constantemente invisibilizada e que o evento tem valor simbólico ao evidenciar a situação enfrentada pela população negra, impulsionando a luta por reparação de direitos.

Rai criticou a baixa representatividade negra nos espaços de poder, que não ultrapassa 3%, apesar de a população negra ser 54% da sociedade. “Quando uma pessoa negra qualificada ocupa um papel, ela é deixada à margem porque um branco está na preferência. Nós precisamos mudar essa realidade.”

Além disso, a vereadora falou das dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras no acesso à saúde, especialmente no pré-natal, e destacou o papel das mulheres negras na construção da riqueza do país, muitas vezes em condições precárias no serviço doméstico. Ela encerrou a homenagem lembrando a força e a resistência das mulheres negras.

A mesa de honra foi composta pela vereadora Silvia Morales (PV), do Mandato Coletivo “A Cidade é Sua”, e pela Sra. Ceiça Sandoval, conselheira do Conepir e da Sociedade Beneficente Treze de Maio, representando a deputada estadual Professora Bebel.

 

Filmagem: TV Câmara