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01 DE AGOSTO DE 2015

O Povo que construiu Piracicaba


Aniversário de Piracicaba - 248 anos



EM PIRACICABA (SP)  

Engenho de Cana – Hercule Florence (1840)

Engenho de Cana – Hercule Florence (1840)

Jean Baptiste Debret – Soldados e índios

Jean Baptiste Debret – Soldados e índios

Pouso do Sertão, Aurélio Zimmerman, desenho original de Hércules Florence (1804 1879)

Pouso do Sertão, Aurélio Zimmerman, desenho original de Hércules Florence (1804 1879)

Piracicaba | ACVP

Piracicaba | ACVP
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Engenho de Cana – Hercule Florence (1840)



Piracicaba completa 248 anos. São quase dois séculos e meio de história, tradição e cultura.  De um simples povoado instalado à beira do rio até os dias atuais muita coisa mudou. A cada ano a cidade cresce em tamanho e idealismo, e para nosso orgulho, ocupa lugar de destaque entre as cidades brasileiras. Talvez o motivo de seu maior trunfo resida em sua gente. Pessoas que por aqui foram chegando, apaixonando-se pelo lugar, fizeram sua morada, criaram raízes e hoje comungam de um mesmo ideal. Quem são essas pessoas que contribuíram para a fundação e o desenvolvimento de Piracicaba?

Desde 1693, há registros da movimentação de grupos humanos na região de Piracicaba. Quem mora na cidade hoje não imagina que há mais de 250 anos os primeiros habitantes dessas terras eram os ferozes índios Paiaguás.  Paulo Setúbal, no livro “Ouro de Cuiabá” de Mário Neme, faz o relato de uma expedição, que em 1730, foi trucidada por “oitocentos índios em oitenta canoas”. Após tantos massacres, de 1730 a 1800, os colonizadores e expedicionários de São Paulo, praticamente dizimaram os índios. No entanto, a presença indígena nos costumes, hábitos, gastronomia, dança e linguagem permaneceu. E vestígios dessa presença foram encontrados por arqueólogos nas recentes escavações realizadas no Engenho Central para instalação do Museu do Açúcar.

Em 1767, Antonio Correia Barbosa, dando cumprimentos às ordens recebidas pelo governador da Província de São Paulo (D. Luiz Antonio de Souza Botelho e Mourão), fundou oficialmente a Povoação de Piracicaba, nas imediações do Salto, onde já se achavam estabelecidos numerosos sertanejos com ranchos e roçados, suas hortas e pomares. E, para engrossar a população de moradores da nova povoação, o Governo da Província ordenou que fossem arrebanhados, “vadios, dispersos, vagabundos, presos e gente que por sua má conduta não eram mais úteis nos lugares de sua origem” – conforme Documento Oficial existente no Arquivo Histórico da Câmara. Ficou a cargo do povoador auxiliar os homens com alguns mantimentos, ferramentas e ensinar-lhes os serviços que deviam fazer pelo bem da povoação. Com essa conduta e boa atividade era esperado que a povoação prosperasse.

O negro também está presente na história de Piracicaba. Desde os tempos de Vila, as referências aos escravos negros são constantes. Vítimas de grande violência, castigos e prisões, muitos fugiam e buscavam abrigo nos quilombos. Há registros de época que sinalizam a existência de um quilombo nas cabeceiras do Rio Corumbataí (hoje região de Santa Terezinha). No ano de 1887, momentos antes da Abolição da Escravidão no Brasil, o “Almanak Comercial de São Paulo” publicava as cidades paulistas com maior número de escravos. Piracicaba era a terceira, com 5.663 escravos, após Campinas (15.427) e Bananal (6.903). A presença do negro e o legado dessa época ainda estão presentes, a Sociedade Beneficente 13 de Maio é uma das principais entidades negras do Brasil.

Na segunda metade do século XIX, através de um projeto de imigração, o Brasil começou a receber grande número de estrangeiros. Os italianos, espanhóis, alemães, japoneses e árabes descobrem Piracicaba. Muitos vieram para trabalhar na atividade agrícola, outros encontraram caminho no comércio e na indústria. A chegada dos imigrantes estrangeiros em Piracicaba constituiu-se um marco para o desenvolvimento econômico local e regional. Pequenas oficinas transformaram-se em grandes indústrias. E se a intenção dos imigrantes era acumular riqueza e voltar ao seu país, o amor a terra e ao trabalho fizeram com que aqui fincassem suas raízes.

E para completar o DNA do povo Piracicabano, os próprios brasileiros descobriram Piracicaba. Segundo dados do IBGE (2010) sobre migração por local de origem, depois de São Paulo, os mineiros constituem o maior número de imigrantes que Piracicaba recebeu, seguido dos paranaenses, baianos e pernambucanos.

É interessante notar que, independente da origem, nacional ou estrangeira (e atualmente temos recebido nossos amigos sul coreanos), quem aqui chega é sempre muito bem recebido, e traz consigo o mesmo sonho de quem chegou há 100, 200 anos atrás: trabalhar, construir e prosperar com qualidade de vida.

Parabéns Piracicaba, aos Piracicabanos e aos filhos de outras terras que aqui vivem, amam esta cidade e lutam pelo seu progresso. Piracicaba é hoje uma grande cidade graças ao trabalho de sua gente. Maior que o município é a alma de cada cidadão desta terra.

Fábio Bragança – Historiador

Diretor de Documentação e Arquivo



Texto:  Fábio Bragança


História

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