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25 DE MAIO DE 2011

Estudar a África é também estudar o Brasil, defende professor


Na solenidade em lembrança ao Dia da África, na tarde desta quarta-feira, 25, no salão nobre Helly de Campos Melges, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, o profes (...)



EM PIRACICABA (SP)  

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Na solenidade em lembrança ao Dia da África, na tarde desta quarta-feira, 25, no salão nobre Helly de Campos Melges, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, o professor Evaldo Ribeiro Oliveira, doutorando em Educação na UFSCar, defendeu o ensino da história da África nas escolas como uma forma de se conhecer mais sobre o Brasil. E, em sua apresentação de quase duas horas, discorreu sobre os motivos legais e pedagógicos para ensinar no País a história do continente onde se origina grande parte da população brasileira. “Só pela questão jurídica, é necessário ensinar sobre a África, porque está previsto em lei; porém, há significativos benefícios pedagógicos”, disse.

Fruto de uma iniciativa do vereador Bruno Prata (PSDB), a solenidade em lembrança ao Dia da África aconteceu um dia após o falecimento de Abdias do Nascimento, poeta, escritor e militante da causa negra no País, fundador do Teatro Experimental do Negro, “que, atualmente, tem como maior revelação o ator Lázaro Ramos”, disse Martim Vieira, jornalista e mestre de cerimônias da solenidade na Câmara de Vereadores.

O palestrante Evaldo Oliveira, membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro (NEAB/UFSCar), defendeu uma mudança no conceito sobre a África, atualmente baseada somente em estereótipos de que é um lugar com pobreza, fome e guerras. “Um dos motivos apresentados para não se ensinar sobre a África nas escolas é a falta de material, mas isso não faz mais sentido, já que existem amplos estudos e livros sobre a história do continente”, disse, ao mostrar um dos oito volumes sobre A História da África, produzido pela Unesco/ONU, que totalizam oito mil páginas.

Em sua análise, Oliveira entende que ensinar sobre a África é apresentar a história do mundo sob outro olhar, demonstrando pensamento que difere do modelo eurocêntrico, que veem africanos como um povo violento, com capacidade limitada e exótico. A mudança, para ele, começa no reconhecimento de si próprio como descendente das tradições africanas e, de forma geral, entender os traços da cultura africana em momentos presentes. “Em Rio Claro, aqui perto, existia um nascedouro, onde escravos viviam com o único objetivo de se reproduzir”, exemplificou.

Oliveira também criticou o que chamou de “Síndrome Cabraliana”, em referência a Pedro Álvares Cabral, descobrir do Brasil, “em que a pessoa acha que só há história a partir do momento em que ela pisou naquele continente”, destacou. “A grande questão é que se não aprofunda-se na história da África porque, ao estudá-la, soa como um grande perigo conceitos estabelecidos”, disse, ao lamentar que, mesmo com lei instituindo o ensino da história da África desde 1996, pouco houve de avanços. “Gostaria de estar falando de avanços, mas ainda não estamos no início do caminho”, salientou.

Assim, para Oliveira, é necessário buscar outras referências sobre a África, “um local que há diversas descobertas e conhecimento, ou as Pirâmides do Egito não ficam na África?”, indagou. Embora não tenha centrado sua palestra em conteúdo sobre a história do continente africano, ele levou algumas fotos da Mesquita de Dejenné e as Máscaras de Dogon, do Mali, em que mostram a criatividade estética e arquitetônica dos africanos.

“É essa história da África que precisa ser mostrada”, defende. “A de um povo que cria, que estuda, que não foi escravo somente pela força de trabalho, mas também porque tinham conhecimentos avançados na escavação de ouro, eram matemáticos, físicos e arquitetos”, destacou. E finalizou: “Precisamos apresentar as características e o modo de pensar do africano, que não é nem melhor, nem pior, apenas diferente”.

Para o vereador Bruno Prata (PSDB), autor da proposta de lembrar o Dia da África, organizar o evento é uma forma de tentar reparar um pouco o que foi feito contra o continente, em séculos de escravidão e de políticas que subjugaram os africanos.

DIA DA ÁFRICA – Considerado o Dia da Libertação da África, o 25 de maio marca a criação da Organização de Unidade Africana (OUA), resultado de carta assinada por 32 estados africanos independentes, em 1972. Dos 54 estados africanos, 53 são membros da organização – somente o Marrocos se afastou voluntariamente em 1985 em sinal de protesto pela admissão da auto-proclamada República Árabe Saharaui, reconhecida pela OUA, em 1982. De forma geral, os governos africanos são Repúblicas Presidencialistas, com exceção de três monarquias: Lesoto, Marrocos e Suazilândia. Com 30,27 milhões de quilômetros quadrados, a África é o segundo continente mais populoso, com 800 milhões de habitantes.


FOTO ACIMA: Na abertura da solenidade, foi respeitado um minuto de silêncio pela morte de Abdias do Nascimento, na terça-feira, 24. Gesto do punho cerrado com o braço esticado e com a cabeça baixa ficou famoso nos anos 1960 por conta do Movimento de Direitos Civis nos Estados Unidos

FOTO ABAIXO: Evaldo Oliveira defendeu a mudança nos estereótipos sobre a África


Texto: Erich Vallim Vicente MTb 40.337
Fotos: Gustavo Annunciato MTb 58.557



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Legislativo Bruno Prata

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