25 de julho de 2025
‘Dia dos Avós’: uma homenagem no Calendário de Eventos Oficiais
Instituída em Piracicaba no ano de 2002, data carrega um significado religioso ao celebrar o pai e a mãe de Maria, avós de Jesus
Talvez os piracicabanos e as piracicabanas não saibam, mas neste sábado (26) é celebrado o “Dia Municipal dos Avós”. Esta história, cheia de curiosidades, é o destaque desta semana da série “Achados do Arquivo”, uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba.
O ano era 2001, e o então vereador José Benedito Lopes protocolou, exatamente no dia 26 de julho (sim, dia da homenagem, coincidência, não?), o Projeto de Lei 138/2001, que incluía o Dia dos Avós no Calendário de Eventos Oficiais do Munícipio de Piracicaba. A justificativa apresentada pelo autor do projeto se deu da seguinte maneira:
“Este projeto visa, incluir o "Dia dos Avós" no calendário de eventos oficiais com a finalidade de dar uma ênfase especial a todos os avós piracicabanos e contribuir assim com o comércio local, para que o mesmo passe a vender mais devido esta comemoração, pois nossos avós são nossos segundo pais, e mais que ninguém, merecem nossa homenagem e atenção.”
Inicialmente, o projeto de lei trazia a seguinte redação:
Art. 1º - Fica incluído, no Calendário de Eventos Oficiais do município o “Dia dos Avós”, a ser comemorado anualmente no dia 26 de julho.
Art. 2º - O município, na medida de suas possibilidades, através dos órgãos competentes, providenciará para que ocorra a integração dos avôs com comunidade, nas escolas, associações comunitárias e outras entidades afins.
Art. 3º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Ao tramitar pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação (CLJR), o projeto recebeu uma emenda, com vistas a melhor adequação da propositura. Foi alterado o artigo 2º, com a seguinte redação:
Art. 2º - Nos dias que antecedem o "Dia dos Avós", será desenvolvida uma programação no sentido de integração dos mesmos com a comunidade, junto às escolas, associações comunitárias e outras entidades afins.
Seguindo o rito legislativo, após também tramitar pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, que julgou o projeto como favorável, este seguiu para apreciação do plenário da Casa Legislativa, sendo aprovado em 1º e 2ª discussão. Foi então, que no dia 7 de março de 2002, o então prefeito José Machado sancionou e promulgou a Lei 5.106/2002, que tinha como intuito e justificativa promover inicialmente o estímulo do comércio e valorização daqueles que eram avós.
A origem desta data possui cunho religioso e cristão, quando o Papa Paulo VI (1963-1978), para homenagear São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e avós de Jesus, instituiu o 26 de julho como homenagem. Não há registros bíblicos citando suas existências, o que se sabe é que são citados no Evangelho apócrifo de São Tiago – aqui vale uma nota: evangelhos apócrifos são os que não foram incluídos na Bíblia. O fato, porém, não impossibilitou que viessem a ser reconhecidos pela Igreja Católica como pais de Maria. Ambos foram canonizados no Século 16 pelo papa Gregório VIII e, segundo a tradição cristã, por meio de uma ação milagrosa, o casal concebeu Maria.
No mundo, o primeiro país a instituir a comemoração do Dia dos Avós também nesta data foi Portugal, a partir de 2003 (em consonância com a data católica), após uma campanha que se tornou famosa em todo o país: uma senhora avó de seis netos, Ana Elisa Couto (1926-2007), liderou um movimento pela criação de uma data que homenageasse os avós. Na década de 1980, ela julgava que ninguém valorizava os avós, decidiu então se tornar uma militante da causa. Ana Elisa então viajou ao Brasil, França, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, entre outros, sempre defendendo que se valorizasse e comemorasse o Dia dos Avós. Atualmente, ela possui uma placa afixada em praça pública em sua cidade natal, Penafiel, na região do Porto, em lembrança e homenagem a sua militância.
Em 2021, no auge da pandemia da Covid 19, Papa Francisco deixou uma extensa mensagem para o I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, cujo o tema escolhido foi “Eu estou contigo todos os dias” (cf. Mt. 28,20), de modo a expressar a proximidade do Senhor e da Igreja na vida de cada idoso, em especial, naquele período pandêmico. Daquela mensagem, destaca-se os seguintes trechos:
“No Evangelho de Mateus, Jesus diz aos Apóstolos: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (28, 19-20). Estas palavras são dirigidas também a nós, hoje, e ajudam-nos a entender melhor que a nossa vocação é salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Atenção! Qual é a nossa vocação hoje, na nossa idade? Salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Não vos esqueçais disto. [...] O futuro do mundo está nesta aliança entre os jovens e os idosos. Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los por diante? Mas, para isso, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro. [...] Penso como pode ser de grande valor a memória dolorosa da guerra, e quanto podem as novas gerações aprender dela a respeito do valor da paz. E, a transmitir isto, és tu que viveste a tribulação das guerras. Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros. Segundo Edith Bruck, que sobreviveu à tragédia do Holocausto, «mesmo que seja para iluminar uma só consciência, vale a pena a fadiga de manter viva a recordação do que foi…”
Já em outros países, como a Itália, Estônia, Austrália e Canadá, a data é desvinculada da Igreja Católica, focando a data no aspecto civil, sendo comemorado nos meses de outubro e novembro. No Brasil, a data é adotada popularmente, não constando a existência de nenhuma lei federal que a institui em algum calendário oficial ou como data comemorativa. Já em nível estadual, a Lei 4.370, de 9 de novembro de 1984, adota, provavelmente, a premissa civil, tal como os países que não seguiram o 26 de julho para esta homenagem. A lei, neste caso, instituiu o 1º domingo do mês de outubro como dia a ser comemorado. À época da criação da lei, o então deputado estadual Hatiro Shimomoto, por meio do projeto de lei 345/1984, não cita em sua justificativa nenhum aspecto religioso acerca da instituição da data em âmbito estadual, pelo contrário, na justificativa do projeto, exalta-os, conforme os trechos destacados a seguir:
Quem não se lembra daquele velhinho risonho camarada que nos ensinou empinar la pipa e a pescar nosso primeiro peixe? E quem não se lembra daquela velhinha carinhosa que nos preparava bolos e doces quando a visitávamos nos fins-de-semana e que rodeávamos para ouvir suas belas histórias? Estou me referindo aquele casal simpático que, apesar dos seus cabelos brancos das costas curvadas pela idade, maior exemplo de humanidade e amor à Vida. A homenagem que estamos propondo é justamente para nossos avós. Vovô e Vovó, [...] são pessoas a quem devemos a nossa própria existência, pois sem eles nossos pais não existiriam e, portanto, nós também não estaríamos aqui. [...] Por que não consagrar, então, uma data, certamente muito festiva, para homenageá-los? Aprovado este Projeto de Lei, estaria este Poder manifestando todo carinho e o respeito do povo paulista para com seus antepassados.
De uma forma ou de outra, seja para estimular o comércio, seja para homenagear e valorizar, ou apenas para estimular a interação social entre as diferentes gerações, criando assim uma consciência e reflexão acerca do envelhecimento humano, esta data é uma oportunidade fundamental para demonstrar carinho e gratidão aos avós e aos idosos, reconhecendo o papel primordial que eles desempenham na vida das famílias e da sociedade, onde transmitem não só valores, histórias, memórias e cultura, mas, sobretudo, experiências que são vivas daquilo que (se) foi.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.
Pesquisa: Dayane Cristina Soldan
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