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19 DE ABRIL DE 2021

Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar


Eliana Piacentini, mãe de um jovem de 21 anos com autismo e diretora do IAP, ministrou palestra na Escola do Legislativo, nesta sexta-feira (16).



EM PIRACICABA (SP)  

Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

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Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

Pedro Kawai

Pedro Kawai

Eliana, Thiago, Kawai

Eliana, Thiago, Kawai

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Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

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Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar

Sílvia Morales

Sílvia Morales
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Terapeuta descortina universo do autista focando sua história familiar



Com a palestra "Uma visão ampliada sobre o Autismo", via online, nesta sexta-feira (16), às 15 horas, na Escola do Legislativo "Antonio Carlos Danelon - Totó Danelon", da Câmara Municipal de Piracicaba, Eliana Castro Saliba Piacentini, terapeuta, mãe de um jovem de 21 anos com autismo e diretora do IAP (Instituto Autismo de Piracicaba), discorreu sobre sua própria história de vida, com a transformação ocorrida após o diagnóstico de seu filho, aos 10 anos, onde procurou se inteirar sobre o universo do autismo, em pesquisas acadêmicas e buscas por conhecimento além fronteiras, quando foi para os Estados Unidos, em acúmulo de experiência e dedicação que hoje se traduz numa causa social e humanitária, que se consolidou em Piracicaba na estruturação do IAP.

Eliana também tem formação em Comunicação Social, com pós graduação em Marketing, Ceramista, Psicopedagoga, e Especialista em Neurociência Aplicada à Educação (Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo) e participação em diversos cursos de imersão sobre autismo no Brasil e Estados Unidos.

O coordenador da Escola do Legislativo, o vereador Pedro Kawai (PSDB) conduziu a abertura dos trabalhos, enfatizou a importância da discussão temática trazida por Eliana, e fez um destaque na contribuição de Bia Turetta, que modulou toda uma linha de trabalho para a Escola do Legislativo, num olhar especial à pessoa com deficiência. Kawai ressaltou Santo Agostinho, na citação: "A gente só ama aquilo que conhece". O parlamentar disse que este pensamento reflete o amor aos autistas, quando passamos a conhecê-los.

Na palestra Eliana discorreu sobre as principais definições do autismo, passando pela análise do cérebro, sua anatomia e conectividade. Também discorreu sobre os desafios dos indivíduos com TEA (Transtorno do Espectro Autista), com relação ao desenvolvimento motor, sistema sensorial, cognição social e saúde em geral.

A gravação da palestra completa pode ser acessada pelo Canal da Escola no YouTube, através do link https://www.youtube.com/channel/UCof7kyatk6Sz4xk7lhYc4xQ

Eliana pontuou a definição do autismo, como um transtorno de desenvolvimento, resultado de causas neurobiológicas, que se expressam através de alterações das habilidades sociais, emocionais, cognitivas, motoras e sensoriais, em déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas interações sociais, déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal, usadas para interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades.

A consideração é que há problemas biológicos e alterações neurológicas, onde a estrutura cerebral, na parte física, os autistas tem estruturas diferentes das pessoas normais. Há um crescimento anormal do cérebro, afetando o cerebelo, com alteração na percepção motora, cognitiva, afetiva, propriocepção, sistema vestibular - que está relacionado ao equilíbrio.

Também se observa o distúrbio de marcha e falta de coordenação dos movimentos. Para dançar, eles se portam de maneira desengonçada, por falta de coordenação dos organismos, com interpretação incorreta nas distâncias dos atos e ações musculares, com desorientação espacial, vão andando por cima de tudo que está no chão, esbarram e derrubam coisas.

Quanto à percepção social, na tendência natural em juntar partes de informações para formar um todo, provido de significado, ou seja, entender a essência da situação, a criança com TEA vê a árvore e não a floresta, pois tem dificuldade de interpretar a situação como um todo.

Outro exemplo pode se verificar no cenário de um piquenique, com uma grande variedade de recipiente e alimentos espelhados pelo chão, sendo que o autista vai se concentrar num pequeno detalhe, como numa cesta de pão e desprezar os demais objetos da cena.

A terapeuta também conceituou a situação da mente, em habilidade que se refere a um sistema de inferências, responsáveis pela compreensão das intenções, disposições ou crenças dos outros e de si mesmo.

Sobre os neurônios espelhos - na capacidade do ser humano de adotar um procedimento seguindo o exemplo do que todos estão fazendo - o autista tem dificuldade de ter esta compreensão. Eles precisam antecipar os fatos, com previsibilidade, para saber o que está acontecendo.

