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01 DE JUNHO DE 2022

"Nunca digam que Piracicaba foi Atenas Paulista", diz historiadora


"O entendimento é Ateneu Paulista", disse Marly Therezinha Perecin, doutora em História Social pela USP, ao participar de roda de conversa da Escola do Legislativo



EM PIRACICABA (SP)  

Escola do Legislativo promoveu na tarde desta quarta-feira (1) a roda de conversa "Piracicaba do final do século XIX ao início do século XX"

Escola do Legislativo promoveu na tarde desta quarta-feira (1) a roda de conversa "Piracicaba do final do século XIX ao início do século XX"

Jornalista Rodrigo Alves - chefe do Departamento de Comunicação Social da Câmara

Jornalista Rodrigo Alves - chefe do Departamento de Comunicação Social da Câmara

Marly Therezinha Germano Perecin - doutora em História Social pela USP

Marly Therezinha Germano Perecin - doutora em História Social pela USP

Giovana Fenili Calabria - chefe do setor de Documentação da Câmara Municipal de Piracicaba

Giovana Fenili Calabria - chefe do setor de Documentação da Câmara Municipal de Piracicaba

Laura Lima Ribeiro - ex-estagiária do setor de Documentação da Câmara

Laura Lima Ribeiro - ex-estagiária do setor de Documentação da Câmara
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Escola do Legislativo promoveu na tarde desta quarta-feira (1) a roda de conversa "Piracicaba do final do século XIX ao início do século XX"





“A polarização na política é uma manifestação dos velhos conflitos que não foram resolvidos”. A constatação é da doutora em História Social pela USP (Universidade de São Paulo), Marly Therezinha Germano Perecin, ao participar da roda de conversa com o tema: “A Piracicaba do final do século XIX e início do século XX nos documentos da Câmara”.

O evento foi promovido no formato on-line pela Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba (SP) - Antônio Carlos Danelon – Totó Danelon – na tarde desta quarta-feira (1). Participaram como facilitadoras, além de Marly, a chefe do setor de Gestão de Documentação e Arquivo do Legislativo, Giovana Calabria e a licenciada em História pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Laura Lima Ribeiro. O jornalista Rodrigo Alves, chefe do Departamento de Comunicação Social, foi o mediador.

Foram várias as circunstâncias em que a historiadora Marly Perecin recorreu ao acervo da Câmara Municipal. “Uma delas foi para obter informações para elaboração de um estudo sobre o Matadouro Municipal. Além das atas eu me interessei pelos ‘maços’ de documentos que estavam no porão, cobertos de bolor, mas eles tinham uma datação que me atraía”, conta Marly.

O objetivo, revela a historiadora, era conhecer Piracicaba no final da Monarquia e início da República. “Foram três meses, no porão, com problemas respiratórios, lendo as maravilhas que eu pude encontrar”.

Responsável pelo setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, Giovana Calabria, disse que Marly Perecin complementa o trabalho do projeto “Achados do Arquivo”, do Legislativo, “buscando outras fontes”. “Quando eu cheguei aqui encontrei um acervo muito bem organizado”, lembrou Giovana, fazendo menção ao professor Guilherme Vitti, que era servidor público e a antecedeu no cargo.

Licenciada em História pela Unimep, a ex-estagiária, também, do setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara,  Laura Lima Ribeiro,  transcreveu sozinha o primeiro livro de eleições da Vila Nova da Constituição, nome do município de Piracicaba no passado. 

A profissional se recorda que quando iniciou a transcrição, coincidentemente a professora Marly Perecin estava pesquisando no acervo da Câmara "e até me ajudou com algumas palavras", disse Laura. 

EQUÍVOCOS – O mediador Rodrigo Alves fez uma provocação à historiadora do senso comum que é atribuído à cachoeira do “Véu da Noiva” do Parque do Mirante.

A professora explica que quando se fez o ladrão para as águas do Engenho Central, “os antigos diziam que era o ladrão do Engenho e se despenca em excesso por uma escada também. Mas é uma coisa artificial porque a água deveria penetrar para girar o engenho do Barão de Rezende. Aquele ladrão de água passou a ser confundido com a lenda do véu da noiva. Não tem nada a ver”, desmitificou.

O mesmo ocorre com Atenas Paulista e Ateneu Paulista, sendo que é senso comum a população comparar Piracicaba com Atenas, na Grécia. “Eu peço a todos: nunca digam Atenas Paulista para Piracicaba. Atenas é a capital da democracia na Grécia e, à época, Piracicaba era terra dos coronéis absolutistas, das tocaias, das revoluções sociais em disputa na Câmara. E Atenas era o berço da democracia”, detalha.

O correto, lembra, Marli é atribuir Piracicaba como ateneu paulista, sendo que no começo do século XX a expansão da educação de primeiro grau tornou o município a cidade mais rica de escolas do Estado. “Só perdia para a capital, pois tinha mais escolas do que Santos, Campinas e Sorocaba. Era então um centro cultural ateneu”.

200 ANOS DA CÂMARA -  Entre as atividades e festividades do bicentenário da Câmara Municipal de Piracicaba, haverá, neste ano, o lançamento da edição histórica: “Uma Comunidade do Oeste Paulista (Piracicaba) - Os duzentos anos de instalação da Câmara Municipal de Piracicaba, 1822”, de autoria de Marly Therezinha Germano Perecin.

Para escrever a obra, a autora recorreu, mais uma vez, ao acervo da Câmara de Piracicaba. Nas memórias, ela tomou conhecimento, por exemplo, de que o capitão-mor de Itu, Vicente da Costa Taques Góes de Aranha era uma criatura barroca, colonialista “e um servidor do rei”. Ela relembra que ao longo de 25 anos, Góes de Aranha foi capitão-mor de Itu “ e se julgava um especialista em Piracicaba, que à época era “freguesia” daquele município. “Foi destituído tempos depois, mas, a exemplo de Antônio Correa Barbosa, foi um dos fundadores de Piracicaba”, quando a então “Freguesia” estava fadada a desaparecer.

Enquanto a historiadora explanava sobre o trabalho do capitão-mor, Giovana Calabria projetava a capa do livro “Memórias do Estabelecimento da Nova Povoação de Piracicaba”, que recebeu alguns reparos da equipe do setor de Documentação.

DIGITALIZAÇÃO - Um dos grandes desafios da Câmara Municipal de Piracicaba é a digitalização de seu acervo. Giovana detalha que "o mundo moderno" vai apresentando seu lado bom e o seu lado ruim. "O papel a gente sabe o que fazer com ele. Hoje nós temos a ata eletrônica que conta tudo, ela grava do começo ao fim". Porém ela pondera que uma ata eletrônica é mais difícil alguém assistir ao conteúdo por completo. "Além disso um CD (disco compacto) tem uma data de validade, mas vamos preservar", concluiu.

O jornalista Rodrigo Alves, que fez a mediação da roda de conversa, anunciou que, acima de tudo, digitalizar o acervo "é uma questão de transparência", o que permitirá a população acessar o conteúdo de qualquer dispositivo eletrônico.

O vídeo, com a íntegra da roda de conversa, pode ser visto ao lado esquerdo desta reportagem. Outras informações sobre os eventos da Escola do Legislativo podem ser obtidas no escola.camarapiracicaba.sp.gov.br.



Texto:  Marcelo Bandeira - MTB 33.121
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583


Escola do Legislativo

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