
27 DE OUTUBRO DE 2023
Seis ex-servidores que trabalharam na Casa entre 1959 e 2021 falam sobre o que mudou no período em que estiveram no Poder Legislativo piracicabano
De cima para baixo e da esquerda para a direita: Dezidério Paparotto Neto, Maria Lúcia da Silva Rodrigues, Miromar Aparecido Rosa, Luiz Antônio Rolim, Marli Aparecida Mêlega Albano de Paulo e Rubens Vitti
As características do trabalho no período anterior ao avanço da tecnologia, a relação construída no dia a dia com colegas e o testemunho de discussões importantes protagonizadas por vereadores estão entre as lembranças que seis ex-servidores mantêm vivas do período em que trabalharam na Câmara.
Em depoimentos concedidos ao Departamento de Comunicação, quatro homens e duas mulheres relembram não apenas as histórias e curiosidades do passado, mas atualizam para o presente os afetos e as memórias, agora registrados.
Os depoimentos foram originalmente coletados em meio à comemoração do bicentenário da Câmara, no ano passado, e, por ocasião do Dia do Servidor Público, anualmente celebrado em 28 de outubro, são agora disponibilizados à população.
Leia, abaixo, os relatos de Rubens Vitti, Luiz Antônio Rolim, Dezidério Paparotto Neto, Marli Aparecida Mêlega Albano de Paulo, Maria Lúcia da Silva Rodrigues e Miromar Aparecido Rosa, todos ex-servidores efetivos da Câmara Municipal de Piracicaba.
RUBENS VITTI
Nasceu em 20/07/1934, no bairro Santana, em Piracicaba.
Trabalhou na Câmara por 31 anos, de 1959 a 1990.
Ingressei no dia 3 de março de 1959, quando o presidente era o vereador Domingos José Aldrovandi, que me contratou como extranumerário. Quer dizer, eu trabalhava, tinha um salário, mas não tinha cargo efetivo.
Entrei na vaga do professor Guilherme Vitti, que tinha sido vereador. Depois que terminou seu mandato, ele permaneceu na Câmara como funcionário por algum tempo. Mas, quando o Luciano Guidotti foi eleito prefeito, ele o levou para trabalhar na secretaria da Prefeitura; daí o Domingos José Aldrovandi me chamou para o lugar dele.
Em 13 de dezembro de 1960, o presidente seguinte, vereador Manoel Rodrigues Lourenço, me nomeou oficial da Secretaria. Em 22 de abril de 1965, o então presidente Lazaro Pinto Sampaio mudou meu cargo para auxiliar da Secretaria. Depois, em 1º de julho de 1969, o presidente Francisco Antônio Coelho me nomeou chefe de seção de Expediente, Protocolo e Arquivo.
Em 1977, na presidência do vereador Braz Rosilho, passei a exercer o cargo de diretor da Secretaria, que foi alterado para diretor-geral, cargo em que me aposentei em 1986, na presidência do vereador Adalberto Felício Maluf. Eu me aposentei em 31 de março de 1987, através de portaria assinada pelo presidente Braz Rosilho; porém, através de resolução assinada pelo então presidente Irineo Ulisses Bonassi e, em vista do reduzido número de funcionários na Secretaria da Câmara, permaneci por mais três anos, até o final de 1990.
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Quando eu cheguei à Câmara encontrei apenas três funcionários: o diretor, Lino Vitti; um escriturário; e um chefe de limpeza e da copa e cozinha, mais ninguém. Três funcionários. O Lino Vitti tinha que atender todos os vereadores, fazia a ata das sessões. E o escriturário fazia serviço de datilografia. Foi aí que eu entrei e ficamos em quatro funcionários, mas na verdade quem arcava com quase tudo era eu. Porque o Lino Vitti era o diretor e também fazia a função de contador, porque a Câmara não tinha um e ele tinha feito o curso.
O escriturário eu conheci pouco, porque ele faleceu logo depois que eu entrei. Aí ficamos em três de novo. Então, quem quebrava o galho de tudo era eu, porque o Lino Vitti não saía da Câmara, ficava só lá dentro.
Nós três “tocamos o barco” ainda por um tempo, até que foi feito um concurso público para contratar três escriturárias e uma equipe de limpeza. E o que também estava fazendo muita falta era um contador, já que quem fazia esse trabalho, como já disse, era o diretor, Lino Vitti. Mas um dia não sei o que aconteceu com ele e o presidente, se houve uma desavença, não sei o que foi, ele ficou bravo, chegou à minha mesa e falou: “De hoje em diante você vai tomar conta”. Eu fui nomeado no grito… (risos). “Você passa a ser contador da Câmara.” Eu falei: “Contador… eu só conto piada”. Fui nomeado, mas não tem um Ato da Mesa, não tem uma Portaria, não tem nada. Foi no grito. Desempenhei essa função durante uns 15 anos, até ser contratado um contador, e sem ganhar nada mais por isso. Só em 1973, 10 anos ou 11 anos depois, quando o presidente era o Gustavo [Jacques Dias] Alvim, é que ele resolveu pagar uma gratificação de 30% do salário.
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Quando a Câmara precisava fazer uma compra, se ela fosse de pequeno valor, por exemplo para a copa, para a limpeza, a pessoa encarregada apresentava uma lista, que eu via e autorizava, e ela ia à loja, comprava e trazia a nota. Tudo direitinho.
A lei exigia que fizéssemos pesquisa de preço com pelo menos três, quatro empresas. Quando eram valores maiores, aí você tinha que fazer concorrência pública. Eu tinha três pastas: uma de contas a pagar, não empenhadas; a pagar, empenhadas; e outra de empenhadas e pagas.
E todo mês, eu, como não era contador de verdade, pegava todos aqueles empenhos e mandava lá para a Prefeitura, entregava para o contador e ele me ajudava. Tive três ou quatro pessoas que me ajudaram muito lá, passavam no livro contábil e assinavam. E, com isso, a Câmara nunca teve problemas na aprovação das contas.
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Na Secretaria, os vereadores às vezes traziam as ideias de proposituras na hora da sessão, não traziam as coisas arrumadinhas, e pediam: “Faça isso aqui para mim”. Falavam só o que era e tínhamos que redigir o requerimento, a indicação, e pensar em uma justificativa. Fiquei os últimos três anos fazendo só isso.
Eu fazia toda a parte de escrituração e também tudo o que precisava ser datilografado: projetos de lei, requerimentos, indicações, depois toda a correspondência que vinha, nem que fosse um simples telegrama. Tudo tinha que ser registrado no livro de protocolo, fazer uma ficha e arquivar.
Depois, conforme o tipo de projeto, ele ia para as comissões: de Justiça, de Finanças, de Educação ou de Obras Públicas. Então, a Secretaria organizava o projeto, fazia uma pasta e encaminhava para a respectiva comissão dar parecer. Depois que passava pelas comissões, o projeto ia para a Ordem do Dia. Aí, por fim, tinha que tirar cópia de tudo, grampear 21 Ordens do Dia e depois entregar aos vereadores.
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As sessões da Câmara, naquela época, eram às segundas-feiras. Então, até a sexta-feira anterior, eu tinha que deixar pronta a pauta das matérias que seriam discutidas, datilografá-la e tirar uma cópia num mimeógrafo a álcool. E, se houvesse projeto de lei, também tinha que datilografar o projeto, a justificativa e os pareceres das comissões.
