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28 DE NOVEMBRO DE 2022

Acolhimento é fundamental para prevenção ao suicídio de adolescentes


Na última sexta-feira (25), o psicólogo Sérgio de Oliveira Santos ministrou palestra on-line sobre os cuidados com a saúde mental de adolescentes



EM PIRACICABA (SP)  

O palestrante defendeu um tripé na prevenção da autolesão e do suicídio de adolescentes: "escutar, acolher e transfor(amar)"

O palestrante defendeu um tripé na prevenção da autolesão e do suicídio de adolescentes: "escutar, acolher e transfor(amar)"

A vereadora Silvia Morales fez a abertura do evento

A vereadora Silvia Morales fez a abertura do evento
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O palestrante defendeu um tripé na prevenção da autolesão e do suicídio de adolescentes: "escutar, acolher e transfor(amar)"





Na manhã da última sexta-feira (25), a Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba promoveu a palestra “Como lidar com nossos adolescentes na atualidade: perspectiva para a prevenção do suicídio e a autolesão”, realizada de forma on-line através do aplicativo Zoom, com transmissão simultânea para o YouTube.

A vereadora Silvia Morales (PV), do Mandato Coletivo “A Cidade É Sua” e diretora da Escola do Legislativo, fez a abertura da atividade, recepcionando as cerca de 80 pessoas que acompanharam o encontro simultaneamente. “A Escola tem o objetivo de trazer a participação popular, fazer a formação cidadã das pessoas, lideranças e sociedade em geral”, apresentou a parlamentar. Entre os participantes e telespectadores, estiveram pessoas de outras cidades do interior de São Paulo, bem como de Santa Catarina, Bahia, Mato Grosso e Amapá.

O facilitador do encontro foi o psicólogo e suicidólogo Sérgio de Oliveira Santos, mestre e doutor em Educação, que buscou, a partir da elucidação do conceito de adolescência, apresentar ferramentas para que pais, cuidadores e educadores possam zelar pela saúde mental dos jovens.

Utilizando-se da neuroanatomia, Santos definiu que a adolescência pode ser considerada como o período dos 12 aos 30 anos, tendo em vista que o cérebro conclui seu desenvolvimento – atingindo, portanto, a idade adulta – entre os 25 e 30 anos de idade. A definição que a legislação adota, no entanto, a partir da lei 8069/1990, considera o período entre os 12 e os 18 anos.

O psicólogo destaca que o “volátil” conceito de adolescência nem sempre existiu: ele passou a ser adotado entre os anos 1920 e 1930, quando as funções sociais passaram a ser restabelecidas por mudanças socioeconômicas ao redor do planeta. A partir deste momento, os jovens começaram a adentrar o mercado de trabalho mais tardiamente, possibilitando o que o palestrante classificou como “um modo novo de perceber e conceber o ser humano”.

Para as pessoas que assistiam à palestra, Santos definiu a adolescência como “um furacão de afetos, desafetos e afetações”. Caso a relação com os educadores tenha sido perpassada por comportamentos e falas violentas, o adolescente pode vir a reproduzi-las, inclusive contra si mesmo, como nos casos de autolesão e suicídio. 

A tese do psicólogo é que a formulação da pergunta motivadora do encontro talvez deva ser outra. “Como lidar? A palavra ‘lidar’ coloca a ideia de luta, combate com os adolescentes. Não lide”, defendeu o profissional. A partir de referências da música pop e do conceito de “geração do quarto”, definido pelo professor Hugo Monteiro Ferreira – que estuda a geração de jovens brasileiros que passam por intenso sofrimento psíquico isolados em seus quartos, fazendo uso excessivo de tecnologia e praticamente sem manter contato com as pessoas que moram em suas casas – Santos apresentou sua proposta de intervenção para a prevenção a comportamentos autodestrutivos, que se baliza em um tripé: escutar, acolher e o que ele chama de “transfor(amar)”, ou seja, transformar a partir do amor. Para ele, os adultos precisam compreender que, assim como os adolescentes, eles também estão em processo de aprendizagem, adquirindo, assim, uma postura “saudável” e “empática”.

Santos defende que a compreensão deve passar também pelo âmbito fisiológico, com o entendimento da diferença cerebral entre jovens e adultos formados. “Por eles ainda não terem uma maturação completa do sistema cerebral, não conseguem tomar decisões muito bem racionalizadas, calculadas. Eles partem para trabalhar com o sistema rápido de recompensas, o que pode gerar abuso de álcool e outras drogas”, esclareceu. Além disso, o suicidólogo explicou que o estágio de maturação do cérebro pode tornar mais difícil aos adolescentes o processamento das emoções.

A “geração do quarto”, segundo o psicólogo, expressa seus sentimentos cada vez mais intensamente, com muita impulsividade. “São adolescentes que não escondem muito a insatisfação junto ao mundo”, afirmou Santos. Para o suicidólogo, a motivação da inclinação dos jovens ao suicídio é multifatorial, mas, em geral, aqueles que têm ideações suicidas e pretendem praticá-lo dão “avisos” que o farão.

Na perspectiva da prevenção aos comportamentos autodestrutivos, Santos acredita que cabe aos adultos ajudar os jovens a construírem ferramentas para lidar com as emoções e fortalecerem a autoestima. “Que os adolescentes possam se voltar a nós, não porque somos super-heróis, ou porque temos a resposta para todas as perguntas. Mas porque, a partir do amor, conseguimos nos comunicar com eles”, desejou.

A palestra na íntegra pode ser conferida no vídeo disponibilizado nesta página.

 



Texto:  Laura Fedrizzi Salere
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583


Escola do Legislativo Silvia Maria Morales

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