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22 DE ABRIL DE 2021

Instrutor explica passo a passo para ter um cão-guia


Murilo Henrique Delgado Mariano, do Instituto Magnus, detalhou as etapas que tornam cachorro apto a trabalhar com pessoas com deficiência visual.



EM PIRACICABA (SP)  

Escola do Legislativo transmitiu a palestra nesta quinta-feira

Escola do Legislativo transmitiu a palestra nesta quinta-feira

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"É ter um anjo de quatro patas o tempo todo cuidando da gente", resume Murilo Henrique Delgado Mariano ao falar sobre Baduska. O hoje consultor do Instituto Magnus, entidade que mantém em Salto de Pirapora (SP) o maior centro de treinamento de cães-guias da América Latina, passou a ter a companhia da labradora há três anos.

Desde então, "a cada dia me surpreendo mais", contou o usuário de cão-guia, em palestra on-line promovida na tarde desta quinta-feira (22) pela Escola do Legislativo, da Câmara Municipal de Piracicaba. A internautas, o estudante de direito respondeu dúvidas e detalhou o processo que transforma cachorros em importante apoio a quem perdeu parte ou toda a visão.

Murilo nasceu com glaucoma congênito ("Hoje sou quase totalmente cego, com só um resquício de visão, de 5%") e integra um grupo que é minoria no país: embora o Brasil tenha 7 milhões de habitantes com deficiência visual, há apenas 200 cães-guias, o que leva à média de um para cada 35 mil pessoas.

Passar a contar com o apoio de um animal desses não custa, mas as despesas mensais giram em torno de R$ 400, segundo Murilo. "Cão-guia é realmente muito caro para quem treina, mas para quem recebe é de graça; eles são doados. A compra de um cão-guia é mal vista internacionalmente. Depois que o cão é doado, aí varia muito o custo: vai depender da alimentação, medicação, vacinação."

O consultor explicou que o processo para tornar um cachorro apto a atuar como cão-guia começa na maternidade, uma das seis repartições construídas na área de 15 mil metros quadrados do instituto. Além de ter o pedigree como requisito, é preciso conhecer e fazer o acompanhamento genético de pais e avós dos filhotes.

Na sequência, famílias-guardiãs ficam por 90 dias com os pets. "Já neste período há uma série de estímulos que fazemos nesses cães, reproduzindo o ambiente de uma casa, com cômodos, móveis e eletrodomésticos, para eles se acostumarem desde o nascimento com o ambiente em que vão viver. Têm contato com pessoas 24h por dia e recebem estímulos em escada, rampa, texturas e sons para depois a transição para a sociedade ser muito mais fácil", explicou Murilo.

O próximo passo é a socialização, também com voluntários. "As famílias socializadoras vão ficar com o cão por um ano e ensinar uma série de regras: como se comportar dentro e fora de casa, como não comer os móveis, como se comportar num restaurante. Damos todo o suporte à família, orientando-a, e dando mais responsabilidade para ele, aumentando um pouco o nível de dificuldade até que esteja preparado para trabalhar em qualquer situação e ambiente."

Murilo ressaltou, porém, que "um dos fatores que tornam esse processo tão complexo e caro é que nem todos vão se tornar cães-guias", em razão de comportamento, falta de vocação, problemas de saúde ou riscos de desenvolver doenças.

O candidato a ser usuário de cão-guia também precisa passar por algumas etapas de seleção, que incluem cadastro e avaliação técnica, em que terá verificados desde a velocidade com que anda, sua altura e peso, até sua personalidade e rotina, "para ver qual cão vai se encaixar melhor com a pessoa".

O período de adaptação dura um mês: metade no hotel mantido pelo instituto, em que o usuário "vai aprender todos os cuidados diários do cão, até como trabalhar com ele", e os outros 15 dias na casa da pessoa, para que o animal se adapte à rotina dela, até alcançarem "autonomia, liberdade e segurança".

Chega, então, o momento de o cão ser oficialmente doado ao seu tutor. "Seguimos acompanhando essa dupla até a aposentadoria do cão, com 8, 9 anos. Ele se aposenta e a pessoa retorna para a fila para substituir esse cão, para que não fique desassistida."

"A aposentadoria é uma decisão conjunta do instrutor e do usuário, quando percebemos que o cão começa a ficar cansado, fadigado. Depois, ele geralmente fica com a pessoa com quem trabalhou ou com alguém próximo a ela ou, em último caso, volta para o instituto, onde buscamos uma família de adoção", completou Murilo.

De acordo com o consultor, para passar a contar com um cão-guia é imprescindível que a pessoa tenha mobilidade e seja capaz de "encontrar referências sem adesão e usar outros sentidos para entender o ambiente à sua volta, pois isso vai servir como base para o trabalho do cão-guia".

Respondendo a uma pergunta dos internautas que acompanharam a palestra on-line, Murilo reforçou a orientação de como se portar ao se deparar com um tutor e seu cão-guia. "Sempre pedimos, para quando encontrar um cão-guia trabalhando, evitar interagir de qualquer forma com o cão e comunicar-se com a pessoa, não com o cão, para não tirar o foco dele no trabalho", recomendou.

Coordenador da Escola do Legislativo, o vereador Pedro Kawai (PSDB) elogiou a atuação de Murilo e as ações desenvolvidas pelo instituto. Acessível, a palestra on-line contou com a participação do intérprete de libras Thiago Laubstein, da Câmara.



Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918


Escola do Legislativo

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