Naquele tempo eram 21 vereadores, então eu precisava fazer chegar à mão deles uma cópia de tudo que ia ser discutido. E quem entregava tudo isso, pessoalmente, era eu, o oficial da Secretaria. Tinha que dar um jeito: se fosse dia de sol, eu ia de bicicleta, e quando chovia eu tinha que ir a pé, com o guarda-chuva; tinha vereador que morava na Paulista, na Cidade Alta, e eu ficava atento: quando um deles vinha à Câmara, para mim era uma alegria, pois era uma viagem a menos para entregar (risos).
Aí, um dia, por insistência do diretor, compraram uma motoca “Javinha”; tinha a moto Java, que era grande, e tinha a “Javinha”, que era pequenininha. É com essa que eu ia entregar. Melhorou bem, né? Só que, um dia, eu estava descendo a rua São José, na esquina com a rua Tiradentes, acho que tinha um pouquinho de areia no chão. Eu fiz a volta e a moto foi parar no meio da rua. A roda ficou girando e eu caí na sarjeta. Esfolei o joelho todo… Consegui levantar, fui à farmácia do Zezinho, fiz um curativo, voltei para a Câmara e até hoje ninguém soube o que aconteceu. A moto não estragou e ninguém perguntou nada. Continuei com essa “motoquinha” por um tempo, até que um dia trocaram por uma Monark, que só usei em duas ocasiões. Na primeira, caiu a corrente e eu não conseguia colocar de volta de jeito nenhum. Tive que vir empurrando e a deixei em uma oficina em frente à Câmara. Na outra semana, quebrou de novo. Voltei à oficina e o cara falou: “Cada vez que o senhor sair vai acontecer isso porque o eixo da moto está torto”. O que eu fiz? Botei a moto no porão da Câmara e continuei com a bicicleta.
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O prédio da Câmara, antigamente, era onde é o estacionamento hoje. Tinha um terracinho, uma escadinha que já dava na Secretaria. Todo mundo que fosse à Câmara tinha que passar pela Secretaria, seja para conversar com o presidente, já que a sala dele era do outro lado, seja para participar de uma reunião ou da sessão. E a Secretaria era pequena: tinha uma mesa lá, outra ali. Era a Secretaria e era a passagem também.
Lembro que em 1967, na comemoração do bicentenário da cidade, o presidente pediu para fazer 200 convites. E onde ia acomodar esses 200 convidados? A Câmara não tinha condição nenhuma. No fundo da sala de sessão tinha um espaçozinho pequeno e não cabiam mais do que 30, 40 cadeiras. E tinha um banheiro que dava até vergonha, um cubículo. Havia também uma copa e uma cozinha minúsculas. O prédio não tinha a mínima condição de receber uma Câmara.
Em geral, todo ano, quando se comemorava o aniversário da cidade, o presidente conseguia dos clubes o empréstimo dos salões. Não sei por que, para comemorar o bicentenário, não tiveram a mesma ideia de emprestar o salão de um clube. Quiseram fazer na Câmara: muitos ficaram ali na Secretaria, se acotovelando naquele espaçozinho, mas não veio nem metade dos convidados. Mesmo assim, ficou bem apertado.
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Era uma Câmara que não oferecia estrutura nenhuma para você trabalhar; o material de serviço não tinha nada de tecnológico, eram umas máquinas de escrever bem antigas. Eram outros tempos. A Prefeitura não era muito melhor, só um pouco maior. Eram duas residências antigas: uma era a Câmara e a outra, a Prefeitura, mais ou menos com o mesmo formato. E ao lado tinha um prédio pequeno, onde funcionava o Departamento de Água e Esgoto e onde hoje fica o prédio principal da Câmara. O atual prédio da Câmara foi inaugurado em 1975, mas o prédio velho continuou existindo por um bom tempo. Esse novo prédio era bonito, espaçoso, mas demorou bastante para as coisas começarem a melhorar.
O único que tinha gabinete era o presidente; os vereadores despachavam quando iam à sessão da Câmara. Pelo menos até 1990 não havia salas para cada gabinete de vereador. Só depois é que houve essa mudança, quando a Prefeitura cedeu parte do atual prédio anexo à Câmara.
Os móveis e as máquinas de escrever foram chegando aos poucos, depois vieram uma máquina de escrever elétrica e um mimeógrafo elétrico. A única coisa que melhorou, mas isso foi bem depois, foi a instalação do elevador. Aquele antigo problema de as pessoas passarem pela Secretaria continuou por um bom tempo. Para ir ao subsolo, cadê o elevador? Não tinha. O que fazia? Tinha que passar pela Secretaria. E se você quisesse ir para o outro lado, você tinha que passar pela sala do presidente. Você tinha que descer uma escadinha e atravessar todo o Plenário, e aquilo me angustiava. Eu falava: “Meu Deus do céu, precisa colocar esse elevador”. Por vários anos eu briguei por conta daquele elevador. Só quatro anos depois da inauguração é que puseram. O presidente era o Braz Rosilho, que ficou de 1977 a 1979, depois voltou de 1981 a 1983.
Antes do prédio novo, muitos nem sabiam o que era a Câmara (risos). Já com ele, aumentou bem o número de pessoas presentes às sessões, principalmente quando tinha algum projeto que chamasse mais a atenção. A Ordem do Dia, que eu falei que entregava para os vereadores, eu mandava para a imprensa também, e ela às vezes dava destaque: “A Câmara vai votar tal projeto”. Caso contrário, o comparecimento era fraco.
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[Na época do Regime Militar] Havia só dois partidos, Arena e MDB, e tinha hora que as discussões esquentavam, por exemplo, quando era uma obra importante. Quando o prefeito Luciano Guidotti fez a cobertura do ribeirão Itapeva, embaixo da avenida Armando de Salles Oliveira, a Câmara queria, de todo jeito, que o prefeito, antes de fazer a cobertura, cimentasse e nivelasse o fundo também, para evitar que a água ficasse parada lá.
Lembro que tinham dois vereadores que eram ligados a sindicatos e, para a ditadura, se falasse em sindicato, a pessoa já era comunista. Então, eles se afastaram, preocupados, mas acho que não aconteceu nada com eles. O problema maior foi com o Romeu Ítalo Ripoli, que foi presidente da Câmara em 1969. Antes, ele foi presidente do XV de Piracicaba e fez uma excursão com o time pela Europa. E não sei se ele levou a equipe a algum país comunista, ou se os policiais cismaram que ele tinha ido, só sei que deu um rolo: os militares mandaram uma intimação para ele, invadiram a casa dele para vasculhar as papeladas. Isso foi em outubro de 1969. Aí o Ripoli recebeu uma intimação para fazer um relatório completo da viagem, com todos os países que ele tinha visitado, tudo detalhado. Ele ficou muito abalado, se afastou da Câmara. Mas um dia ele recebeu uma carta do Exército falando que eles tinham entrado na casa dele e que não encontraram nada irregular, que estava tudo em ordem. Aí ele “ressuscitou”, voltou para a Câmara, voltou a ser presidente. Mas não foi fácil.
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Eu assisti praticamente ao vivo à queda do Comurba, já que o prédio antigo da Câmara era onde hoje é o estacionamento, bem de frente para o Comurba, justamente para a parte que desabou. Caiu a metade que estava quase pronta, pois já estavam para entregar os apartamentos para as pessoas morarem, e a outra parte era para escritórios.
