
10 DE JUNHO DE 2020
Em aula virtual oferecida pela Escola do Legislativo, engenheira florestal destacou vantagens do estilo disseminado no país por Roberto Burle Marx.
O risco de o paisagismo tradicional acarretar a perda da biodiversidade nativa de uma região e gerar estranhamento às pessoas quando em contato com a natureza "real" foi abordado pela engenheira florestal Marcela Minatel Locatelli na sétima palestra do ciclo "Silvicultura urbana: plantar, avaliar e manejar", oferecido gratuitamente pela Escola do Legislativo, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, na tarde desta quarta-feira (10).
Marcela defendeu o paisagismo ecológico como solução. A pesquisadora, que tem mestrado e cursa doutorado na área, relacionou, entre as vantagens desse estilo, sua contribuição para a conservação da biodiversidade, o risco menor de invasões biológicas, o melhor custo de implantação e manutenção (em virtude da fácil adaptação das espécies às condições ambientais) e seu forte potencial educativo.
A engenheira florestal também listou, por outro lado, os aspectos que pesam contra o paisagismo tradicional: a baixa diversidade de espécies empregadas, a reduzida qualidade ambiental e o uso predominante de espécies exóticas. Ao contrário das espécies nativas (que podem ser nacionais ou regionais), as exóticas, ponderou Marcela, "fogem do controle do ser humano, invadindo espaços e causando prejuízos".
Ela citou como exemplo as palmeiras, que, em um parque de São Paulo (SP), estavam agindo como invasoras e ameaçando a Mata Atlântica restante no local. "Em geral, são espécies muito vigorosas e que acabam sufocando as plantas, podendo diminuir a diversidade de florestas", disse a doutoranda.
Marcela usou o conceito de "jardins fast food" para caracterizar o paisagismo que é "igual no mundo inteiro". "Quando seguimos a moda, as paisagens ficam todas iguais, há perda da biodiversidade nativa e o distanciamento das pessoas em relação à natureza, levando-as a estranharem as florestas", disse, acrescentando que tal cenário reforça a responsabilidade do paisagista de trazer para a cidade o ambiente da floresta, desconhecido pela maior parte de uma população que, no mundo, é 83% urbana.
O paisagismo ecológico (também chamado de ecossistêmico, ambiental ou sustentável), segundo a pesquisadora, deve priorizar as espécies nativas da região, principalmente as ameaçadas de extinção, usar uma grande diversidade de espécies e manter as plantas já existentes no terreno, "pois existem outras associadas a elas".
O estilo também deve evitar empregar espécies exóticas, invasoras ou tóxicas; usar espécies com flores e frutos atrativos para a fauna; mesclar diferentes formas de vida (como árvores, arbustos, ervas e trepadeiras); pensar na heterogeneidade dos ambientes (lançando mão de jardins verticais e trechos com água); e garantir que o paisagismo forneça, ao longo de todo o ano, alimentos para a fauna que depende da vegetação.
O manejo também obtém mais vantagens com a opção pelo paisagismo ecológico, de acordo com Marcela: há diminuição no uso de herbicidas, pesticidas e fertilizantes químicos e redução no hábito de substituir as plantas, como é comum observar, como destacou a engenheira florestal, na manutenção feita pelo Poder Público em canteiros. "Há um desperdício de plantas, mão de obra e tempo", resumiu.
O conceito de paisagismo ecológico ganhou força no Brasil com Roberto Burle Marx, pioneiro no país na década de 1950, e depois com Fernando Chacel, que promoveu "uma releitura da paisagem natural nos jardins". Mas, como salientou a pesquisadora, "parece que os ensinamentos desses mestres foram esquecidos". Hoje, iniciativas para retomar o estilo são vistas em projetos como o "Florestas de Bolso", desenvolvido na capital paulista e que busca "trazer a floresta para dentro da cidade".
Cerca de 50 pessoas acompanharam, por meio da plataforma virtual Zoom e do canal da Escola do Legislativo no Youtube, a aula dada voluntariamente por Marcela, que, ao final da apresentação, respondeu a perguntas dos internautas. Diretora da Escola do Legislativo, a vereadora Nancy Thame (PSDB) elogiou o conteúdo compartilhado e fez o convite às pessoas para também assistirem às duas últimas aulas do curso, que ocorrerão ainda neste mês.