
20 DE MAIO DE 2011
O vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT) questionou a conduta adotada pela Prefeitura em relação ao destino dado aos recursos federais que o município recebe. D (...)
O vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT) questionou a conduta adotada pela Prefeitura em relação ao destino dado aos recursos federais que o município recebe. Desde o início da gestão Barjas Negri (PSDB), em 2004, Piracicaba obteve cerca de R$ 710 milhões da União, segundo levantamento feito por Paiva com base em dados abertos ao público, disponíveis no site Portal da Transparência. "É quase um Orçamento municipal o que o governo federal remeteu", comparou o vereador, ao ir à tribuna em reunião ordinária na noite desta quinta-feira (19).
Para o exercício financeiro de 2011, por exemplo, o Orçamento de Piracicaba estipula para a Administração Direta receita de R$ 717.777.718, contra R$ 709.705.355 recebidos do governo federal entre janeiro de 2004 e fevereiro de 2011. "Não estamos querendo apenas fazer discurso; estamos dizendo que esta é a realidade colocada", frisou Paiva.
Na avaliação do vereador, a Prefeitura precisa ter critérios para aplicar os recursos vindos da União. "O município tem que respeitar, em função da Lei de Responsabilidade Fiscal, os requisitos para os quais a liberação de verbas é colocada. Não se dá dinheiro ao Poder Público ou à iniciativa privada aleatoriamente", afirmou.
Como exemplo de valores encaminhados pelo governo federal ao município nos dois primeiros meses deste ano, Paiva citou os valores de R$ 6,882 milhões destinados à Saúde, R$ 237 mil ao Trabalho, R$ 147 mil à Educação e R$ 1 mil à Assistência Social. Ele lembrou que, ao vir ao plenário da Câmara, na última segunda-feira (16), expor a atuação da Secretaria de Desenvolvimento Social, a titular da pasta, Maria Angélica Guércio, afirmou que 96 por cento dos recursos para a população de baixa renda de Piracicaba vêm do governo federal, enquanto 4 por cento são do município. Para o vereador, é necessário que a administração faça escolhas que visem atender às necessidades da população, sabendo distinguir prioridades.
"Nosso governo foi reeleito contra o candidato do governo Barjas Negri porque optamos pelo pobre", disse Paiva, em referência à disputa entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), no ano passado, que resultou na eleição da candidata apoiada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O vereador ainda fez menção a uma posição recente defendida em artigo escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre a opção que o partido dele, o PSDB, deveria passar a fazer. "O FHC acabou de falar o seguinte: O PSDB tem que esquecer os pobres, que são coisa do PT. Nós temos que governar para os ricos e a classe média."
HYUNDAI
Ao abordar as escolhas que o Poder Público deve fazer ao direcionar seus investimentos, Paiva citou a conduta das administrações estadual e municipal, ambas comandadas pelo PSDB, no processo que culminou com vinda da Hyundai para a cidade. "O Estado de São Paulo, que é do mesmo partido do prefeito, enviou mais dinheiro à Hyundai, em Piracicaba, do que para a Saúde, a Segurança e a Habitação. Foram R$ 47 milhões para a montadora", afirmou o vereador. "O mesmo investimento que os governos estadual e municipal fizeram para a Hyundai é o que será gasto com o hospital [Regional de Piracicaba, cuja pedra fundamental foi lançada na última sexta-feira]. Fizeram um investimento de R$ 52 milhões na Hyundai e o hospital vai ficar em quase R$ 52 milhões."
O parlamentar reforçou a necessidade de haver prioridades. "Como Poder Público, temos que optar pelo que achamos mais correto. Eu continuo defendendo que os R$ 52 milhões investidos nas empresas municipais gerariam o mesmo número de empregos que a Hyundai vai gerar", observou.
Paiva ainda criticou as condições de trabalho oferecidas pela montadora sul-coreana, alvo de denúncias recentes. "Piracicaba foi notícia na EPTV de que, em um alojamento da Hyundai, onde era para ter 14 seres humanos morando, havia 32. Nós vamos trazer as pessoas responsáveis pelo canteiro de obras da Hyundai para falar sobre isso", prometeu Paiva. "A Hyundai não está errada. Tempos atrás venderam o XV de Piracicaba por R$ 1. Está errado quem comprou o XV por R$ 1? Não, está errado quem o vendeu. Então, está errado quem acredita que devemos nos abaixar até o último patamar para que se faça um investimento de capital estrangeiro aqui sem preservar a dignidade do ser humano", completou.
Na reunião ordinária da última segunda-feira, Paiva já havia feito críticas à Hyundai, questionando a falta de pagamento às empresas que prestaram serviços à montadora sul-coreana e a morte de um trabalhador no canteiro de obras. "Quero fazer uma grande viagem à Hyundai, mas não para a Coreia do Sul. Quero visitar as pessoas que, por meio das terceirizadas, tomaram "cano" com o início das obras de terraplanagem", disse o vereador na ocasião.
"Gostaria que a Hyundai viesse a público explicar a morte do trabalhador no tanque para começarmos a equalizar nosso relacionamento", cobrou, ao exigir mais atenção dos vereadores ao processo de instalação da fábrica em Piracicaba. "Fazer viagem para a Coreia do Sul é muito gostoso, ainda mais pago pelos coreanos. Quero mesmo viajar pelo canteiro de obras, porque, na minha cidade, o povo que me elegeu paga o meu salário, mas não paga a minha ida para a Coreia do Sul", completou Paiva, em discurso na tribuna na última segunda-feira.
TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918
FOTO: Davi Negri / MTB 20.499