A minha mesa de serviço, com a máquina de escrever, ficava encostada bem de frente para um vitrô basculante. Toda vez que eu ficava cansado de escrever, o que eu via na minha frente era aquele paredão do Comurba. E um dia eu estava escrevendo e escutei um barulhão, como se fosse um trovão ao longe. E aquela poeira que cobriu todo o Centro da cidade entrou na Câmara e não dava para ver mais ninguém. Eu falei: “Nossa, o que será que aconteceu? Meu Deus!”. Aí passou um tempo e eu não saí dali, porque não enxergava nada. Comecei a escutar na rua o pessoal gritando: “Caiu o Comurba, caiu o Comurba”. Falei: “Nossa, o Comurba estava ali agora mesmo”. Passou um tempo, eu olhei e não tinha mais o Comurba, tinha um clarão em frente. Eu não o vi cair, mas eu estava ali e senti tudo. Foi uma coisa terrível, uma tragédia.
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Antes de ingressar na Câmara eu dava aula em um colégio, nós tínhamos cursos de admissão. Então, sempre lidei com bastante gente, estava acostumado. E na Câmara, no início, além dos funcionários, havia 21 vereadores; então não teve problema nenhum, nunca tive atrito com ninguém. Eu formei uma “família” na Câmara. A turma me respeitava muito e eu respeitava todos. Também sempre me dei bem com os presidentes, que confiavam no que eu fazia, em comprar, fazer pesquisa de preço e lançar no orçamento. Tanto assim que todo fim de ano vinham os fiscais do Tribunal de Contas e eles iam procurar direto o contador. E eu ficava dois, três dias à disposição deles, que queriam ver tudo, tim-tim por tim-tim. E nos 15 anos em que eu fiz o papel de contador, graças a Deus nunca tivemos problemas. Sempre fui de fazer e exigir as coisas certas, mas sem brigar.
A Câmara, para mim, foi uma escola. Eu aprendi muita coisa que acontecia, na parte social e na parte política. Na parte social porque eu trabalhei, entre vereadores e funcionários, acho que com mais de 200 pessoas, de todos os níveis sociais. Consegui me entrosar e viver no meio de todas essas diferenças.
Hoje a Câmara tem cerca de 200 funcionários, é a evolução dos tempos. A parte tecnológica evoluiu, tem que evoluir também o número de pessoal, né? Eu apoio todas as mudanças que houve na Câmara. As pessoas me perguntam se eu vejo diferenças entre a Câmara de hoje e as de antigamente e eu falo que não, que o funcionamento não foi nem menos nem mais, nem pior nem melhor, porque funcionavam, no seu tempo, do jeito que podiam.
E o conselho que eu dou para os atuais servidores é de que procurem exercer da melhor maneira possível as funções que o cargo impõe, fazer da melhor maneira possível aquilo que lhes é determinado pelo cargo. Foi o que, modéstia à parte, eu procurei fazer.
LUIZ ANTÔNIO ROLIM
Nasceu em 01/set/1940, em Garça (SP).
Trabalhou na Câmara de 04/02/1977 a 05/01/1994.
Nasci em Garça, onde fiquei até os 12 anos. Depois fui para o seminário, em Lins, onde fiquei por 5 anos. Fiz Direito em Bauru e, em seguida, trabalhei como jornalista na Folha de Piracicaba, com o Cecílio [Elias Netto], que era o diretor. Depois, fui para o Diário de Piracicaba em 1963, em que o diretor na época era o Sebastião Ferraz.
Ingressei na Câmara como funcionário efetivo em 1977, primeiro como assessor jurídico, depois ocupando o cargo de diretor-geral em 1987. Mas antes, de 1973 a 1976, eu havia sido vereador. E, como eu já tinha feito Direito, eu já tinha conhecimento do que eram a Câmara e a competência do vereador, o que podia fazer, quais eram as regras.
As primeiras reuniões camarárias das quais participei foram no prédio antigo, onde hoje é o estacionamento; estavam terminando a construção do atual prédio. Aí terminou e fomos para lá. As sessões aconteciam às segundas-feiras à noite.
No início, não tínhamos gabinetes. Depois, no prédio novo, tinha uma salinha. E não tínhamos assessores: se você queria fazer um projeto, indicações, requerimentos, era você mesmo quem fazia. Os funcionários da Secretaria, que eram poucos, nos ajudavam a escrever, fazer o rascunho, e tudo era feito com máquina de escrever. Não existia a Assessoria Jurídica, nem a Comunicação. Não havia departamentos. Havia as comissões, criadas por lei: Comissão de Justiça e Redação e Comissão de Finanças, composta por vereadores.
E, quando eu fui vereador, não tinha carro oficial, apenas um veículo cedido pela Prefeitura. Quando havia reuniões em São Paulo, por exemplo, íamos com o carro da Prefeitura e o motorista da Câmara. Depois, a Casa comprou um carro Aero Willys, mas, no geral, íamos com recursos próprios.
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Não era um dos meus ideais ser político, digamos assim, ativo em partidos. Mas esse sentimento surgiu com o MDB na época, para uma renovação, pois nós formamos o partido com muitos jovens. Houve uma renovação muito grande na Câmara. Em 1973, o Adilson Maluf, que também era jovem e do partido, assumiu a Prefeitura e eu estava como vereador de bancada. Eu gostei porque, para mim, foi muito bom, já que comecei a participar da política local, das decisões. Eu me senti bem, realizado. Participar num órgão público foi muito bom, poder fazer alguma coisa comunitária.
A época da Revolução [Regime Militar] era meio barra-pesada. Uma vez, um projeto de lei do Executivo propunha pagar aluguel para sargentos. Porque os sargentos são transferidos, vêm para cá, então o projeto propunha pagar aluguel. E eu fui contra. Fui à tribuna e falei o que devia, na época. Passados uns 3, 4 anos, houve a inauguração do prédio onde seria instalado o Tiro de Guerra, já era o [Ernesto] Geisel o presidente, e vieram vários militares. Eu, como vereador, fui lá também. E num belo momento apareceu um fulano que depois eu descobri que era general. Ele perguntou: “Você que é o Rolim?”. Eu falei: “Sou. Por quê?”. Ele continuou: “O que você tem contra o Exército?”. E fez um discurso para mim, e eu fiquei quieto. Na época, o Cecílio [Elias Netto] foi chamado a Campinas, pressionado, e também alguns vereadores. Um deles, o Newton da Silva, foi detido também. Era pesada a barra.
E uma vez eu fiz um projeto de lei para que a Prefeitura criasse uma concessionária para sepultamento dos mortos, como já existia em Campinas. O caixão ficaria mais barato. E as empresas funerárias da cidade, que eram cinco ou seis, se rebelaram contra mim e começaram a fazer um movimento. Em uma das funerárias tinha até um caixão de pé: “Este caixão é do professor Rolim”. E uma pessoa de outra funerária, que era grande amigo meu, ficou meu inimigo, virou a cara para mim. E o projeto de lei não foi aprovado, não.
Também lembro que apresentei um projeto de lei para o comércio poder funcionar à noite. Deu uma confusão: vários comerciantes se reuniram e fizeram passeata. No dia das votações a Câmara ficou lotada, com comerciantes e funcionários, todos contra. Mas foi aprovado. Na época, tinha bastante participação popular, assim como hoje: ficava cheia durante as sessões, que também eram transmitidas ao vivo na íntegra pela Rádio Difusora. E sempre havia um ou dois repórteres, dos jornais e das emissoras; a imprensa acompanhava religiosamente.
