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26 DE MAIO DE 2011

Fiscalização embarga metade dos alojamentos da construção


O presidente do Sinticompi (Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Piracicaba), Milton Costa, externou a preocupação da categoria com as condições precárias d (...)



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Gustavo Annunciato - MTB 58.557 Salvar imagem em alta resolução


O presidente do Sinticompi (Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Piracicaba), Milton Costa, externou a preocupação da categoria com as condições precárias das instalações usadas por empregados do setor que atuam nas obras em andamento na cidade. Um levantamento realizado pela entidade mostrou que, de 100 alojamentos já visitados, 50 foram embargados por não apresentarem a chamada "área de vivência" em conformidade com a lei.

De acordo com Costa, a fiscalização verifica se está sendo cumprida a NR 18 (norma que regulamenta o setor), se contratos de trabalhos estão sendo respeitados e se há a garantia dos direitos econômicos e sociais das pessoas empregadas nas obras da construção civil. "O problema maior são os alojamentos", apontou o dirigente sindical, ao usar a Tribuna Popular em reunião ordinária na noite desta quinta-feira (26).

Nos últimos sete meses, o Sinticompi aplicou 968 notificações a empresas instaladas em Piracicaba. Em outubro do ano passado, foram feitas 163 notificações, 25 delas atingido empresas com sede fora da cidade, como as de origem estrangeira. Os números, respectivamente, subiram para 172 e 27 em novembro, foram para 84 e 14 em dezembro, chegaram a 136 e 20 em janeiro e, no dado mais recente, ficaram, em maio, em 98 notificações, com 21 delas aplicadas a empresas de fora da cidade.

Imagens exibidas por Costa no telão do plenário mostraram exemplos das condições precárias encontradas pelos trabalhadores em alojamentos existentes em Piracicaba. A superlotação é um dos problemas predominantes. "Em casas em que deveriam morar famílias estão alocados 40, 50 trabalhadores", disse o presidente do Sinticompi. Em outro local, 36 pessoas dividem três cômodos. "Casa não é alojamento", reforçou o dirigente sindical, que lembrou que a situação --em que a falta de conforto e higiene se soma às falhas na alimentação fornecida pelas empresas-- acaba fazendo os empregados da construção recorrerem às drogas e ao álcool como forma de esquecerem a realidade em que vivem.

PRECARIEDADE
A relação de problemas apresentados por Costa inclui desde camas que são feitas com madeira de obras até colchões que não têm a densidade mínima para suportar o peso dos trabalhadores. Além disso, uma das fotos exibidas no telão do plenário mostra que um só banheiro, imundo, é dividido por dezenas de trabalhadores. Em outro flagrante, um buraco no chão é usado para os funcionários fazerem suas necessidades.

As imagens apontam, ainda, que em alguns locais visitados trabalhadores não utilizam a estrutura e os equipamentos necessários para a segurança de suas atividades. Para Costa, o descaso das empresas que atuam na construção civil é consequência da falta de punições às infrações que cometem. "A sensação de impunidade está levando a este tipo de conflito", afirmou.

"Não dá para brincar com a vida do ser humano. Estamos falando de trabalhadores que produzem e merecem respeito. Não podem ser tratados dessa forma", completou o presidente do Sinticompi. "Estamos preocupados, pois se abre um precedente para essas situações. Não queremos que as empresas desrespeitem nossos trabalhadores."

Ainda segundo Costa, a fiscalização precisa ser mais ampla e rigorosa. "Apelo aos colegas [vereadores] para que consigamos identificar os contratantes. As empresas vêm e vão embora, e nós não ficamos cientes do que ocorre", disse o dirigente sindical. "Não é uma questão pontual. Não estamos perseguindo empresas A ou B, mas não podemos virar as costas para isso. É preciso diminuir esse conflito", concluiu.

VEREADORES
Os vereadores Carlos Alberto Cavalcante, o Carlinhos (PPS), e José Antonio Fernandes Paiva (PT) parabenizaram o trabalho do Sinticompi e cobraram mais respeito aos empregados da construção civil. "É para isso que existe o sindicato constituído. Imagine se vocês não estivessem trabalhando com toda essa ênfase", comentou Carlinhos. "Que Piracicaba progrida, mas que possamos respeitar os trabalhadores", pediu o parlamentar.

Já Paiva classificou de "sub-humanas" as condições dos alojamentos retratados nas imagens apresentadas por Milton Costa no telão do plenário. "O desenvolvimento a qualquer custo não nos interessa. O ser humano não tem sido respeitado", afirmou.

O vereador lembrou que, só em 2010, Piracicaba teve notificados 9.675 acidentes de trabalho, que resultaram em 15 mortes. Paiva disse ainda que, após criticar a Hyundai em reunião ordinária na última segunda-feira (23), manifestações chegaram ao seu gabinete, relacionadas a empresas que estão trabalhando para a montagem da fábrica da montadora sul-coreana em Piracicaba. Em um dos casos, uma das empresas é alvo de 159 protestos em cartório.

 

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTO: Gustavo Annunciato / MTB 58.557



Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918


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