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24 DE NOVEMBRO DE 2023

Terminal ‘John F. Kennedy’: a rodoviária esquecida de Piracicaba


Comovida pelo assassinato ocorrido há 60 anos, cidade homenageou ex-presidente dos EUA com nome de estação que foi demolida na década de 90



EM PIRACICABA (SP)  

John Kennedy, ao lado de Jackie Onassis, antes de ser alvejado em Dallas (Texas)

John Kennedy, ao lado de Jackie Onassis, antes de ser alvejado em Dallas (Texas)

Rodoviaria "Presidente Kennedy" em Piracicaba, que foi demolida na década de 90. Crédito: Revista Nº 20 do IHGP (2013)

Rodoviaria "Presidente Kennedy" em Piracicaba, que foi demolida na década de 90. Crédito: Revista Nº 20 do IHGP (2013)

Prefeito Alberto Coury e a primeira-dama Eunice Coury na inauguração da rodoviária. Crédito: Revista Nº 20 do IHGP (2013)

Prefeito Alberto Coury e a primeira-dama Eunice Coury na inauguração da rodoviária. Crédito: Revista Nº 20 do IHGP (2013)
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John Kennedy, ao lado de Jackie Onassis, antes de ser alvejado em Dallas (Texas)



A imagem do assassinato de John F. Kennedy, então presidente dos Estados Unidos, é talvez uma das mais icônicas do Século 20. Até hoje, impressiona ver o líder da maior potência mundial sendo alvejado em pleno carro presidencial, ao lado da primeira-dama, Jackie Onassis, e em frente aos cidadãos de Dallas, no Texas, que acompanhavam o cortejo que trafegava pela Rua Elm, às margens da Dealey Plaza.

O crime ocorrido em 22 de novembro de 1963 – exatamente há 60 anos – repercutiu pelo mundo e em Piracicaba não foi diferente. Comovida, a cidade não só expressou empatia à trágica morte ao realizar uma missa na Catedral de Santo Antônio dias depois, como também quis registrar o nome do líder estadunidense no que era a representação de modernidade na pacata comunidade: a nova rodoviária municipal. 

Mas antes de seguir com os detalhes históricos da estação de ônibus, é importante detalhar o documento preservado pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara e que é destaque do Achados do Arquivo, série de matérias semanais produzidas em parceria com o Departamento de Comunicação Social. 

Em 8 de junho de 1964, o então prefeito de Piracicaba, Luciano Guidotti, oficializou a denominação da Estação Rodoviária “Presidente Kennedy” conforme a lei 1.241, documento que está sob a guarda da Câmara. Logo no artigo 1º, o chefe do Executivo atribui a decisão ao Decreto Municipal 458, de 25 de novembro de 1963. 

“O mais interessante desta lei é que ela dá a dimensão do tamanho da repercussão do assassinato. A denominação se deu em apenas três dias depois do crime”, explica Bruno Didoné de Oliveira, servidor do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo e responsável pela pesquisa, ao mostrar que o decreto municipal havia sido editado em 25 de novembro de 1963. 

A inauguração da rodoviária aconteceria dias mais tarde, em 15 de dezembro, com uma solenidade que mobilizou a classe política e empresarial da cidade e, evidentemente, com o descerramento da placa em homenagem a John F. Kennedy. Mas diferente da imagem icônica da morte do presidente dos EUA, a rodoviária inaugurada nos idos de 1963 foi superada pelo tempo e trocada pelo atual terminal. 

A RODOVIÁRIA – A revista de número 20 do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba), de 2013 – por ocasião dos 50 anos da inauguração da rodoviária –, traz registros sobre a estação, em texto assinado por Vitor Pires Vencovsky: “Na manhã do dia 15 de dezembro de 1963, às 10 horas, realizou-se a inauguração da rodoviária municipal de Piracicaba Presidente Kennedy”. 

O autor reflete as transformações ao município: “A construção dessa rodoviária em Piracicaba permitiu reunir, num único local e com instalações adequadas para atender a população, os serviços de transporte intermunicipal que eram realizados, até então, em pontos dispersos nas imediações da Praça José Bonifácio.” 

Ele detalha, no artigo, que os ônibus da empresa Piracicabana partiam e chegavam de ponto localizado na rua entre a Catedral de Santo Antonio e o Hotel Central, em frente a uma lanchonete. A agência da AVA (Auto Viação Americana) ficava na rua Prudente de Morais, vizinha à padaria Vosso Pão, com a rua Santo Antonio. “Outras empresas, como a Marchiori, utilizavam ponto localizado na Rua do Rosário, em frente à Igreja São Benedito, onde hoje se localiza o número 808”, acrescenta. 