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Em 1977, houve um concurso para o cargo de assessor jurídico, que teve uns quatro concorrentes, advogados. Eu prestei e passei. Sempre tomei cuidado de não ser advogado de vereador, e sim da Câmara.
A Assessoria Jurídica era onde hoje fica a Sala da Presidência, no prédio principal. Eu era o único assessor jurídico da Câmara. Do outro lado era uma sala de reuniões e, embaixo, tinha o Setor de Finanças.
Em todas as sessões eu tinha que ficar assessorando o presidente em vários assuntos. Muitas vezes, ocorriam problemas: um vereador tomava uma posição contra o presidente.
Além disso, nós assessorávamos os vereadores nas comissões.
Inclusive era muito comum os vereadores apresentarem projetos de lei inconstitucionais, por exemplo criando despesas, que é algo que não podia. Então, eu dava parecer contrário: “É inconstitucional, não pode”. Com isso, a Assessoria Jurídica muitas vezes se colocava contra os vereadores, contra os projetos. Isso era muito comum. E havia sempre brigas, ou então problemas, na Presidência, com o Executivo.
E também acontecia de vereadores fazerem projetos “proibindo”. Certa vez, um projeto de lei de um vereador determinava que em todos os bares e restaurantes de Piracicaba as bebidas deveriam ser servidas em copos plásticos e que, após o uso, o estabelecimento deveria ter um recipiente para furar o copo e inutilizá-lo antes de jogar no lixo. E outra vez alguém fez um projeto falando de controle de natalidade, que a pessoa deveria ter no máximo três filhos. Quer dizer, totalmente inconstitucional.
Isso vinha para mim na época, era muito comum. Então também procurávamos muito o Cepam [Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal], que era um órgão jurídico do Governo do Estado, e trazíamos os pareceres para assuntos que não dependiam só daqui.
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Eu fui o último diretor-geral da Câmara. Assumi o cargo em 1987, após a aposentadoria do Rubens Vitti. Em todo o meu período na Câmara, a convivência foi muito boa, todo mundo se dava bem. Não havia discriminação de partido: a gente tinha amigos de um lado e amigos do outro.
Não lembro como foi meu último dia como servidor, porque eu continuei frequentando a Casa. Não deu para sentir saudades pois me mantive participando politicamente, em comissões públicas. Porque eu também era professor da Unimep [Universidade Metodista de Piracicaba] desde agosto de 1980 e, a partir de 1987, passei a ser o coordenador do curso de Direito. Além disso, escrevi livros na área e tive participações em organizações sociais, como IHGP [Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba], Rotary e OAB [Ordem dos Advogados do Brasil].
Antigamente tínhamos menos recursos, era uma verba pequena. Era uma dificuldade. Hoje a Câmara está muito bem estruturada, sem dúvida nenhuma, e continua a defender os interesses do município. O Poder Legislativo é o contrapeso: nos três poderes, um é o contrabalanço do outro. A Câmara é necessária, porque, se não tiver o Poder Legislativo, aí é ditadura mesmo.
DEZIDÉRIO PAPAROTTO NETO
Nasceu em 14/04/1947, em Piracicaba.
Trabalhou na Câmara de 23/02/1972 a 06/06/1994.
Entrei na Câmara em 23 de fevereiro de 1972, com quase 25 anos de idade, quando o presidente era o Rubens [Leite Canto] Braga. A aposentadoria foi em 6 de junho de 1994. Nesse tempo eu tive três nomeações. Comecei com o cargo de motorista, fui o primeiro motorista que a Câmara teve. Depois fui chefe dos motoristas e, por último, chefe do transporte e da manutenção do prédio. Quando entrei, eu era contratado. Daí o presidente Antonio Messias Galdino fez um concurso, eu prestei e me tornei efetivo. Em 19 de julho de 1976, eu peguei a nomeação efetiva.
No primeiro dia como motorista, fiquei meio acanhado porque eu trabalhava com caminhão, então estranhei muito o serviço, de dirigir carro pequeno. Era comum os vereadores participarem de reuniões na capital; como antes eu fazia muitas entregas por lá, com caminhão, eu já tinha um bom conhecimento da cidade de São Paulo, já tinha essa prática. Só precisei aprender o caminho para ir ao Anhembi, ao Palácio do Governo, à Assembleia Legislativa, e depois o resto eu tirava de letra. Então, o pessoal gostou de mim. Acho que o salário naquela época seria igual a R$ 2 mil, R$ 3 mil de hoje.
O horário de trabalho era estipulado mas, como a gente viajava, ele não era muito certo, né? Chegava de madrugada às vezes, saía de madrugada às vezes. Para motorista, é duro falar em horário.
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Trabalhei com um Aero Willys 72, o primeiro carro que a Câmara teve. Também dirigi um Opala, um Fusca e um Galaxie Landau 500. O melhor de todos foi o Galaxie. O Aero Willys era bom, mas não igual ao Galaxie.
Na época, tinha menos trânsito do que hoje, mas o comportamento não era tão diferente. Hoje está um pouquinho mais louco, né? A rapaziada nova não está respeitando muito as coisas.
Uma vez, com o Galaxie, uma senhora cega atravessou a pista e eu freei. Mas eu freei em cima dela e a derrubei. Não aconteceu nada, ela só caiu. A sorte é que o Galaxie Landau 500 tinha um freio “violento”. Eu pisei e o carro “arrastou”, senão tinha complicado.
A partir do momento em que me nomearam para o cargo de chefe, eu não viajei mais, deixei de dirigir. Passei a tomar conta da distribuição de viagens para os motoristas, que eram quatro ou cinco, e eu passava até o roteiro para aquele que não conhecia o trajeto.
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Na chefia, além do transporte, eu também coordenava a manutenção do prédio. Problemas de falta d’água, de eletricidade, tudo eu consertava. Eu até podia chamar pessoas para fazer o trabalho, mas eu mesmo fazia, já que antes da Câmara eu tinha trabalhado como marceneiro na oficina do Ângelo Cobra, o famoso Cobrinha, com o Antônio Bertolotti e com o João José Palomena.
Não tive professor; foi na época da marcenaria que eu aprendi tudo: eletricidade, hidráulica… Às vezes quebrava uma porta, alguma coisa. Daí eu comprava outra e assentava. Era isso que eu fazia. A minha função era comprar e levar a nota fiscal ao tesoureiro. Depois, eles pagavam.
Tanto é que eu me aposentei e no outro dia a Câmara fechou por falta d’água, porque o rapaz que me ajudava e que ficou não sabia resolver. E era só a boia da caixa d’água que estava enroscada… Fecharam a Câmara por conta de uma boia enroscada na caixa d’água (risos).
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Quando eu entrei, a Câmara ficava no casarão velho, aqui na rua Alferes José Caetano. Depois é que nós passamos para a Câmara nova [atual prédio principal], então era tudo novo. Aí, só conforme as coisas fossem dando problema é que eu ia fazendo os serviços.
No prédio novo ficavam os gabinetes, a maioria no subsolo, enquanto a Presidência e a Primeira Secretaria ficavam no térreo.
O ambiente era bom, sempre me dei bem com todo o pessoal. Eu não posso falar mal da Câmara; se eu tivesse sofrido na mão das pessoas, tudo bem, mas não foi isso que aconteceu. A Câmara foi um lugar bom onde eu trabalhei, foi dali que tirei o meu sustento até conseguir me aposentar, pelo total de tempo de serviço.
