
30 DE JUNHO DE 2010
Em solenidade realizada na noite desta quarta-feira (30/06), o vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT), entregou título de Piracicabanus Praeclarus, Francisco de (...)
Em solenidade realizada na noite desta quarta-feira (30/06), o vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT), entregou título de Piracicabanus Praeclarus, Francisco de Assis Pereira de Campos, carinhosamente chamado de Frei Tito. A homenagem é autorgada pela Câmara, aos cidadãos que se notabilizaram por ações de notório reconhecimento público.
Fizeram uso da palavra o presidente do Partido dos Trabalhadores em Piracicaba, José Maria Teixeira, o prefeito de Sumaré José Antonio Bacchin e o vereador autor da propositura, todos ressaltaram as qualidades do homenageado, que dedicou sua vida em prol dos necessitados e falaram do orgulho de serem amigos de Frei Tito.
Emocionado, o homenageado iniciou seu discurso cantando a Oração de São Francisco, em seguida relembrou momentos marcante de sua vida e do trabalho que realizou junto ao Frei Sigrist, na favela do Jardim Glória.
Além do título de Piracicabanus Praeclarus, entregue pelo vereador Paiva, Frei Tito também recebeu homenagens dos Deputados Federais Cândido Vaccareza, entregue por Simone Carlim Fernandes e Ricardo Berzoini, representado por Cristiane de Lima; do ex-prefeito de Diadema, José de Fillipi Júnior, entregue por Marcos Antonio Ernadez; dos Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Piracicaba e Saltinho, entregue por Jacob Alcides Bortoletto; do gabinete do vereador, entregue por Márcia Zuleika e de seus familiares, representados por Reinaldo Angélico Pereira de Campos.
Para abrilhantar ainda mais solenidade houve a apresentação de Luiz Fernado, acompanhado no violão por Marcia Zuleika, que interpretaram a música Chalana de Mario Zan e Arlindo Pinto.
Currículo Homenageado
Nascido em 14 de junho de 1954, em Piracicaba, no bairro rural Nova Suíça. Filho de Benedito Pereira de Campos conhecido como Dito Gica, seu avô paterno tinha o apelido de ‘Seo Gica’. Sua mãe Barbara do Amaral Campos conhecida como ‘Dona Barbica’. Seus familiares sempre foram agricultores, eram proprietários de um sítio com aproximadamente dez alqueires. Ao longo de muitos anos criaram gado leiteiro, naquele tempo entregava-se o leite direto ao consumidor, em litros de vidro que eram acondicionados em um engradadinho de ferro, a entrega era feita de casa em casa. Dito Gica e Dona Barbica tiveram nove irmãos, Antonio, Maria José, Maria Alice, João Pedro, Maria de Lourdes, José Deodato, Reinaldo e Vera e Francisco. Como diz Francisco, na roça começa a se trabalhar logo que se aprende a andar. Era uma agricultura familiar, as crianças ainda muito novas já iam para roça. Na época, às três horas da manhã, já se levantava para tirar leite; às seis horas da manhã o leite deveria estar sendo entregue na rua.
Iniciou seu estudo no Grupo Escolar do Bairro Rural Pau Queimado. Seu primeiro emprego ficava embaixo da antiga rádio PRD-6 (Rádio Difusora de Piracicaba), em um laboratório de prótese dentaria. Trabalhou também como cobrador de ônibus, da Viação Marchiori, fazendo as linhas Piracicaba-Rio Claro, e Piracicaba-Pirassununga, até que voltaram para o sítio novamente.
Com 16 anos, já de volta ao sítio, ingressou no Colégio Técnico Agrícola de Rio das Pedras, onde estudou por três anos, fazendo parte da primeira turma formada por aquele estabelecimento de ensino. Ao sair do colégio técnico, prestou concurso na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, onde passou a trabalhar no Departamento de Solo e Geologia, local no qual atuou por dois anos.
De família humilde e muito católica, Tito sempre teve uma vida muito ligada à igreja, em especial aos franciscanos. Seu avô foi da Ordem Terceira Franciscana e com a sua morte, ocupou repouso eterno com as honrarias e o hábito da Ordem.
Quando trabalhava na Esalq coordenava a Pastoral Rural da Diocese de Piracicaba, período em que ocorreram os movimentos como Topada, Gen, TLC, entre outros. Participou da criação na Igreja dos Frades, da Pastoral Rural, que tinha como capelão, Frei Saul Perón. Seu relacionamento com Frei Afonso, Frei Marcio o frei mais jovem, e outros frades culminou com o seu envolvimento com os capuchinhos.
Frei Marcio era responsável pela pastoral vocacional. Com isso, os jovens eram provocados em determinadas situações a ser padre. Eram jovens empolgados com a pastoral. Seu entusiasmo pela Igreja e pelos trabalhos pastorais persiste até hoje e, na época entendeu que deveria tomar uma decisão. Teve muito apoio de sua família. Ingressou no Seminário onde teve formação da filosofia antiga e da nova, sobretudo a filosofia da libertação com professores como Hugo Assmann, Frei Beto, Rubem Alves e Leonardo Boff.
