Normalmente usado pelos vereadores para analisar projetos de interesse da cidade, o plenário da Câmara recebeu, na noite desta quinta-feira (21), 29 moradores do Convívio Andreia para a apresentação da proposta do Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto) para levar água encanada ao loteamento, nas proximidades do bairro Godinhos. Ao final da reunião, que foi agendada pelo vereador José Aparecido Longatto (PSDB), a parceria sugerida pelo presidente da autarquia, Vlamir Schiavuzzo, foi aprovada de forma simbólica, com uma salva de palmas.

A proposta segue os mesmos moldes do plano de ação adotado pelo Semae desde que um projeto enviado pelo Executivo à Câmara foi aprovado pelos vereadores, estabelecendo que 50 por cento dos custos da obra sejam arcados pela autarquia e a outra metade seja cotizada por todos os moradores que serão beneficiados com a medida. Até então, uma comunidade que quisesse contar com água encanada tinha que bancar toda a obra sozinha.

"Quando percebi isso", disse Schiavuzzo ao falar do início de sua gestão à frente do Semae, "o prefeito enviou um projeto e os vereadores entenderam que era bom para o povo. Na época, o Longatto explicou como era a proposta e ela foi aprovada. É uma parceria justa, em que todo mundo participa". Longatto é o líder do governo Barjas Negri (PSDB) na Câmara.

A proposta apresentada na reunião realizada na noite desta quinta-feira estabelece que o total a ser pago pelas famílias beneficiadas ficará em R$ 138.837, exatamente metade do custo total da obra, licitada em R$ 277.674 ––valor 43 por cento menor que os R$ 488 mil previstos antes de a concorrência ser aberta pela Prefeitura. A parte que caberá aos moradores deve ser dividida por 100 propriedades, já que, segundo Schiavuzzo, a construção da rede até o Convívio Andreia entrou no mesmo "pacote" da que já vem sendo feita em Godinhos, onde a obra está na reta final pouco mais de dois meses após os donos de propriedades naquele bairro aprovarem o mesmo modelo de parceria apresentado agora aos moradores do loteamento vizinho.

A estimativa é de que, no total, 48 famílias do Convívio Andreia aceitem a proposta, somando-se às 52 adesões contabilizadas em Godinhos. Com isso, cada uma das 100 chácaras e sítios dessa região pagará R$ 1.388,37, que poderão ser parcelados em até 24 vezes (o que dá R$ 57,80 por mês). "Acho que fica fácil para todo mundo ––fazendo um esforcinho–– pagar essa valor e ter água de boa qualidade e em quantidade suficiente para todos", disse Schiavuzzo, segundo o qual as obras para levar água encanada para lugares da cidade que ainda não a tinham alcançaram 70 quilômetros até o final de 2010 ––os números deste ano ainda não foram computados pela autarquia. "Já estamos atendendo praticamente 100 por cento de Piracicaba", observou.

De acordo com o presidente do Semae, a construção da rede de água até a região que abrange o Convívio Andreia e o bairro Godinhos só foi possível em razão da "insistência" de Longatto. "Quem começou esse trabalho foi o Longatto. Ele insistiu. Então, passamos a fazer reuniões, o povo compareceu e isso ajudou muito para fazermos essa parceria", contou Schiavuzzo.

O vereador disse ser um "orgulho" poder ajudar a região. "Um morador me disse: Parece um sonho. Fui nascido e criado aqui sem água encanada. Tudo isso começou com o [ex-prefeito e hoje deputado federal Antonio Carlos de Mendes] Thame, com o projeto "Água para Todos", e Barjas Negri está dando continuidade. Ele quer encerrar o mandato com 100 por cento do esgoto tratado e nenhuma família sem ter água potável para beber", comentou Longatto.

O líder do governo na Câmara ainda elogiou Barjas Negri, afirmando que o prefeito vai ficar marcado no "livro da história de Piracicaba". "Água é fonte de vida. Quem ganha com isso somos todos nós. Nossos netos vão herdar aquilo que deixarmos para eles", concluiu o vereador.

ENTENDA COMO É FEITA A PARCERIA
Para a obra do Semae sair do papel, é necessária a adesão de, pelo menos, 70 por cento das propriedades de uma localidade. No entanto, o montante que cabe aos moradores pagar (metade do valor total) é dividido por 100 por cento das famílias que vivem na região beneficiada, incluindo aquelas que, num primeiro momento, decidirem não quitar sua cota e, portanto, não ter água encanada. A ligação vai chegar à porta dessa propriedade mesmo assim; porém, a família não vai poder usufruir dela, já que preferiu não pagar sua parte agora.

A qualquer momento, entretanto, o dono da propriedade pode mudar de ideia e ter água do Semae nas torneiras de casa: para isso, terá de entrar em contato com a autarquia e quitar a cota que lhe cabe. Se, por exemplo, essa decisão for daqui a dois anos, uma família que vive na região do Convívio Andreia e de Godinhos vai ter pagar os R$ 57,80 cobrados hoje mais as correções monetárias que incidirem no período (é o mesmo índice usado nos reajustes da conta de água).

O controle dessa situação é feito pelo Semae e só é possível porque, pelo plano de ação atualmente adotado, os moradores da região beneficiada se organizam em comissões, que ficam responsáveis por cadastrar todas as propriedades da área. Mesmo que uma família que não queira pagar sua cota nesse primeiro momento resolva se mudar do local, o novo dono terá de quitar o valor devido caso deseje ter água encanada.

O método usado pelo Semae visa impedir que oportunistas, agora ou depois, "driblem" a parceria para poder contar com água sem pagar pela obra que a levou até a região beneficiada. "Às vezes, uma pessoa não quer a água porque não quer pagar a extensão da rede. Quando todo mundo tem água, ela acha que vai pagar só a ligação. Não vai! Vai ter de pagar como todo mundo", enfatizou o presidente do Semae. "Ela é obrigada a pagar conforme o preço do dia, que é reajustado de acordo com o valor da água. Por isso, pedimos o nome de todo mundo, porque depois numeramos [as propriedades] e, quando chegar àquela que não quis, mesmo que já tenha sido vendida, o dono vai ter de pagar", completou Schiavuzzo.

Para aderir à parceria do Semae, o morador precisa apresentar RG, CPF e o contrato de compra e venda do lote que ele possui na região a ser beneficiada, além de assinar uma declaração de compromisso. Os boletos com as prestações a serem quitadas serão enviados a cada morador, mas o pagamento só tem início depois que a ligação tiver sido feita e a água começar a chegar às torneiras. No caso das 100 famílias que residem no Convívio Andreia e em Godinhos, além das 24 parcelas de R$ 57,80, também serão cobrados R$ 190 pela instalação do hidrômetro ––esse valor poderá ser dividido em cinco vezes.

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTOS: Davi Negri / MTB 20.499