Depois, já como aposentado, fui trabalhar com ônibus, em viagens diretas para o Paraguai. Era o chamado “foguetão”, em que as pessoas iam buscar mercadorias lá. Depois disso, dirigi outros ônibus, como [da dupla sertaneja] Cezar & Paulinho, da banda União Operária.
Apesar de eu ter trabalhado na Câmara, nunca fui chegado em política, tanto é que hoje não acompanho e nunca mais entrei na Câmara, mas eu sempre encontro ex-colegas de trabalho por aí e sinto saudade dos que já foram embora.
No meu último dia na Casa fui homenageado, o presidente era o Luiz Eduardo Pereira. Recebi uma carta de referência, uma coisa extraordinária. Se eu chegasse em qualquer lugar e me perguntassem de onde eu vinha: “Tá aqui, olha. Se servir para você, você me contrata”. Acho que eu era um bom funcionário porque ninguém nunca brigou comigo (risos). Fiz a minha parte bem feita.
MARLI APARECIDA MÊLEGA ALBANO DE PAULO
Nasceu 02/02/1962, em Piracicaba.
Trabalhou na Câmara de 28/12/1994 a 30/04/2020.
Meu primeiro dia de trabalho na Câmara, quando eu assumi a vaga para o cargo de agente administrativo, foi em 28 de dezembro de 1994. Confesso que fiquei um pouco perdida e, até aprender, levou um tempo, fiquei um, dois meses aprendendo. Depois me acostumei com a função.
Antes, eu tinha prestado dois concursos públicos: um na Prefeitura de Saltinho, para uma vaga no departamento pessoal em que eu fiquei em segundo lugar, e outro na Emdhap [antiga Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba], também para uma vaga de encarregada de departamento pessoal em que eu fiquei em segundo lugar novamente. Daí surgiu o concurso da Câmara em 1994, que tinha mais de uma vaga. E eu falei: “Vou tentar, vou fazer o concurso”. Fiz, fiquei em segundo lugar novamente e fui chamada (risos). Foi um grupo grande que entrou junto [no mesmo concurso], então fomos nos adaptando todos. A convivência sempre foi boa, maravilhosa. Foi uma época muito boa para se trabalhar, mesmo a gente não tendo os recursos tecnológicos de hoje.
Quando eu cheguei, o Departamento Administrativo era todo junto numa sala, o RH [Recursos Humanos] era lá também. E os vereadores ficavam todos no subsolo [do prédio principal]. Quando eles foram para o prédio anexo, sobraram as salas do subsolo e começamos a pleiteá-las. Daí foram se criando os setores de Manutenção, de CPD [antigo Centro de Processamento de Dados], de Protocolo.
No início, nós éramos em seis pessoas numa sala bem pequena e um computador só. Ficava uma mesa atrás da outra, muito apertadas, e o computador ficava do lado. E tinha outro computador que ficava no CPD: quando precisávamos fazer um ofício ou qualquer outro documento, tínhamos que usar aquele computador e praticamente fazíamos fila (risos). Tinha também máquina de escrever, que eu usava muito para fazer fichas de funcionários e anotações de férias.
Só depois é que apareceu a internet e daí é que começaram a comprar mais computadores. A internet começou na Câmara em 1998, 1999. Para todos, foi um impacto muito forte. A gente, até então, não tinha, não conhecia. Não tinha nem celular, porque o celular veio depois ainda.
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Eu entrei na Câmara ansiosa para fazer parte do RH, pois tenho curso técnico e atuava na área. Trabalhei em escritório contábil por vários anos e cuidava de 50, 60 empresas. O curso ajuda, mas o aprendizado mesmo foi no trabalho. Mas na Câmara, inicialmente, a vaga não me foi dada, pois já havia uma outra pessoa no RH, e eu fui para a área de contratos. Aprendi a fazer contratos e licitações e cuidava também dos pedidos de compras para o refeitório, que ficava em frente à nossa sala, no segundo andar [do prédio principal, o único que existia na época].
Fiquei na área de contratos até 2003, quando surgiu uma vaga no RH. Eu queria muito aquela vaga, mas a diretora, que era a Eleni Cunha Caldeira, e o presidente, João Manoel dos Santos, não queriam que eu saísse do Setor de Contratos. Nessa época, cada setor já tinha a sua sala [no subsolo]. Então, me comprometi a ajudar nos contratos e nas licitações e trabalhar também no Setor de RH, que era o que eu queria. E fiquei assim até que a pessoa que me substituiu aprendesse sobre contratos e licitações. Foi bem puxado, pois eu fazia os dois. Daí depois fiquei só no RH, até me aposentar.
Quando entrei, o RH cuidava de uma série de coisas, como nomeações e férias, mas os holerites eram executados pelo Financeiro. Aí, quando eu comecei a fazer o RH, passaram para mim os holerites. O Setor de RH era apenas eu e uma estagiária. Depois, eu convidei a Aneli [Aparecida Godoy], que era do Protocolo, para trabalhar comigo, porque foi aumentando o número de funcionários e o trabalho.
Foi contratado um assessor para cada gabinete, daí começou a aumentar a quantidade de funcionários e também de estagiários. Teve uma época em que todos os gabinetes tinham estagiários. Fico muito feliz de alguns estagiários, que passaram conosco, estarem trabalhando hoje, por exemplo, em Recursos Humanos. Estagiários que trabalharam comigo e conseguiram um emprego bom, numa empresa conceituada. Às vezes eu os encontro na rua e fico muito feliz por isso. É sinal de que a pessoa gostou, aprendeu.
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O que eu mais adorava era o arquivo, que é uma coisa que ninguém gosta. Até mesmo antes de eu me aposentar, fiz questão de arquivar o meu processo [assentamento funcional] e o da Mônica Faria [ex-servidora do Departamento Legislativo]. Nós duas nos aposentamos juntas. Eu não gostava de que ninguém arquivasse, porque têm umas técnicas que o pessoal não domina: a questão dos furos, da folha ficar certinha. O que eu mais gostava era disso e de fazer as nomeações e anotações de férias. Apesar de a gente ter um sistema no computador, tudo controlado sobre férias, faltas e abonos, eu fazia de forma manual também: anotava nas fichas com a máquina de escrever, até que me tiraram a máquina (risos) e eu comecei a anotar a caneta. Sempre gostei de ter um sistema paralelo de controle: de dias, de abonos, de banco de horas.
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Uma coisa que me marcou foi quando o Fábio Bragança, que era da parte de documentação, propôs enterrar na frente do prédio principal da Câmara uma cápsula do tempo para ser aberta dali a 50 anos. Achei muito interessante da parte dele fazer isso quando ele estava aqui. E eu fiz uma cartinha, coloquei numa caixinha uns carrinhos bem legais, antigos. Cada funcionário fez o seu... Daqui a alguns anos essa cápsula será aberta, não sei se vou estar aqui, mas é legal isso.
Outra lembrança que tenho é do [José] Eduardo Rufino de Oliveira, que era chefe do Legislativo quando entramos aqui em 1994. Ele foi uma pessoa muito especial para mim, porque no pouco tempo de contato que tive com ele, um ano e pouco, ele era um dos que mais nos aconselhavam e ensinavam no trabalho. Ele dava assistência a Câmaras de Vereadores de cidades vizinhas e, numa noite, sofreu um acidente na estrada à noite. Por conta disso, ele precisou de sangue e foi aí que eu comecei a ser uma doadora. Doei de 1995 até 2012, quando tive um câncer de mama e parei. Mas até 2012, direto, a cada 3 meses, 4 meses, eu ia ao Hemonúcleo doar sangue.
