Felipe Tobias, de 9 anos, precisou sentir na pele os efeitos do cerol para parar de usar a mistura feita de cola e cacos de vidro ao empinar pipa. "Cortei o dedo", diz ele, em voz baixa, como quem hoje se envergonha do hábito deixado para trás.

Já Mireslen Aparecida da Silva, 9, teve de levar três pontos para estancar o sangramento que uma linha com cerol causou em seu pescoço. "Estava brincando no parquinho quando uma linha de pipa me pegou. Chamaram o Samu, e os médicos disseram que se tivesse cortado mais um pouco eu teria morrido."

Embora comuns ainda hoje em bairros afastados do Centro da cidade, episódios como os relatados por Felipe e Mireslen têm diminuído desde que a Câmara começou a promover, em 1999, a Semana Educativa "Pipas Sem Mortes" ––atualmente, uma iniciativa do vereador João Manoel dos Santos (PTB) em parceria com a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras, o Corpo de Bombeiros e a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz).

A edição deste ano foi aberta nesta segunda-feira (20) com a participação de cerca de 70 alunos da Escola Municipal "Professor José Pousa de Toledo", localizada no Bosques do Lenheiro. Por mais de uma hora, os estudantes ouviram de Alfredo Bergman, técnico em segurança do trabalho da CPFL, e de Marcelo Faustino, sargento do 16º Grupamento do Corpo de Bombeiros, dicas e orientações de como empinar pipa de forma segura.

CONSCIENTIZAÇÃO - A constatação de que o número de ocorrências relacionadas às pipas vem caindo foi expressa por Faustino, que participa da Semana Educativa desde a primeira edição, há 17 anos. "De 1999 para cá, tenho percebido que diminuíram os acidentes envolvendo pipas", observou. Para ele, as informações passadas no projeto surtem efeito entre as crianças.

A opinião é compartilhada pela professora Raquel Lopes, da Escola Municipal "Professor José Pousa de Toledo". Segundo ela, o evento promovido pela Câmara "tem muita repercussão" no Bosques do Lenheiro, já que os estudantes que participam do projeto passam a ficar mais atentos "ao que pode e ao que não pode" ser feito quando empinam pipas.

Para João Manoel, a iniciativa reforça o papel da Câmara como "elo entre a comunidade e o Poder Público". "O Legislativo tem essa finalidade, de propiciar a convivência harmônica da população com os poderes e de trazer à Câmara o complemento do que as crianças veem nas escolas, como é o caso de empinar pipas", exemplificou o vereador.