PIRACICABA, SÁBADO, 27 DE ABRIL DE 2024
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22 DE MARÇO DE 2024

No início do Século 20, a cidade se preparou contra 8ª praga do Egito


Lei publicada em dezembro de 1907 aponta a preocupação em Piracicaba sobre nuvem de gafanhoto que formou no Sudeste brasileiro



EM PIRACICABA (SP)  

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A nuvem de gafanhoto é a oitava praga lançada no Egito e descrita no Livro de Êxodo



“Moisés estendeu sua vara sobre o Egito, e o Senhor fez soprar sobre o país, todo aquele dia e toda aquela noite, um vento do oriente. E, chegando a manhã, o vento do oriente tinha trazido os gafanhotos”. No versículo 13 do Capítulo 10 do Livro de Êxodo, no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, o profeta anuncia a 8ª praga que, naquela altura, tentava libertar o povo hebreu do Faraó. 

Mas para além de parábolas bíblicas, este inseto de pernas posteriores alongadas é extremamente nocivo, sobretudo quando agrupados de forma excessiva, sendo uma das pragas agrícolas mais conhecidas (e temidas!). 

Não são poucas as ocorrências da praga ao longo da história mundial. Diferentes lugares em diferentes períodos foram atingidos, incluindo o Brasil. No início do Século 20 o país foi atingido sucessivamente pelos insetos, incluindo uma grande “nuvem” em 1906, que atingiu a região Sul, se espalhando pelo Sudeste brasileiro. 

Para se ter uma ideia do quanto impactante foi a nuvem de gafanhoto naquele ano, a edição do jornal ‘O Trabalho’, de 1º de janeiro de 1907 – e preservada na hemeroteca digital do Triângulo Mineiro – anuncia a dimensão do que havia ocorrido no ano anterior: “A fúria devoradora do inseto foi tal que alguns dias bastaram para serem totalmente destruídas as plantações nascentes.” 

E Piracicaba estava na rota de devastação do impiedoso inseto. Documentos preservados pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba – e hoje destaque da série Achados do Arquivo, realizado em parceria com o Departamento de Comunicação Social – mostram que os gafanhotos se tornaram uma preocupação para o município.

Um indicio bastante evidente desta preocupação é o registro de uma lei, datada de 17 de dezembro de 1906, que já em seu primeiro artigo decreta:

“Art.1º - É obrigatório no município o serviço de extinção de gafanhotos. A ele estão sujeitos todos os homens válidos, de quinze a sessenta anos de idade, que trabalhares por suas mãos, sejam proprietários, arrendatários, colonos, camaradas ou agregados.”

Muitas questões são abordadas nos 8º artigos da lei, como as funções da Intendência Municipal no controle da praga e as multas aplicadas a quem se recusar a cumprir os mandamentos da lei. No artigo 7º consta que o “Intendente expedirá um regulamento para a boa execução desta lei”, e assim o fez, pouco tempo depois, no dia 20 de dezembro de 1906.

A presteza da regulamentação da lei, assinada pelo intendente Fernando Febeliano da Costa, é mais um indicio da preocupação causada pelo inseto, que de pequeno só tem o tamanho, já que a força de devastação de sua horda é muito grande. (Texto e pesquisa: Giovanna Calabria, chefe do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo)

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de documentos do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Casa de Leis.



Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Achados do Arquivo Documentação

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