
03 DE DEZEMBRO DE 2014
Ação promovida por André Bandeira na praça José Bonifácio convidou pessoas a experimentarem as mesmas limitações de um deficiente físico ou visual ao andar pelo Centro.
Júlia, de olhos vendados e ao lado de uma amiga, e Israelle, ao fundo, junto com André Bandeira, encaram o desafio no Dia Municipal e Mundial da Pessoa com Deficiência
Não demorou vinte minutos para que o sorriso no rosto de Israelle Classere, 17, desse lugar a um semblante fechado, ofegante. O que parecia ser uma brincadeira que renderia alguns cliques para o perfil no Facebook virou lição para toda a vida, após a estudante experimentar como é locomover-se numa cadeira de rodas, no Centro da cidade. "Meus braços doem!", desabafou, após vencer "meros" 50 metros cheios de obstáculos.
A proposta de fazer pessoas sem limitações físicas sentirem "na pele" as dificuldades enfrentadas nas ruas de Piracicaba por quem tem deficiência física ou visual atraiu os olhares de quem passou pela praça José Bonifácio, na tarde desta quarta-feira (3). A ação, promovida pelo vereador André Bandeira (PSDB), marcou o Dia Municipal e Mundial da Pessoa com Deficiência.
Assim como em 2013, quando o entorno da mesma praça foi palco de uma mobilização para conscientizar os motoristas a respeitarem vagas de estacionamento reservadas às pessoas com deficiência, a atividade deste ano também propôs uma reflexão diante das barreiras que essa parcela da população encontra ao circular pelas ruas de Piracicaba.
Antevendo as dificuldades que a experiência geraria, parte de um grupo de nove estudantes do curso técnico em administração do Senac que caminhava pelo Centro recuou do convite de participar do desafio. Coube, então, a Israelle e Júlia Alves, 16, a missão de sair do meio da praça, atravessar a rua Boa Morte pela faixa de pedestres e chegar ao caixa eletrônico da agência central da Caixa Econômica Federal.
Antes de começar, Israelle perguntava o que aconteceria se caísse da cadeira de rodas ––situação não rara para quem lida com essa condição no dia a dia. Já Júlia, que iria fazer o percurso com os olhos vendados e a ajuda apenas de uma bengala, simulando a realidade de um deficiente visual, queria saber se suas amigas poderiam acompanhá-la ––a elas, era permitido apenas ficar na retaguarda, sem tocar nem orientar Júlia.
Acompanhadas de perto por André Bandeira, as duas jovens voluntárias conseguiram chegar ao caixa eletrônico, mas a duras penas. "Nossa, achei muito difícil! Teve horas em que eu me perdia, não sabia o que eu estava tocando, nem para onde ia. Fiquei apavorada, achei que seria atropelada! Foi uma experiência incrível!", comentou Júlia, ao término do desafio.
Já os braços de Israelle tremiam após o esforço de conduzir a cadeira de rodas, principalmente para vencer as quatro rampas do trajeto. "Foi difícil e interessante. Forçou muito o meu braço. Sozinha eu não conseguiria subir", disse ela, que acabou contando com um "empurrãozinho" de uma amiga para vencer a rampa de acesso à Caixa.
Até as jornalistas Stefanie Archilli e Adriana Ferezim, que cobriam o ato, respectivamente, pelo "Jornal de Piracicaba" e pela "Gazeta de Piracicaba", toparam participar da experiência. Ao final, Stefanie, que sentiu as limitações encontradas por um deficiente visual, e Adriana, que viu como é andar pela cidade numa cadeira de rodas, corroboraram as impressões relatadas por Júlia e Israelle.
Para André Bandeira, a reflexão proposta pela ação realizada na praça José Bonifácio mostra que ainda há muito o que fazer em Piracicaba nessa área. "As pessoas que participaram desse desafio enfrentaram várias dificuldades comuns à pessoa com deficiência: insegurança, medo do que encontrariam pela frente, falta de acessibilidade das rampas. Por isso, é fundamental que o Poder Público faça seu papel, que a sociedade comece a se conscientizar e que a população respeite essas pessoas."