
30 DE ABRIL DE 2010
Relembrar os horrores do Holocausto Judeu durante a Segunda Guerra Mundial foi o objetivo do Dia Municipal da Lembrança, realizado, este ano, na última quinta-feir (...)
Relembrar os horrores do Holocausto Judeu durante a Segunda Guerra Mundial foi o objetivo do Dia Municipal da Lembrança, realizado, este ano, na última quinta-feira (29/04), no anfiteatro da Faculdade Anhanguera. A data foi integrada ao calendário oficial do Município de Piracicaba, através de Lei de autoria do vereador João Manoel dos Santos (PTB).
Segundo o vereador, a iniciativa visa deixar viva esta trágica página da história da humanidade. Pelo menos na lembrança da nova geração que tem informação sobre essa fase da história e conscientizar a sociedade da importância da defesa da vida e do combate à intolerância.
Fizeram uso da palavra Willerson Luiz Segatto, representante das Testemunhas de Jeová, que também foram perseguidos pelos alemães; professor Ivan Cesso, da Faculdade Anhanguera e Jayme Rosenthal , representante da Comunidade Israelita de Piracicaba e da Federação Israelita do Estado de São Paulo.
Todos foram unânimes em dizer que a data é um momento para refletir sobre os acontecimentos que marcaram a história quando minorias eram tratadas com crueldade e mortas. Segundo eles foram mortos durante o Holocausto, como resultado das ações da Alemanha Nazista e seus colaboradores, 11 milhões de pessoas, sendo seis milhões de judeus e cinco milhões de ciganos, polacos, eslavos, homossexuais, deficientes físicos, Testemunhas de Jeová, entre outros em nome do mito da raça ariana superior.
Em seguida todos assistiram emocionados o depoimento da sobrevivente do holocausto Henrietta Rita Braun, que,com apenas nove anos,viu seu pai e seu irmão mais novo morrerem pelo simples fato de serem judeus. Muitos sobreviventes se calam, mas eu tenho essa missão de levar a minha história, para que horrores como o que vivi não se repitam e cada vez que a conto passo este bastão para a juventude, disse a sobrevivente.
Rita contou com riqueza de detalhes tudo o que passou durante os anos da guerra e que só não foi enviada para um campo de concentração, junto com a mãe, padrasto e a meio irmão, porque possuíam certidões de nascimento falsas e receberam a ajuda de um alemão, a quem chama de pequeno Schindler.
As tropas alemãs entraram primeiro na cidade onde meu pai morava e eu estava passando férias, já estávamos entrando no caminhão quando um senhor polonês entregou uma carta escrita por mamãe, onde ela pedia que me entregasse a esse homem, que me levaria junto a ela. Papai reconheceu a caligrafia , tive que decidir naquela hora com quem queria ficar e disse papai, se você não se zangar, eu quero ir para a mamãe. A noite escondendo nos muros dos edifícios a tarja com a estrela de David, que os judeus eram obrigados a usar, e tenho a minha guardada até hoje, papai foi me ver na pousada. Nos abraçamos e nos prometemos que depois da guerra iríamos nos rever. Foi a última vez que eu o vi relatou emocionada.
Durante seu relato a sobrevivente contou que viveu no gueto isolada por cercas elétricas, vasculhava os lixos dos alemães, pegava os ossos que eram jogados aos cachorros, ou então, membrana de fígado, cozinhava com grama e comia imaginando que era espinafre.
Mamãe às vezes, muito raramente, conseguia trazer um pouquinho de leite, ou um ovo, escondido. Às vezes, conseguia um pedaço de um torrão de açúcar. Meu padrasto, quando um pão ficava chamuscado, me trazia, comentou
Ela contou que teve tifo e escondia-me nos arbustos quando os alemães, Krieger e Strieg, entravam no gueto. Eles matavam a esmo. Não precisava ser uma pessoa determinada. Basta ser um alvo móvel. Então, me escondia, até que a investida acabasse. Assim passei quase três anos, até que minha mãe soube que haveria a liquidação do gueto, ou seja , todos seriam mandados para os campos de concentração.
Rita Braun contou que quando foram obrigados pelos alemães a colocarem tudo o que tinha de valor na calçada a mãe escondeu algumas jóias dentro da manga de um casaco e com elas compraram três certidões falsas de nascimento.
Com as certidão polonesa católica, em uma manhã chuvosa, escondida dentro do sobretudo do padrasto, pois crianças não podiam sair do gueto, junto com a coluna dos judeus que saíam para o trabalho, saímos do gueto e passamos a viver na clandestinidade, indo de uma cidade a outra porque éramos reconhecidas pelas pessoas que nos denunciavam e éramos detidas e interrogadas. Meu padrasto sempre ficava escondido atrás do armário, ele não trafegava nas ruas.
Ela e mãe foram submetidas as exames de sangue, para ver se eram arianas ou semitas e esperaram por três dias o resultado. Mesmo a mãe dizendo que
não existe tipo de sangue de determinada raça, teve muito medo do resultado dizer que eram semitas, porém no relatório diziam que eram arianas e dignas de conviver com a pura raça alemã.
Com a ajuda do irmão de sua mãe, o único que se salvou, porque veio em 1939 visitar o Brasil e aqui ficou, por volta de 1947, chegou ao país, com documentos falsos, pois o então presidente Getulio Vargas, não permitia a entrada de judeus no país. Amigos advogados do fórum, nos aconselharam a fugir senão poderíamos também ser mortos, principalmente porque minha mãe instituiu uma quantia para acharem o assassino do irmão, relatou.
Através de um sobrevivente ficou sabendo que o pai contraiu tifo em um campo de concentração. Para não contaminar os outros e não desperdiçar balas, ele foi jogado contra a cerca eletrificada e a esposa dele morreu no gueto e o filho, também como todas as crianças, para poupar as balas, eram colocadas em sacos e jogadas em valas e cobertas com terra e cal.
Depois da guerra, a gente costumava ir ver cartazes grudados nos muros dos edifícios que diziam ‘eu sobrevivi’, e as informações da pessoa. E eu ia diariamente durante um mês procurando nome do meu pai e não achei.
Ela alerta que é preciso é preciso denunciar as autoridades qualquer tipo de agressão contra as minorias, falou sobre os Skin Reds e finalizou dizendo que há pessoas que negam o Holocausto, como o presidente do Irã, que foi abraçado pelo presidente Lula em um tapete vermelho.
Após relato da sobrevivente Rita Braun foi apresentado um vídeo sobre o Holocausto e o sobrevivente Arie Yaadi, comentou rapidamente que durante os cinco anos de guerra passou por 11 centros de concentração e sobreviveu. Eu estive lá e sobrevivi, a esperança é a última que morre, disse emocionado.
Ao final todos religiosos de todas as denominações presentes se uniram e rezaram a oração do Pai Nosso.
Patrícia Sant Ana Amancio _ MTb:24.154
Foto: Davi Negri _ MTb: 20.499