
26 DE AGOSTO DE 2011
A Etec da Paulista recebeu, na noite desta quinta-feira, alunos, professores, funcionários e visitantes para uma palestra sobre acessibilidade e inclusão social com (...)
O auditório da Etec "Dep. Ary de Camargo Pedroso", na Paulista, acolheu, na noite desta quinta-feira (25), um público de 72 pessoas, entre alunos, professores, funcionários e visitantes, para uma palestra sobre acessibilidade e inclusão social com o vereador André Gustavo Bandeira (PSDB). O parlamentar falou sobre como sua vida mudou após o acidente automobilístico que o deixou tetraplégico, respondeu a perguntas da plateia e, ao final do bate-papo, desafiou cinco alunos do colégio técnico no tênis de mesa, ganhando de todos.
O evento fez parte da 6ª Semana de Acessibilidade e Inclusão, promovida pelo Fórum Municipal Permanente da Pessoa com Deficiência, de iniciativa de Bandeira. Na noite desta sexta-feira (26), será a vez de a Faculdade Anhanguera receber o vereador para a palestra "Inclusão e Acessibilidade", com início às 19h30. A entrada é gratuita.
A 6ª Semana, que foi aberta na última segunda-feira (22), se encerra neste sábado (27), com uma caminhada no Centro de Piracicaba. O ciclo de atividades, que já teve debates e a apresentação da peça teatral "Noturno Cadeirantes", é uma realização da Câmara de Vereadores de Piracicaba e conta com o apoio da Prefeitura, da Secretaria Municipal da Ação Cultural, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), da Anhanguera Educacional, da Elring Klinger, da Etec Paulista e do Shopping Piracicaba.
Ao público que esteve no colégio técnico estadual, na noite desta quinta-feira, Bandeira contou como tem sido sua vida desde que, há 15 anos, foi vítima da imprudência de um motorista embriagado. Na noite de 10 de junho de 1996, uma segunda-feira, Bandeira, então com 21 anos, teve seu carro atingido por outro veículo no cruzamento da avenida Armando Salles de Oliveira com a rua Voluntários de Piracicaba, no Centro. Com a batida, o então estudante de Administração de Empresas teve o pescoço quebrado e lesão em duas vértebras cervicais, fazendo-o perder a sensibilidade do pescoço para baixo.
O período em que permaneceu no hospital, quando chegou a ficar dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), coincidiu com o aniversário de seu pai, em 19 de junho. A maior vontade de Bandeira, na época, era poder simplesmente abraçá-lo, como em ocasiões anteriores. "Vocês não imaginam como é saber como é dar um abraço e não poder fazer isso", disse o hoje vereador, com a voz pausada.
Bandeira afirmou ser um privilegiado por poder ter contado com estrutura e o apoio da família e de amigos em sua recuperação. Com o auxílio de fisioterapia e terapia ocupacional, ele retomou sua vida ––embora num ritmo menos frenético que antes do acidente, quando o jovem conciliava o trabalho com a faculdade, parando em casa apenas no começo da noite para tomar um banho. "Eu via meus pais praticamente apenas nos finais de semana", contou.
Ele aconselhou os jovens que assistiram à palestra na Etec Paulista a não esperarem algo pior acontecer para dedicarem tempo à família. A gratidão que Bandeira tem por seu pai e sua mãe desde que sofreu o acidente automobilístico pôde ser medida recentemente, quando, há dois meses, seu pai passou por uma cirurgia na coluna e precisou de cuidados. O vereador comentou que fazia questão de deixar de lado o que estava fazendo para atender, com satisfação, aos chamados de seu pai.
Bandeira ainda falou sobre como é contar com o auxílio de uma cadeira de rodas. Ele disse não concordar com a expressão "ficar preso à cadeira", com frequência usada por pessoas que se referem a indivíduos que utilizam o equipamento para se locomover. "Dentre todas as dificuldades que enfrento do dia a dia, andar é, com certeza, a menor delas", sentenciou. "Para mim, a cadeira de rodas não é um obstáculo; pelo contrário, ela é a minha maior parceira", completou.
TÊNIS DE MESA
Depois do bate-papo, Bandeira fez uma exibição de tênis de mesa para os alunos do 1º e do 2º semestres do curso de Logística da Etec Paulista acompanharam a palestra sobre acessibilidade e inclusão social. Cinco estudantes toparam o desafio, mas, para que um lado não levasse vantagem sobre o outro, eles tiveram de jogar sentados numa cadeira comum.
Bandeira, então, mostrou como faz para praticar a modalidade. Ele se posiciona com o peito quase colado à linha de fundo da mesa, travando a cadeira de rodas para ter mais estabilidade. Depois, com a ajuda da noiva, retira a aliança de compromisso da mão direita ("Eu jogo solteiro", brincou) e prende nela a raquete de madeira, com uma faixa preta que é passada uma vez sobre a raquete e duas em volta da mão.
No tênis de mesa para cadeirantes, o saque só pode ser feito da linha de fundo ––esta é, aliás, a única diferença em relação à prática tradicional da modalidade. Bandeira tem como pontos fortes o saque e a rebatida curta com efeito, que fazem a bolinha quicar rente à rede do adversário. O vereador, que começou a praticar tênis de mesa para cadeirantes há cinco anos, é um dos principais nomes da modalidade no país, com resultados expressivos em diversas competições. No ano passado, por exemplo, ele obteve o bronze no individual e o ouro por equipes na disputa do Aberto de Tênis de Mesa da Argentina, ajudando a delegação brasileira a conquistar o título do torneio internacional, realizado em Buenos Aires.
A experiência de Bandeira refletiu na brincadeira feita com os alunos da Etec Paulista. Quatro rapazes e uma jovem foram superados com tranquilidade pelo vereador. Um dos oponentes, Fernando Bandoria, de 19 anos, disse ter percebido seus movimentos limitados por jogar sentado numa cadeira.
"Você fica fixo, com a mobilidade reduzida, e percebe a real dificuldade de ficar sentado. É uma outra realidade, uma outra sensação", afirmou o estudante do 2º semestre de Logística, que disse conviver com pessoas com algum tipo de limitação na escola e fora dela. Ele citou o exemplo de um amigo, com deficiência mental, com quem costuma "jogar futebol, ir a festas e sair com a turma depois da missa".
No duelo com Bandeira no tênis de mesa, Fernando, mesmo com 2,02 metros, teve dificuldades em rebater as bolas que vinham com efeito. O estudante e o vereador, aliás, protagonizaram o rali mais longo das cinco disputas da noite, com quase 20 trocas antes de a bolinha sair pela lateral. E adivinhe? Ponto para Bandeira.
TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918
FOTOS: Davi Negri / MTB 20.499