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Meu último dia de trabalho na Câmara foi normal, eu trabalhei normal. Chegou no final da tarde: “Gente, eu não venho mais, tá?”. Fizeram uma despedida para mim, foi muito legal. Eu saí feliz, não saí triste.
Eu gosto muito da Câmara ainda e continuo seguindo o que acontece desde quando saí. Gosto de ver o Diário Oficial, de ver o que está acontecendo. Um dia eu vou parar, mas ainda estou fazendo isso (risos). Continuo vendo as notícias, acompanho o site até hoje.
A Câmara é muito importante para a cidade toda. Se não tiver o Legislativo, como serão feitas as leis? Tudo passa por aqui. É interessante que o povo veja o que está sendo votado ou não. O nosso Legislativo sempre foi muito bem conceituado, tanto é que recebíamos muitas visitas de outras Câmaras para ver o que fazíamos. Era muito legal isso e também um exemplo, né?
A Câmara foi minha segunda casa, porque eu ficava a maior parte do tempo aqui. Por exemplo, no final, já perto de me aposentar, eu almoçava aqui mesmo e às vezes conversava com fulano, sicrano. E eu era muito de ouvir as pessoas: não sou muito de falar, sou mais de ouvir.
E eu sempre trabalhei com vontade. Em órgão público, é muito importante o atendimento: você vai a qualquer lugar e quer ser bem atendido. Então isso, para mim, era uma prioridade: chegava alguém e sempre tive comigo de tratar bem as pessoas.
E também sempre procurei ajudar os funcionários, dentro das normas. Só tenho a agradecer a esta Casa, porque a Câmara sempre deu estrutura e apoio a todos os funcionários, em tudo o que precisávamos. O suporte que dão para o funcionário é excelente.
Sinto muita falta dos amigos, do companheirismo. Sempre estávamos juntos, conversávamos todos os dias. Voltando aqui [para a comemoração dos 200 anos], eu matei as saudades; achei que fosse ficar triste, chorar, mas fiquei tão feliz... Eu achei que nunca mais fosse voltar aqui. Não sinto tristeza, ao contrário: me sinto feliz de estar aqui, por ter dado o melhor de mim. Acho que o que eu pude fazer eu fiz.
MARIA LÚCIA DA SILVA RODRIGUES
Nasceu em 03/02/1951, em Anhembi (SP).
Trabalhou na Câmara de 16/01/1995 a 31/07/2017.
Entrei na Câmara de Piracicaba em 1995, mas antes trabalhei por três anos na Câmara de Anhembi, cidade onde eu nasci e morava. Lá foi aberto concurso público, eu prestei e passei em primeiro lugar. Trabalhava sozinha e fazia tudo: indicação, requerimento, montava os projetos de lei.
Quando surgiu o concurso público da Câmara de Piracicaba, meus filhos já estavam com 10, 12 anos. Falei: “Preciso ir embora de Anhembi porque eles precisam estudar em uma escola melhor”. Antes de prestar o concurso, primeiro de tudo, eu vim duas vezes para Piracicaba assistir às reuniões ordinárias para ver como funcionavam. Peguei o Regimento Interno, a Lei Orgânica e comecei a estudar para o concurso, que foi em outubro. Acho que tinham 1.500, 2.000 pessoas prestando na época, e eu passei com cerca de 700 candidatos para a segunda fase, que era prova de datilografia, realizada na própria Câmara. Falei: “Sempre aprendi que é melhor a qualidade do que a quantidade”. Então, fiz um texto curto, mas com qualidade, com o espaço certo, com as palavras certas. Pensei que não iria passar, porque fiz um pedacinho enquanto todo mundo estava escrevendo bastante. No fim, em dezembro, saiu o resultado e eu passei em primeiro lugar. Eu saí da Câmara de Anhembi numa sexta-feira e comecei na de Piracicaba numa segunda. Saí de uma Câmara pequena, que tinha uma única funcionária, para outra com uma estrutura grande, algo totalmente diferente.
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Comecei na Câmara como assistente legislativo. Lembro que, quando entrei, o Clóvis Vaz Filho era meu chefe e me apresentou para todo mundo: “Você vai ficar nessa parte de indicação, requerimento”. Além do diretor, que era cargo em comissão, havia cinco funcionários concursados e também três ou quatro estagiários.
Tínhamos que digitar todas as indicações, os requerimentos, os projetos de lei, porque não havia a facilidade que se tem hoje: os gabinetes mandavam o rascunho e nós montávamos para eles. Era muito serviço de digitação e, para mim, foi um aprendizado, porque eu nunca havia trabalhado com computador. Foi difícil no começo, mas depois peguei o jeito.
Não havia computadores para todo mundo, só depois é que foram comprando. Por isso, antes era complicado fazer as atas das sessões. Como não tínhamos computador no Plenário, participávamos das sessões, depois voltávamos para a sala do departamento e tínhamos que lembrar tudo o que havia acontecido, ou então pegar o vídeo, para montar a ata. Hoje, a ata sai pronta.
Era um tempo em que as sessões eram transmitidas só pelo rádio, e o plenário da Câmara vivia lotado, principalmente quando iam ser votadas coisas importantes para a população.
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Quando entrei na Câmara, o Departamento Legislativo era no segundo andar [do prédio principal], perto do antigo refeitório [atual estúdio da TV Câmara]. E, na época, o subsolo estava desativado, porque não tinha laudo do Corpo de Bombeiros, então estava sem gabinetes, sem nada. Depois o presidente Egídio Mauro tentou alugar um prédio aqui perto para mudar parte da Câmara, mas todo mundo foi contra e, por fim, mudaram todos os gabinetes para o subsolo. E aí teve um episódio curioso: naquela época, tinha muito escorpião no subsolo. Como havia muito papel por causa dos arquivos, encontrávamos muitos escorpiões embaixo da mesa. E o Egídio Mauro trouxe do sítio dele umas galinhas para comerem os escorpiões (risos).
Só depois é que reformaram esse prédio [o atual anexo da Câmara], onde era a Biblioteca Municipal, que foi cedido pela Prefeitura, e a maior parte dos gabinetes veio para cá.
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Enquanto assistente legislativo, participei como secretária de várias comissões, como da Comissão de Saúde e das que apuravam denúncias de irregularidades na Prefeitura. Fui secretária de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que durou três anos e que gerou 35 pastas, todas montadas por mim. Foi a comissão mais pesada e cansativa de que eu participei, em que quase todos os dias tinha uma oitiva com funcionários da Prefeitura.
Também trabalhei no Cerimonial, que nessa época era parte do Departamento Legislativo. Era o próprio Legislativo que fazia o Cerimonial, junto com o Setor de Comunicação. Nós fazíamos os convites, ligávamos confirmando presença. A Comunicação fazia a cobertura com fotógrafo, repórter cinematográfico e jornalista, e o Legislativo ficava com a parte dos convidados.
Nas solenidades, o diretor da Comunicação apresentava as autoridades, e eu e a Patrícia [Moraes Sant'Ana], jornalista, fazíamos o roteiro e decidíamos quem iria compor a mesa. Nós praticamente “montamos” o Cerimonial, fizemos até curso, até que em 1996 ele se tornou um departamento, onde fiquei até 2006.
