
25 DE MAIO DE 2022
Segundo palestrante, o pagamento pelo investimento na área do saneamento será sempre realizado pelo consumidor final, na tarifa
Vereador Pedro Kawai (PSDB), coordenador da Escola do Legislativo
Após dois anos de atividades remotas por causa da pandemia da Covid-19, a Escola do Legislativo retomou, nesta quarta-feira (25), as aulas presenciais em sua sede, no andar térreo do prédio anexo da Câmara Municipal de Piracicaba. O tema do primeiro encontro físico foi "Financiamento Público e Privado do Saneamento no Brasil" e faz parte do ciclo de debates sobre saneamento ambiental.
O coordenador da Escola do Legislativo, vereador Pedro Kawai (PSDB), comemorou o retorno das atividades presenciais, na abertura da palestra. "Que a gente tenha essa retomada com a força que a nossa saúde, a sociedade e a escola precisam", afirmou. "A Escola do Legislativo é o local de construção de políticas públicas e de participação da sociedade".
Para o vereador Gilmar Tanno (PV), que assumiu a cadeira na Câmara da diretora da Escola do Legislativo, a vereadora Sílvia Morales, do mandato coletivo A cidade é sua (PV), o espaço é da comunidade e volta agora a ser ocupado presencialmente. Sílvia Morales, que está licenciada da Câmara, participou do evento como ouvinte e também comemorou o retorno dos trabalhos. "Há quanto tempo estávamos esperando por isso. E esse retorno acontece justamente com um tema tão relevante, como o saneamento", colocou.
Marco legal - Um dos facilitadores da palestra foi o secretário executivo da Câmara Técnica de assuntos jurídicos da Associação Brasileira de Agências Reguladoras e diretor da Agência Reguladora (Ares-PCJ), Carlos Roberto Oliveira. Ele deu início ao tema com a abordagem sobre as diretrizes nacionais para o saneamento básico, definidas pela Lei Federal 14.026/2020, que remodela a Lei Federal 11.445/2007. As normas estabelecem o marco regulatório do saneamento no Brasil, que apresenta alguns desafios.
Um deles é a necessidade de uniformização da regulação do serviço, já que atualmente existem mais de 80 agências reguladoras no Brasil, entre elas a Ares-PCJ, que atua em Piracicaba. A legislação prevê uma tendência de padronização das ações das agências, a partir do trabalho da ANA (Agência Nacional de Águas).
Outra questão presente no marco regulatório é o incentivo à desestatização da execução do serviço. Segundo o palestrante, os contratos antigos das companhias estatais criadas para desenvolver o serviço não estabeleceram indicativos de metas de melhorias das atividades e nem metas de investimentos. Já o marco estabelece o ano de 2033 para que os municípios atinjam os índices de 99% de atendimento da população com o fornecimento de água e 90% com o tratamento de esgoto.
O diretor da Ares explicou que, com as companhias estatais, havia dispensa de licitação para a contratação do serviço. Agora, as empresas públicas podem continuar a existir, mas há disputa de mercado. Outro ponto definido pelo marco regulatório é tendência à regionalização. A legislação incentiva que os municípios se agrupem para o fornecimento do serviço de saneamento, o que traria como benefício a ampliação da capacidade de investimento.
O palestrante destacou ainda outros pontos de oportunidades para o setor: a desconcentração da prestação, em função da baixa capacidade de investimento das companhias estatais; o incentivo à participação privada, com a exigência de licitações para a prestação do serviço; e as parcerias com a administração pública, através das PPPs (parcerias público-privadas) e concessões. "Ainda existe uma discussão ideológica em relação a isso, mas é esse tipo de incentivo que a lei prevê", afirmou.
Para garantir que a participação da iniciativa privada no fornecimento do serviço de saneamento seja eficiente, o diretor da Ares destacou que é necessário um planejamento adequado, com a elaboração de contratos bem amarrados. Para isso, é necessário que existam alguns instrumentos, como um plano municipal de saneamento com bases factíveis para evitar disputas e reequilíbrios contratuais, além da compatibilidade com o plano da bacia hidrográfica.
Ele destacou ainda que o edital de contratação deve possuir uma matriz de riscos ambientais, de engenharia, operacionais, de demanda, jurídicos e financeiros, cujas responsabilidades devem ser definidas entre o ente público e o privado. "A matriz de riscos é o coração da elaboração dos contratos. Quando tem ausência de riscos, inviabiliza a atuação do órgão regulador e abre margem para disputas", afirmou. Como exemplo, ele citou o caso da PPP firmada pela Prefeitura de Piracicaba com a empresa Mirante. Atualmente, a Ares arbitra um pedido de revisão contratual, o que foi necessário em função de muitos problemas no planejamento inicial e da necessidade de muitas alterações no escopo do projeto.
O palestrante ponderou ainda que não pode faltar a fiscalização do titular do contrato, o ente público que é cedente do serviço. Para isso, é preciso que seja definido o gestor do contrato, a geração de relatórios de fiscalização e as penalizações.
Já as formas de financiamentos disponíveis para o setor são: o autofinanciamento tarifário, quando o serviço é prestado pelo poder público; o plano de negócios, que é definido no contrato em caso de concessão da prestação; e fontes de captação externas, disponíveis para órgãos públicos e privados, como os bancos públicos e de desenvolvimento e os fundos de financiamento.
"Independentemente da forma de financiamento, o pagamento do investimento será sempre realizado pelo consumidor final, na tarifa", colocou. Como a legislação prevê o incentivo à regionalização, os recursos públicos estão disponíveis apenas para os municípios que aderirem ao modelo, conforme prevê o decreto 10.588/2020.
Oportunidades - Outra parte da palestra foi composta pela participação da administradora Danielle Agrizzi Vida, representante do Grupo Aegea, do qual faz parte a empresa Mirante. Ela falou sobre os desafios e oportunidades para o setor a partir do novo marco legal e pontuou as atividades desenvolvidas pelo grupo no País. Segundo a palestrante, para cumprir a meta prevista no marco de universalização do saneamento até 2033, será necessário um investimento de R$ 750 bilhões no Brasil.
A primeira palestra do ciclo de debates sobre saneamento, promovido pela Escola do Legislativo, aconteceu no dia 6 de abril, com a abordagem sobre o novo marco legal do saneamento. O tema continua em debate nesta quarta-feira (25), com a discussão a respeito da gestão de resíduos sólidos em Piracicaba. O ciclo será encerrado com o tema Saneamento Rural, no dia 8 de junho.