03 de novembro de 2025

"Perdas Humanas": exposição abre semana em memória às vítimas do Comurba

Exposição com fotos e dados sobre as vítimas da queda do Edifício Luiz de Queiroz, em 1964, foi inaugurada nesta segunda (3), no Poupatempo, na Praça José Bonifácio

Foi inaugurada na tarde desta segunda-feira (3), no Poupatempo Piracicaba, na Praça José Bonifácio, centro, a exposição “Perdas Humanas - Edifício Luiz de Queiroz (Comurba)”, que por meio de fotos, informações e gráficos, traz à luz parte da história das 48 pessoas oficialmente mortas na queda do icônico edifício, ocorrida em 6 de novembro de 1964, no local onde hoje se encontra o Poupatempo.

O levantamento fotográfico é obra do psicólogo Eduardo Nalin, que junto com o grupo ECO 64, formado por parentes das vítimas da tragédia, busca por meio da exposição apresentar a história àqueles que não a conhecem e, ao mesmo tempo, ressignificar individualmente e coletivamente o impacto da queda do Comurba. 

A exposição, aberta ao público até o dia 6 de dezembro, durante o horário de funcionamento do Poupatempo, está inserida na "Semana em Memória das Vítimas do Edifício LuizdeQueiroz - Comurba", instituída oficialmente por meio do decreto legislativo 61/2025, de autoria da vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua. A montagem da exposição contou também com a participação de Pablo Carajol, do mandato coletivo.

Rompendo um silêncio em silêncio - “Essa é a primeira semana instituída em memória às vítimas, e o que nos mobilizou para a exposição foi justamente a necessidade de trazer para a cidade o conhecimento do que aconteceu. O mais incrível é que nós estamos conseguindo trazer simbolicamente as vítimas de volta ao local da tragédia. Isso depois de 61 anos. É algo que vai muito além do trabalho da pesquisa em si. Esse ambiente, esse lugar na cidade é muito especial dentro de tudo o que aconteceu, e do silêncio até então que veio nas últimas décadas. Nós estamos rompendo um silêncio em silêncio. Acho que essa é a maior sacada”, disse Nalin, que frisou que toda a pesquisa e montagem da exposição foi feita de forma voluntária. 

“O desabamento desse prédio, com várias vítimas, foi uma uma tragédia que marcou muito o estado, o país, porém, não teve uma continuidade, uma visibilidade da importância de se resgatar essa história, a história dos mortos, das famílias dos mortos. E agora, depois de 61 anos, a gente traz essa semana, que tem como objetivos promover debates, trazer visibilidade ao assunto e prestar homenagens às vítimas”, acrescentou Silvia Morales, que também é autora da Lei 10.191, de 8 de novembro de 2024, que Institui um Memorial às Vítimas do Edifício LuizdeQueiroz - Comurba, na Praça José Bonifácio, nas proximidades do Poupatempo Estadual. 

A construção do memorial, cujo projeto foi elaborado por voluntários e conta com apoio da iniciativa privada, ainda é aguardada.  

Se as fotos dos falecidos, seus nomes e causa de suas mortes impactam àqueles que não tiveram uma relação direta com as vítimas do desabamento, esse impacto é ainda maior para aqueles que perderam um ente querido na tragédia. É o caso de Cláudio José de Oliveira Campos, que desde os 10 meses de idade convive com a ausência de seu pai, Lázaro de Oliveira Campos, servente de pedreiro, que aos 28 anos foi soterrado pelo edifício que então ajudava a construir. 

“É uma história triste, mas ainda sem um fechamento. Então, todo esse trabalho que está sendo feito, é de certa forma uma sublimação do sofrimento das vítimas, que transforma em algo bom, que a gente espera que venha a se concretizar com o memorial na praça. E junto com o memorial essas lembranças, porque essas pessoas ficaram soterradas desde então. E isso representa também eles retornando a esse espaço onde eles faleceram e também, de certa forma, tirando eles do anonimato. Muito se falou sobre o prédio ao longo do tempo, mas a memória dessas pessoas foi apagada”, falou.

“A exposição Perdas humanas vem cumprir uma função de refletir sobre essa tragédia que chocou a cidade, e que por muitos anos, por décadas, acabou não tendo o devido tratamento historiográfico e documental. Portanto, trazer ao público pesquisas e estudos sobre essa tragédia, é muito importante para a memória e até para a relação de dor e de tristeza que envolveu a queda do Comurba”, pontuou Pablo Carajol. 

Programação - A Semana em Memória das Vítimas do Edifício Luiz de Queiroz - Comurba, além da exposição no Poupatempo, também contará com a Roda de Conversa "Comurba - Perdas humanas", promovida pela Escola do Legislativo da Câmara, que acontece presencialmente, nesta quarta-feira (5), a partir das 14 horas, no Museu Prudente de Moraes, na rua Santo Antonio, 641, centro. Mais informações podem ser obtidas aqui

Na quinta-feira (6), às 19 horas, no Instituto Beatriz Algodoal, na rua R. São José, 446, Centro, haverá a exibição de uma entrevista gravada com Eduardo Nalin, em que ele aborda o trabalho de recuperação das memórias das vítimas do Comurba.

E, no dia 14 de novembro, sexta-feira, haverá uma visita ao Cemitério Saudade, guiada pelos historiadores Mauricio Beraldo e Paulo Tot Pinto, autores do livro "Somos Todos Iguais", com foco nos túmulos das vítimas do Comurba. 

ECO 64 - Familiares das vítimas do desabamento do Comurba podem participar do grupo Eco 64. As reuniões, mediadas por Eduardo Nalin, acontecem quinzenalmente em uma sala cedida pela Catedral de Santo Antônio. Os interessados devem procurar a secretaria da Catedral. 

Texto: Fabio de Lima Alvarez - MTB 88.212
Supervisão: Rodrigo Alves - MTB 42.583

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