Nesse ano, houve uma reforma administrativa e o meu cargo mudou de nome: de assistente legislativo para agente legislativo. E, como estava faltando uma pessoa para trabalhar no Departamento Administrativo, na área de licitação, eu ingressei na Comissão de Licitação, onde fiquei até me aposentar, já dentro do Setor de Contratos, que foi montado mais à frente.
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Esses anos em que eu trabalhei na Câmara foram os melhores da minha vida. Foi um aprendizado muito grande que eu tive, houve um acolhimento por parte da Casa, que se tornou como uma família para mim.
Eu praticamente me preocupava mais com a Câmara do que com a minha própria casa, porque eu passava mais tempo aqui. Eram duas sessões ordinárias por semana, além das extraordinárias e das solenes. Então, eu quase ficava mais na Câmara do que na minha casa (risos). Teve um dia, quando foram votar o orçamento, que nós saímos às 6 horas da manhã; só deu tempo de chegar em casa e aprontar os meus filhos para irem à escola. Então, tudo isso era amor, dedicação.
Demorei um pouco para me aposentar, mesmo já tendo tempo suficiente de contribuição. Eu gostava muito da Câmara e, depois de tantos anos, não sabia como seria a minha vida fora daqui, pois a gente está acostumado a levantar e vir trabalhar. Por isso, demorei muito para tomar a decisão de me aposentar: fiquei um ano estudando, estudando, até que decidi.
E a minha despedida foi emocionante, chorei o tempo inteiro, porque fizeram uma festa surpresa. Tive muitos amigos aqui. Hoje eu passo pela Câmara e me dá até um aperto no coração, porque foi um lugar pelo qual eu fui apaixonada. Eu dediquei a minha vida a esta Casa.
Gostaria de pelo menos a cada dois, três meses fazer uma visita para os meus amigos que deixei aqui, mas, infelizmente, não dá. Mas vamos nos falando, nos vendo pelos meios de comunicação e ficamos sabendo de tudo. Atualmente, eu vivo para os meus netos, levar e buscar na escola, essas coisas. Vida corrida, né? Também passeio, viajo e faço serviço de casa. Estou curtindo a minha aposentadoria da melhor forma possível.
Hoje eu enxergo uma Câmara ativa, bem representada e bem funcional. Eu acho que os departamentos são bem funcionais. Como fiquei muito tempo aqui, se eu falar que não acompanho a Câmara eu estarei mentindo. Sempre que posso eu coloco na TV Câmara. Porque eu gosto, tenho amor. É algo que está dentro de mim.
MIROMAR APARECIDO ROSA
Nasceu em 29/10/1961, em Mogi Mirim (SP).
Trabalhou na Câmara de 14/09/1998 a 30/11/2021.
Meu primeiro contato com a Câmara foi em 1985, como jornalista do Diário de Piracicaba. Eu, que era repórter de Polícia, precisei substituir uma colega que cobria Política e tinha entrado em férias. Minha chefe me disse para procurar o presidente, que era o Adalberto Maluf, para falar sobre a votação de um projeto polêmico, que ia mudar a lei do Código Tributário. Foi a minha primeira matéria sobre a Câmara e fiquei um mês nessa função. Na época eram 19 vereadores e a estrutura da Câmara era bem acanhada, não tinham as salas do subsolo e só havia o Departamento Legislativo.
Passado esse mês cobrindo a Câmara, eu continuei a minha carreira como jornalista: trabalhei no Jornal de Piracicaba até 1992 e, de 1992 a 1994, fui trabalhar na Prefeitura com o prefeito Humberto de Campos. No ano seguinte, vim para a Câmara como diretor do Departamento de Comunicação, na época do presidente Vanderlei Dionísio. Era um cargo de confiança e ele me convidou para ser diretor. Eu já o conhecia, de entrevistas, e resolvi aceitar. Fiquei dois anos como diretor e foi nessa época que ingressaram os três primeiros jornalistas efetivos, contratados via concurso. Começamos então a estruturar o departamento, com fotógrafo, cinegrafista e jornalistas concursados.
Passados esses dois anos, quando saí montei uma empresa de assessoria de comunicação e também trabalhei no jornal A Tribuna Piracicabana. Então foi aberto o segundo concurso público para jornalista, prestei e passei junto com outros dois que também foram contratados. Aí, já éramos em seis jornalistas.
Fiquei seis anos direto na Câmara, até que em 2005 fui convidado para ir para a Prefeitura, onde fiquei 10 anos. Nesse período fora da Câmara perdi as transformações que aconteceram, só acompanhei de longe. Voltei para a Câmara em 2015, quando fiquei por dois anos no Cerimonial, depois fui mais uma vez para a Prefeitura, em 2017, por mais quatro anos, e finalmente retorno para cá e fico mais um ano, dessa vez na TV Câmara, completando então 23 anos de vínculo com a Câmara. Me aposentei em 30 de novembro de 2021, totalizando 42 anos de carteira profissional assinada.
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Na minha época de diretor, todos nós tínhamos máquina de escrever Olivetti Linea 90 e datilografávamos as notícias em lauda. E tínhamos aquela preocupação de não poder errar. Era preciso se concentrar, porque, se você errasse muito, tinha que refazer tudo, dava uma dor de cabeça. Era aquele momento em que a redação ficava em silêncio, todo mundo só com o barulho das máquinas. E a gente pegava, fazia, lia, deixava tudo bonitinho, com o mínimo de erro possível, tirava a cópia, e o mensageiro entregava nos jornais. Todos os dias, de segunda a sexta, a gente mandava por malote tudo o que conseguia de notícia. Com o malote, tínhamos certeza de que textos e fotos chegariam com qualidade, já que às vezes mandávamos por fax também, e o fax sempre dava aquela distorcida. A secretária, Jandira [Antônia Jandira de Souza], que entrou no mesmo concurso dos primeiros jornalistas, marcava as pautas e controlava se o fax tinha ido ou não. Não tínhamos máquina digital, redes sociais ou mesmo site: as fotos eram em preto e branco e reveladas e cortadas na Câmara. Para ser sincero, tudo era bem arcaico; pode até ser engraçado lembrar isso hoje, mas era na raça, não tinha tecnologia.
Aí a matéria chegava ao jornal, que tinha que colocá-la na fotocomponedora [máquina em que o jornal era montado], era um negócio difícil. E também deixávamos esse material arquivado aqui. Hoje você vai ao site da Câmara e busca a matéria que quer. Naquela época, não. Tinha que ir até a pasta física para procurar. Era bem diferente, era o começo de tudo. Eu fiz isso por oito anos, dois como diretor e seis como jornalista.
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Como diretor na Câmara, resolvi criar uma coisa que para mim, um jornalista de redação de jornal, era “inédita”, mas que hoje dou risada, tenho até um pouco de vergonha: pedi para comprarem um micro-system, com dois compartimentos de fita K7, lado a lado, para produzir material para as rádios. E o que a gente fazia? Trazia o vereador para o Departamento de Comunicação, o entrevistava, editava [no próprio aparelho] e fazia cópia de uma fita para outra. Depois, um estagiário distribuía as fitas prontas: atravessava a praça, deixava uma cópia na Rádio Difusora e pegava a do dia anterior; também ia até as rádios Alvorada e Educadora. Claro que seria muito mais fácil você ter um link via telefone para transmitir esse material, mas eram coisas que eu não sabia, pois o meu foco era redação, a qualidade do texto. Porém, para mim, isso era uma inovação, já que a Câmara não tinha canal de TV nem estúdio, só a ata eletrônica. Eu sou muito antigo, acho (risos). O legal é que as rádios reproduziam: mandávamos três, quatro matérias e elas aproveitavam, porque sempre a qualidade do Departamento de Comunicação foi excelente. As equipes que a Câmara teve e tem são de primeira linha. E só foram melhorando, evoluindo, crescendo.