Seus primeiros votos foram em 1980, no Seminário Seráfico São Fidelis em Piracicaba. Fez seus estudos em Nova Veneza. Em 1982 foi morar na periferia de Sumaré, com Frei João, que hoje é bispo e, essa experiência fez com que entendesse que o seu papel na igreja era fundamentalmente o de contribuir para a formação catequética, dar cursos bíblicos aos leigos e, sobretudo, estar presente nos movimentos sociais.
Ao entrar na Ordem Terceira assumiu o nome de Frei Tito, que permanece até hoje, pertencendo hoje, como segundo Franciscano. A origem está em fratello, irmão no idioma italiano. Na Idade Média para se pregar o Evangelho era preciso ser diácono, não necessariamente padre, mas tinha que perter ao clero. São Francisco de Assis fundou a Ordem dos Frades e abriu a possibilidade para que todos pudessem viver o Evangelho na sua espiritualidade. A Ordem Terceira é uma referência para todos os cristãos que querem viver o espírito franciscano.
Inspirado pela frase do educador popular Paulo Freire que diz A nossa cabeça é onde estão os nossos pés e, por seu processo de formação, o então Frei Tito, por conta da Ordem, foi morar no Jardim Glória em uma fraternidade franciscana com o amigo Frei Sigrist.
Frei Sigrist,que tinha acabado de voltar da Alemanha onde tinha feito teologia, era uma pessoa muito especial, de grande espiritualidade, de apurado senso de humor. Alguns estudantes tinham construído um barraco na favela e foram morar lá. Frei Tito pediu ao Provincial Frei Sermo Dorizotto para morar com esse grupo na favela do Jardim Gloria, e assim aconteceu.
Esta experiência foi o período mais rico de sua vida. Ele já havia convivido com uma favela, porém, nunca havia morado em um barraco, junto com o povo, habitando 24h por dia na favela. Durante todo o tempo em que viveu na favela, Frei Tito e Frei Sigrist tinham apenas um pequeno rádio, que ouviam quando iam lavar roupas. No barraco não havia televisão, muro ou cerca que separassem os vizinhos. No barraco não havia sequer fechadura ou tranca e até hoje o barraco está lá, do jeito que deixaram, aberto à visitação.
A dupla franciscana criou uma relação muito saudável com a população. Capacitaram mulheres da comunidade para o atendimento de primeiro-socorro e, com isso, o barraco de Frei Tito foi aos poucos se tornando um pequeno ambulatório para a comunidade.
A presença dos frades na favela era de extrema importância para a comunidade. Nesse período para atender às necessidades da população, Tito e Sigrist participaram de mutirão para a construção, reforma e ampliação de moradia. Montaram uma fábrica de blocos dentro da favela, compraram um caminhão Mercedes-Benz que ele dirigia para pegar areia na Codistil. Enfim, ampliaram sua rede de ação junto à favela.
Foi um trabalho de muita integração, um aprendizado de como viver e trabalhar com crianças, mulheres e, aos poucos, se percebia a mudança que isso trazia na vida de cada um dos moradores.
Essa experiência de opção preferencial pelos pobres encarnando de fato a vida proposta por Jesus Cristo e por São Francisco tornou-se referencia na diocese de Piracicaba e, em nosso município exemplo de vida e dedicação aos marginalizados.
Francisco de Assis Pereira de Campos ainda hoje é chamado de Frei Tito, nome adotado no período da sua vida dedicada exclusivamente à sua missão religiosa. Frade quer dizer irmão e significa viver a fraternidade. O frade capuchinho pode ser sacerdote ou irmão leigo, vivendo em fraternidade e servindo a Igreja, preferencialmente em tarefas e lugares difíceis. Realiza os serviços simples, humildes, estando entre os pobres e marginalizados. O frade capuchinho procura trabalhar pelo bem do povo com preparação e competência, sem ambições pessoais.
O vereador Paiva destaca que Piracicaba tem grandes exemplos de frades capuchinhos como referência. Um nome inesquecível é o de frei Francisco Erasmo Sigrist que exerceu o ministério sacerdotal durante quase 15 anos, somente em Piracicaba. Frei Tito partilhou com Frei Sigrist o mesmo teto do barraco em que moravam, na favela, hoje tombado como patrimônio histórico. Frei Tito realizou a experiência de vida onde só a fé intensa desenvolve a coragem de vencer os inúmeros obstáculos encontrados.
Vivenciou o mundo desconhecido pela maioria da população, o cotidiano dos marginalizados, onde o significado da vida tem referencias e valores próprios. Essa experiência de opção preferencial pelos pobres encarnando de fato a vida proposta por Jesus Cristo e por São Francisco tornou-se referencia na diocese de Piracicaba e, em nosso município exemplo de vida e dedicação aos marginalizados.
Francisco de Assis Pereira de Campos Frei Tito tem formação em filosofia e teologia, especialização em filosofia política e filosofia da arte. Mestrado em educação. Atualmente é assessor executivo do Gabinete do Prefeito de Sumaré, o piracicabano José Antonio Bacchin, foi secretário de Obras, diretor de Educação, diretor de Cidadania, gerente da cidade e chefe de gabinete em Sumaré, concluiu o parlamentar no teor do projeto de decreto legislativo.
Patrícia Sant Ana Amancio _ Mtb:24.154
Foto: Davi Negri _ MTb: 20.499