22 de agosto de 2025
Palestra aborda complexidade e desafios da Bacia do Piracicaba
Atividade na Escola do Legislativo, ministrada por Igor Serra na tarde desta sexta-feira (22), trouxe dados e desafios sobre os cursos d'água que formam o Rio Piracicaba
O rio que corta e dá nome à cidade de Piracicaba, elemento presente, constitutivo e central no desenvolvimento urbano, social e cultural do município, presente no cotidiano dos piracicabanos, talvez não seja tão conhecido na mesma proporção em que é visto.
Formado pela confluência dos rios Atibaia e Jaguari e também pelo rio Corumbataí, o Piracicaba, em sua bacia, conta ainda com outros três rios muitas vezes não tão lembrados: o Jacareí, o Cachoeira e o Atibainha.
O Camanducaia, o Cachoeira e o Jaguari nascem no estado de Minas Gerais, ao passo que os demais rios são formados no estado de São Paulo, passando por diversos municípios em ambos os estados até formar, propriamente, o Piracicaba, que deságua no Rio Tietê, nas proximidades do município paulista de Santa Maria da Serra.
“Por isso o rio Piracicaba é considerado um rio Federal”, explicou Igor Serra, Tecnólogo em Gestão Ambiental e Pós-graduado em Gerenciamento de Recursos Hídricos, que ministrou na tarde desta terça-feira, na Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba, a palestra intitulada: “Conhecendo a bacia hidrográfica do Rio Piracicaba”.
Com uma bacia tão extensa, formada por sete grandes rios e outros tantos mananciais menores, manter a qualidade da água traz desafios que transcendem a territorialidade do município.
Eutrofização, barragens e Sistema Cantareira - Um dos pontos de preocupação para a Bacia do Piracicaba, de acordo com o palestrante, é a Represa do Salto Grande, do rio Atibaia, no município de Americana, que apresenta problemas com aguapés, com a chamada eutrofização, um desequilíbrio ambiental resultante da abundância de fósforo e nitrogênio na água, que servem de nutrientes para as algas, que se reproduzem de forma desordenada.
Essas algas, por sua vez, além de consumirem os nutrientes abundantes, também consomem o oxigênio presente na água, tornando-o indisponível para os demais organismos vivos.
“Nós tivemos um problema que foi a expansão da Região Metropolitana de Campinas (RMC), pois ela não foi feita da maneira como deveria. Hoje, a RMC tem 3,4 milhões de habitantes. Em 2001, ela tinha cerca de 1,8 milhão de habitantes, e apenas 10% de seu esgoto era, à época, tratado. E para onde ia esse esgoto? Para o rio. E o principal rio que sofria e sofre com isso é o Atibaia, que está bem no centro da RMC”, disse Igor.
Ainda segundo o tecnólogo, além de se observar o percentual de esgoto coletado, é também necessário entender o tipo de tratamento que é dado a esses efluentes.
O chamado tratamento primário faz apenas a remoção de elementos sólidos do esgoto e não atende à legislação vigente sobre o tema. Já o tratamento secundário remove a matéria orgânica presente no esgoto e atende à legislação. Por sua vez, somente o tratamento terciário consegue retirar esses nutrientes em excesso.
“Na Bacia do Piracicaba, o que nós mais temos é o tratamento primário e o secundário. No entanto, esse tratamento secundário não remove os fósforos e os nitratos. O ideal seria o tratamento terciário para identificar e retirar esses elementos. O ideal é ter os três tipos de tratamento juntos”, apontou.
Para além de um problema local da Represa do Salto Grande, esse nitrato e fosfato, bem como as cepas dessas algas que ali proliferam, também seguem seu curso rio abaixo, indo para o Piracicaba. “Esse é um dos grandes impactos”, disse o palestrante.
Outro elemento potencialmente impactante para o Rio Piracicaba é a construção de duas novas barragens que estão sendo construídas na Bacia do Piracicaba, destinadas a controlar os fluxos e reservas de água durante períodos de cheias e estiagens: a Barragem de Pedreira, no Rio Jaguari, na região dos municípios de Pedreira e Campinas, com capacidade útil de armazenamento de 32 bilhões de litros de água; e a Barragem de Duas Pontes, no Rio Camanducaia, no trecho do município paulista de Amparo, com armazenamento de 53 bilhões de litros de água.
Se por um lado essas barragens podem, de fato, auxiliar no controle do fluxo de água na bacia, por outro, elas também podem padecer do mesmo destino da represa do Salto Grande. “Se não tomarmos cuidado com isso aqui, como será feito, poderemos ter problemas. E não é só tratar o esgoto em nível terciário, é também cuidar das matas ciliares para não deixar assorear e para que os fosfatos e nitrogênio não entrem na água”, disse Igor.
Outro grande desafio enfrentado pela Bacia do Piracicaba é a diminuição de seu fluxo de água, que é parcialmente desviado por uma série de dutos e bombeada para abastecer a região da Grande São Paulo por meio do Sistema Cantareira, que começou a operar em 1971.
“Nas décadas de 40 e 50, a região de São Paulo começou a crescer muito, e esse crescimento desordenado matou os rios que estavam à sua volta, como o Tietê, o Pinheiros, o Tamanduateí, o Anhangabaú e por aí vai. Quando São Paulo matou os rios que estavam ali, acabou a água que tinha para ser tratada. Só que daí era necessário tirar água de algum lugar, e foi criado o Sistema Cantareira”, falou o Tecnólogo em Gestão Ambiental.
Ele acrescentou: “Eles tiram hoje até 33 mil litros de água por segundo da Bacia do Piracicaba e despejam para a gente aqui entre 4 mil e 9,5 mil litros por segundo”.
Como consequência, de acordo com o palestrante, há a diminuição da vazão e da qualidade da água do Rio Piracicaba; a formação de espuma na água em épocas de seca; mortandade de peixes e a impossibilidade de se tratar a água para consumo da população.
Monitoramento - Além da exposição sobre a formação e dispersão geográfica da Bacia do Piracicaba, bem como sobre os principais desafios vivenciados pelas populações por ela abastecidas, a palestra, por fim, também buscou viabilizar a apresentação de conceitos e ferramentas que permitem às pessoas acompanharem de forma mais técnica e próxima a qualidade destes cursos d’água.
Para tanto, Igor expôs conceitos em variáveis qualitativas e quantitativas, como medidas utilizadas para cálculo de vazão e de volume, de níveis de oxigênio, turbidez, condutividade elétrica e outras, e apresentou links que permitem aos interessados dados mais fidedignos e em tempo real sobre a Bacia, como o site da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico); da Sala de Situação dos Comitês PCJ; e do Monitoramento via Saisp – Sistema de Alertas a Inundações do Estado de São Paulo.
Os detalhes sobre como entender e analisar os dados das plataformas, assim como a formação e a estrutura do Rio Piracicaba, podem ser compreendidos no vídeo da palestra.
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