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Meu primeiro dia como jornalista efetivo foi motivo de alegria, aquilo de você passar no concurso público e estar na Câmara. Sempre tive espírito de servidor, sempre gostei de servir. As pessoas podem até não gostar de algumas atitudes minhas, o que é normal: ninguém precisa gostar de ninguém. Mas, profissionalmente, sempre fui um bom servidor, tenho certeza disso, tanto na Câmara quanto na Prefeitura. Sempre primei por isso.
Busquei o concurso público porque era uma oportunidade de trabalho, pois naquela época os jornais já estavam fechando as portas e começava a haver demissões. Também não havia tantas vagas em assessorias profissionais de imprensa como hoje. E eu sempre quis ser jornalista de redação, de jornal, de escrever, então eu busquei essa vaga.
Além disso, eu era casado, já tinha dois filhos e, apesar de ter tido oportunidades de trabalhar em Americana, Campinas e São Paulo, isso me obrigaria a viajar ou morar lá, mas a minha família estava aqui. Então tentei o concurso público.
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Nos meus seis anos como jornalista concursado, entre 1998 e 2004, começaram a chegar os computadores, a ser criados os departamentos. Para a cobertura das reuniões ordinárias, ficávamos no Plenário, era algo mais no olho mesmo. E, como éramos poucos, às vezes precisávamos também fazer foto, ficar monitorando a ata eletrônica. Estávamos sempre ajudando uns aos outros. A convivência era muito boa e harmoniosa, nossas brincadeiras eram sadias: a hora do café era a hora do café, a hora do trabalho era a hora do trabalho. Claro que os problemas e as divergências aconteciam, mas o convívio era bastante respeitoso.
A Câmara estava evoluindo e todos queriam mostrar trabalho. No Departamento de Comunicação, fizemos uma cartilha, “Por Dentro do Legislativo”, que foi uma inovação e ficou bem bacana.
Também lembro a época em que foram criadas as reuniões ordinárias itinerantes. Eu participei de uma em Santa Teresinha e outra no Piracicamirim. Pegávamos toda a estrutura daqui, que era pequena, e levávamos para algum bairro para fazer as reuniões ordinárias. Era uma coisa difícil, sendo que hoje você coloca um celular lá e transmite a sessão. Foi feita pelo menos uma meia dúzia de sessões itinerantes, muito boas. A comunidade ficou mais próxima e muitas pessoas começaram a entender como é o processo legislativo. Hoje é muito mais fácil para a população ter acesso: você consulta o portal da Câmara e tem todas as notícias, tudo o que aconteceu, tudo o que estava na sessão.
Depois, as evoluções tecnológicas, a ata eletrônica, a TV e a Rádio Câmara, as mídias sociais, eu acompanhei mais de longe. A transformação foi impressionante. Vejo os departamentos da Casa muito fortes e todos com muita vontade, muita dedicação.
Nos dois anos em que fiquei no Cerimonial, me marcou a solenidade que organizamos, em 2015, em comemoração aos 40 anos do prédio principal da Câmara. Reunimos os arquitetos que o projetaram, chamamos os ex-vereadores, fizemos um cerimonial lindo. É uma coisa que dá satisfação e que eu sinto orgulho; foi bem legal e emocionante. Fui muito elogiado pelo trabalho; claro que eu não fiz sozinho, mas participei desde o convite até o cerimonial. Sei que está na história da Casa. Foi uma coisa boa não para o Miro, mas para a Casa: a Casa reconheceu o trabalho dos arquitetos e a Casa trouxe para dentro da Câmara os ex-vereadores, inclusive com suas famílias, netos, bisnetos.
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A Câmara sempre fez coisas boas e hoje o pessoal técnico dos departamentos está cada vez melhor, criando mais, mostrando a cara da Câmara para a sociedade. Acho que isso é importante. Claro, como eu fui funcionário desta Casa, então vou ter esse olhar, mas eu acompanho o que é feito, leio as matérias, vejo as sessões, participo dos cursos.
Por exemplo, a cobertura que o Departamento de Comunicação fez das eleições municipais de 2020 foi show de bola, muito bem feita. A gente que conhece o jornalismo sabe que não foi fácil: para começar às 7 horas e terminar à meia-noite, você tem que ter garra. A Câmara estava lá o dia todo fazendo alguma coisa e registrando para a história; mostrou o tempo real, a apuração. Nenhuma TV fez isso, as rádios fizeram a partir das 5 horas da tarde, quando as urnas fecham. Isso está na história da Câmara e de seus jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos. Está lá, ninguém apaga mais, isso eu acho positivo.
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Quando me aposentei, tirei dezembro para férias e aí já vieram propostas de trabalho em janeiro; já engatei alguma coisa, porque não consigo ficar em casa. Se você quer me ver irritado é eu ficar em casa. Preciso sair, preciso estar fazendo algo. Montei também um portal de comunicação, em que aproveito muito material da Câmara, que são os melhores, de boa qualidade. E estou no projeto de escrever a biografia do João Chaddad [arquiteto e ex-vice-prefeito de Piracicaba] e outros livros.
Hoje, sempre que eu passo na rua São José, na rua do Rosário, na rua Alferes José Caetano, eu falo: “Puxa, eu trabalhei aqui, fez parte de mim”. Mas fica na saudade. Eu sinto, primeiro, saudade das pessoas e, depois, de estar trabalhando nesta Casa, que é referência; trabalhar na Câmara é uma referência.
A Câmara foi uma das melhores coisas da minha vida. Sempre tive uma boa relação com todos; eu gosto de gente, de ter amigos, de família. Como sou bem tranquilo, então fiz muitas amizades. As pessoas que me conhecem, que me tiveram como chefe, sabem que eu tenho um excelente astral. Não gosto de fazer reunião, não gosto de ficar dando bronca em ninguém. Eu falo: “Pessoal, olha, vamos melhorar”. Não é que eu deixo “solto”, mas é o meu jeito de trabalhar.
Com os vereadores não foi diferente: tive uma boa relação com eles, sempre tratei todos com respeito e procurei fazer o meu melhor, assim como sei que os servidores que permanecem também continuam dando o melhor para divulgar o Legislativo. O melhor do Miro todo mundo teve: não importa o vereador, eu sempre queria fazer o meu melhor. E sinto isso nos colegas: “Vamos melhorar aqui?”, pois isso é um trabalho em equipe, porque quem ganha é a Casa.
Eu gostaria de ser lembrado como um bom servidor, que esteve à disposição desta Casa para ajudar. A Câmara é o Poder Legislativo, uma instituição com uma história de 200 anos; não são dois, nem 20. Por isso me senti honrado com o convite de fazer parte deste projeto. Falei com os meus filhos e com a minha esposa do quanto me senti valorizado e feliz. Como servidores, nós ajudamos muito a construir essa história, e eu sei o que é trabalhar aqui: trabalhamos, produzimos e garantimos que essa Câmara seja forte. Conheço muitas Câmaras por aí e posso afirmar: a Câmara de Piracicaba é referência nacional.