
26 DE OUTUBRO DE 2010
Familiares, vizinhos e amigos da estudante Jessica Philipp Giusti fizeram uma passeata até a Câmara para pedir por justiça. A manifestação, realizada no início da n (...)
O sol estava se pondo na tarde da última segunda-feira, 25, quando dezenas de pessoas promoveram uma passeata no Centro de Piracicaba em protesto pela morte da universitária Jessica Philipp Giusti. No meio de cartazes que pediam a apuração rigorosa do caso, uma mulher se destacava. Simone Phillip Monteiro, mãe de Jessica, carregava no colo o cachorro Palito, o mesmo que a estudante tanto adorava e com o qual protagonizara a foto que estampava as camisetas usadas na manifestação.
Cabelos jogados à direita e dona de sorriso reluzente, Jessica, de 21 anos, morava há alguns meses em Três Rios (RJ), cidade que abriga um câmpus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Estava quase na metade do caminho que a tornaria bacharel em Direito: ela, que queria ser motivo de orgulho para os pais, era tida como uma das melhores alunas da turma do segundo período.
Tinha passado a semana em Piracicaba, por ocasião dos dias da Criança e do Professor, e voltava a Três Rios de ônibus. Como a distância entre a família e o sonho de Jessica era longa (cerca de 600 quilômetros), a viagem era feita à noite, com chegada por volta das 5 horas da manhã do outro dia. Jessica morava sozinha, a algumas quadras do Terminal Rodoviário Arsonval Macedo, onde desembarcara no último dia 18, logo cedo --por conta do início do horário de verão, o sol ainda não havia nascido.
PASSEATA
O brilho do sorriso da estudante, que familiares, vizinhos e amigos carregavam no peito, também estampava cartazes ao lado de frases como “Queremos paz no mundo! Jéssica, você está em nossos corações! Te amamos!”. Um cartaz pedia “Firmeza, força, coragem”, enquanto outros perguntavam: “Até quando assassinos ficarão impunes?” ou “Cadê a Justiça de nosso país?”.
A passeata, que teve início na praça José Bonifácio, em frente à Catedral de Santo Antonio, terminou no prédio da Câmara de Vereadores. Com gritos de "Queremos justiça!", o grupo de cerca de 200 pessoas foi recebido pelo presidente da Casa, José Aparecido Longatto (PSDB).
Já no plenário, nove familiares ocuparam a Mesa-Diretora para acompanhar a leitura da moção de apelo a ser entregue ao Governo do Rio de Janeiro. A sessão ordinária foi suspensa para acolher a manifestação, que despertou o interesse de vários jornais e TVs de Piracicaba e região.
Após a oração do Pai-Nosso, o pai de Jessica, Ângelo Tadeu Giusti, foi à tribuna. De olhos fechados, disse aceitar a vontade de Deus e ser um soldado que lutará "contra as forças do mal". “Procurarei ser firme, forte e corajoso”, afirmou o engenheiro. A avó da estudante, Úrsula, que tinha uma relação muito estreita com a neta, não conseguiu segurar as lágrimas.
VENTO
Em seguida, foi a vez de a mãe de Jessica falar. Simone Monteiro disse apenas querer achar os verdadeiros culpados pela morte, pois considera difícil o assassinato ter sido cometido por uma só pessoa. “A pior coisa é você ter um filho morto, numa cidade que não é sua e que é considerada calma”, contou, emocionada. “Agradeço a consideração e o apoio da população de Piracicaba, das polícias Civil e Militar e dos vereadores”, afirmou, pedindo ainda que os moradores de Três Rios que tenham alguma pista do caso entrem em contato com a polícia para denunciar.
Outra do grupo a manifestar-se, Laurisa Cortelazzi foi pediatra de Jessica. Na tribuna, citou trechos da música “Blowin´ In The Wind”, composta por Bob Dylan, para depois perguntar: “Quantas pessoas vão precisar morrer para acordarmos de nossa omissão e ver que o ser humano está pedindo socorro?”. Laurisa disse ainda ter orgulho de Piracicaba e saber que “não está órfã”, pois confia no empenho das autoridades do município em exigir o esclarecimento do caso. “Que essa resposta não se perca no vento", concluiu.
ÍNTEGRA DA MENSAGEM DISTRIBUÍDA PELA FAMÍLIA DE JESSICA
"Um anjo em forma de gente passou pelas nossas vidas trazendo luz, paz e serenidade. Mas a vida dela aqui na Terra infelizmente foi só de passagem, pois Deus a quis por perto para aumentar seu exército contra essas forças do mal aqui na Terra! Não tendo mais como poder abraçá-la, nem como poder ver seu sorriso, queremos o mínimo de justiça e que os verdadeiros causadores dessa tragédia voltem pro lugar de onde vieram, pois não podem ser chamados de seres humanos e sim de monstros! Este panfleto pode até ser descartado, mas, com certeza, quem a conheceu e quem entendeu a forma de viver de Jessica nunca vai tirá-la do coração! Sempre amaremos você esteja onde estiver! Sua família."
TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918
FOTOS: Gustavo Annunciato / MTB 58.557