Eliana falou de uma situação, em que uma mulher com TEA, ao saber que o marido disse que no retorno para casa pararia no banco, isto fez com que ela entrasse em pânico, sendo que para este mesmo fato, se o marido tivesse dito que no caminho para casa, parariam na praça, desceria do carro, iria até o banco sacar um dinheiro e logo retornaria, a situação seria outra. É que, devido a este detalhamento de ações, certamente a mulher não teria entrado em pânico.

A palestrante ainda contou uma outra passagem, para mostrar as consequências dos neurônios espelho aos autistas. Citou o caso de uma amiga, que o marido detalhou toda a trajetória que fariam para ir à praia, postos que parariam e outros detalhes e, quando voltou de viagem alguém perguntou como foi o passeio, no que a resposta foi de que era a primeira vez que ela não sentiu diarreia e nem passou mal na viagem, onde tudo foi uma maravilha, o que mostra que a antecipação de previsibilidade diminui demais a ansiedade, em conceitos de comportamentos que facilitam a interação social.

Para a terapeuta, para se comunicar com o autista, há que se ter o contato visual, usar gestos para se comunicar, apontar coisas, seguir os olhos do outro indivíduo quando estiver falando, usar expressões emocionais no próprio rosto e, manter a calma em momentos de frustração.

Com o prejuízo na cognição social os indivíduos com TEA podem apresentar isolamento, tendência a participar de atividades que não dependem de outras pessoas, dificuldades em entender que seu comportamento afeta a maneira como os outros pensam ou sentem, dificuldades em brincadeiras de faz de conta, onde parecem ser egoístas, pois tem dificuldades de entender o sentimento do outro.

Pela falta de flexibilidade nas interações, tratam pessoas como objeto, apresentam dificuldades com antecipação e previsão, apegam-se em detalhes de um objeto e não em sua função, interpretam literalmente as palavras, com dificuldades para entender a linguagem falada ou escrita, pois em uma frase, usamos o contexto para compreender o detalhe das palavras dentro dela. A recomendação é não fazer as coisas por ele, e sim ensiná-los a pensar e não anteciparmos as respostas.

Eliana discorreu sobre a integração sensorial, onde temos o tato, em questões muito importantes para eles, somado ao olfato, audição, visão e gustação. O sistema vestibular está relacionado à cabeça, em ações que não se aprendem na escola. O conceito de propriocepção é quando o indivíduo precisa e quer conhecer o próprio corpo, que pode ser explorado a exemplo de quando se adentra à uma piscina, onde alí a pessoa tem um mapa completo de si mesma. Na interocepção, o exemplo citado é quando se percebe que está com dor de barriga, ou dor de cabeça, onde a situação pode chegar a um ponto em que a pessoa tem que colocar um despertador para lembrar das coisas.

Observa-se que os sistemas sensoriais funcionam em sinergia entre si e é a sincronia das experiências sensoriais com o tom emocional, o ambiente e as interações com os outros, que dão sentido a eventos e experiências. É como uma orquestra sinfônica. As experiências são únicas para cada indivíduo. Em todos estes conceitos conseguimos entender que os indivíduos com TEA parecem gostar do isolamento, tem grande necessidade de controle, pois não sabem o que vai acontecer, devido à falta de flexibilidade, o que leva à praxis, na formulação da ideia, do planejamento, sequenciação, execução e adaptação.

Também se avalia que o autismo se compreende nas estratégias de inclusão, e em primeiro lugar está o afeto, que faz o engajamento mútuo, quando se tem uma pessoa que está junto, em atenção compartilhada, como base para estrutura de todas as ações. Se deve garantir a antecipação e previsibilidade, apoio visual e considerar o pensamento, a ideia dele, pois afinal é ele quem vai fazer o aprendizado. O cérebro aprende aquilo que faz sentido para ele, onde devemos aprender em cima do que eles querem. Há que se observar o tempo de espera. O importante é o processo e não o produto, devemos usar frases curtas e objetivas. Não existe fórmula, há que se verificar o desenvolvimento de cada um.

Ao findar a palestra, no acolhimento das indagações e contribuições sobre as discussões, onde muitos participantes se identificaram na trajetória de busca da própria oradora, Eliana ressaltou que ainda existe muito desconhecimento sobre o autismo, onde até médicos e profissionais da saúde não sabem lidar com esta situação. "Há que se ter cuidado nos diagnósticos, cabendo aos familiares a estimulação constante das crianças", disse

A diretora da Escola do Legislativo, Silvia Morales (PV), do Mandato Coletivo A Cidade É Sua fechou a palestra, em agradecimentos aos participantes e principalmente à Eliana, em suas explanações. Eliana agradeceu o convite, do privilégio de levar as informações, com foco no universo do autismo, o que abrange todos os deficientes.



Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939


Escola do Legislativo Pedro Kawai Silvia Maria Morales

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