PIRACICABA, QUINTA-FEIRA, 25 DE ABRIL DE 2024
Aumentar tamanho da letra
Página inicial  /  Webmail

10 DE JUNHO DE 2020

Paisagismo florestal conserva a biodiversidade, destaca pesquisadora


Em aula virtual oferecida pela Escola do Legislativo, engenheira florestal destacou vantagens do estilo disseminado no país por Roberto Burle Marx.



EM PIRACICABA (SP)  

Salvar imagem em alta resolução


O risco de o paisagismo tradicional acarretar a perda da biodiversidade nativa de uma região e gerar estranhamento às pessoas quando em contato com a natureza "real" foi abordado pela engenheira florestal Marcela Minatel Locatelli na sétima palestra do ciclo "Silvicultura urbana: plantar, avaliar e manejar", oferecido gratuitamente pela Escola do Legislativo, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, na tarde desta quarta-feira (10).

Marcela defendeu o paisagismo ecológico como solução. A pesquisadora, que tem mestrado e cursa doutorado na área, relacionou, entre as vantagens desse estilo, sua contribuição para a conservação da biodiversidade, o risco menor de invasões biológicas, o melhor custo de implantação e manutenção (em virtude da fácil adaptação das espécies às condições ambientais) e seu forte potencial educativo.

A engenheira florestal também listou, por outro lado, os aspectos que pesam contra o paisagismo tradicional: a baixa diversidade de espécies empregadas, a reduzida qualidade ambiental e o uso predominante de espécies exóticas. Ao contrário das espécies nativas (que podem ser nacionais ou regionais), as exóticas, ponderou Marcela, "fogem do controle do ser humano, invadindo espaços e causando prejuízos".

Ela citou como exemplo as palmeiras, que, em um parque de São Paulo (SP), estavam agindo como invasoras e ameaçando a Mata Atlântica restante no local. "Em geral, são espécies muito vigorosas e que acabam sufocando as plantas, podendo diminuir a diversidade de florestas", disse a doutoranda.

Marcela usou o conceito de "jardins fast food" para caracterizar o paisagismo que é "igual no mundo inteiro". "Quando seguimos a moda, as paisagens ficam todas iguais, há perda da biodiversidade nativa e o distanciamento das pessoas em relação à natureza, levando-as a estranharem as florestas", disse, acrescentando que tal cenário reforça a responsabilidade do paisagista de trazer para a cidade o ambiente da floresta, desconhecido pela maior parte de uma população que, no mundo, é 83% urbana.

O paisagismo ecológico (também chamado de ecossistêmico, ambiental ou sustentável), segundo a pesquisadora, deve priorizar as espécies nativas da região, principalmente as ameaçadas de extinção, usar uma grande diversidade de espécies e manter as plantas já existentes no terreno, "pois existem outras associadas a elas".

O estilo também deve evitar empregar espécies exóticas, invasoras ou tóxicas; usar espécies com flores e frutos atrativos para a fauna; mesclar diferentes formas de vida (como árvores, arbustos, ervas e trepadeiras); pensar na heterogeneidade dos ambientes (lançando mão de jardins verticais e trechos com água); e garantir que o paisagismo forneça, ao longo de todo o ano, alimentos para a fauna que depende da vegetação.

O manejo também obtém mais vantagens com a opção pelo paisagismo ecológico, de acordo com Marcela: há diminuição no uso de herbicidas, pesticidas e fertilizantes químicos e redução no hábito de substituir as plantas, como é comum observar, como destacou a engenheira florestal, na manutenção feita pelo Poder Público em canteiros. "Há um desperdício de plantas, mão de obra e tempo", resumiu.

O conceito de paisagismo ecológico ganhou força no Brasil com Roberto Burle Marx, pioneiro no país na década de 1950, e depois com Fernando Chacel, que promoveu "uma releitura da paisagem natural nos jardins". Mas, como salientou a pesquisadora, "parece que os ensinamentos desses mestres foram esquecidos". Hoje, iniciativas para retomar o estilo são vistas em projetos como o "Florestas de Bolso", desenvolvido na capital paulista e que busca "trazer a floresta para dentro da cidade".

Cerca de 50 pessoas acompanharam, por meio da plataforma virtual Zoom e do canal da Escola do Legislativo no Youtube, a aula dada voluntariamente por Marcela, que, ao final da apresentação, respondeu a perguntas dos internautas. Diretora da Escola do Legislativo, a vereadora Nancy Thame (PSDB) elogiou o conteúdo compartilhado e fez o convite às pessoas para também assistirem às duas últimas aulas do curso, que ocorrerão ainda neste mês.



Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918


Escola do Legislativo Nancy Thame

Notícias relacionadas