Vencovsky também destaca a comoção com morte do Presidente Kennedy. “A repercussão de sua morte foi grande, com homenagens que incluíram, inclusive, missa de sétimo dia promovida pela paróquia União de Santo Antônio”, escreve, ao indicar uma foto do convite de missa publicado no Jornal de Piracicaba. 

O autor também destaca o discurso do então prefeito Alberto Coury, o qual justificou a homenagem ao presidente estadunidense: “Como um preito de gratidão ao herói da democracia, ao lidador da vida com justiça e liberdade, e que seria sempre um exemplo para todos os cidadãos do mundo ocidental.” 

A revista do IHGP ainda traz a repercussão da inauguração da rodoviária, com destaque à homenagem a Kennedy, nos jornais da época, assim como exibe fotos do evento, como o corte das fitas de abertura da nova rodoviária, feito pela primeira-dama Eunice Coury, o descerramento da placa de inauguração, feito pelo deputado Francisco Salgot Castillon, e o novo espaço tomado pela população curiosa. 

Construída em terreno de três mil metros quadrados, Vencovsky assinala que “a rodoviária era considerada a melhor e maior do interior”, contava com 12 boxes para diversos tipos de serviços (lanchonetes e lojas) e 14 guichês para venda de passagem. Localizada na avenida Armando de Salles Oliveira, ela foi demolida e substituída pela atual, inaugurada em 1994 na gestão de Mendes Thame. 

Já distante da comoção pela morte de Kennedy, a nova estação de ônibus passou a se chamar apenas Terminal Rodoviário Intermunicipal de Piracicaba. A figura do presidente assassinado em plena à luz do dia voltaria a figurar na cidade anos mais tarde na avenida que é uma das principais vias do bairro Nova Piracicaba. 

Essa denominação aconteceu sem lembrar a pompa anterior. Foi apenas registrada no decreto 779, de 27 de janeiro de 1969, assinado pelo prefeito Nélio Ferraz de Arruda. A homenagem a Kennedy se perde em meio às outras figuras lembradas como nomes de vias públicas do “loteamento de terreno denominado Jardim São Pedro, doado pela Societé de Sucrarias Bresiliennes”.

SESSENTA ANOS DEPOIS – Um dos crimes mais investigados da História, o assassinato de Kennedy ainda é envolto em questionamentos e novas informações, mesmo 60 anos depois. Instituída pelo presidente Lyndon Johnson, que assumiu no lugar de JFK, a Comissão Warren concluiu que Lee Harvey Oswald teria agido sozinho, acertando o tiro fatal no alto do sexto andar do prédio onde, na época, era um depósito da Secretaria de Educação do Texas e hoje é um museu sobre o crime. 

Até hoje, o relatório Warren é questionado – as acusações, em geral, são de que ele tenha sido feito apressadamente – e isso mantém o assassinato envolto em um mar de conspirações sobre a política do Governo dos Estados Unidos. Algumas destas contestações aparecem no filme “JFK – A pergunta que não quer calar”, de 1991, e no documentário “JFK – Revisitado”, de 2021, dirigidos por Oliver Stone. 

Neste ano, o livro do ex-agente secreto Paul Landis – “A Final Witness” (A Testemunha Final, em tradução livre) – traz a teoria da “bala mágica” (ou da "única bala") de volta à tona. Landis questiona se o projétil teria acertado Kennedy e o governador do Texas, John B. Conally, como acabou sendo concluído pela Comissão Warren, levantando a possibilidade de que teria mais de um atirador.

Mas para além das conclusões sobre o crime, desde aquele fatídico 22 de novembro se mantém à tona imaginações sobre como seria o mundo caso John F. Kennedy não tivesse sido morto. Há quem defenda que o então presidente pudesse frear a política agressiva dos EUA em regiões como a América do Sul, outros defendem que, independente do ocupante do cargo, as forças motoras seriam as mesmas que, ao longo das décadas de 60 e 70, patrocinaram ditaduras mundo afora, como uma resposta ao contexto travado durante os duros anos da Guerra Fria. 

Bem longe das profundezas dos arquivos secretos dos EUA, a história de Piracicaba se encontra com a de John F. Kennedy nas memórias de uma rodoviária esquecida. 

Achados do Arquivo – A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo e de Documentação, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba. Ela traz publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo do Legislativo.



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992


Achados do Arquivo Documentação

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