
16 DE AGOSTO DE 2011
Os menores infratores apreendidos pela Fundação Casa são oriundos, cada vez mais, do tráfico de drogas. De acordo com Flagas Rodrigues Lopes, diretor da unidade em (...)
Os menores infratores apreendidos pela Fundação Casa são oriundos, cada vez mais, do tráfico de drogas. De acordo com Flagas Rodrigues Lopes, diretor da unidade em Piracicaba, no ano passado era 40 por cento os adolescentes nestas condições. Neste ano, dos 56 menores detidos na fundação, 65 por cento tiveram como delito o tráfico de drogas. “E destes, 80 por cento traficam para comprar drogas”, diz Flagas, ao combater o mito de que estes jovens entram no tráfico porque querem produtos da moda. “Se eles quisessem comprar um tênis, eles não chegariam à fundação em estado tão deplorável como chegam”, diz.
A informação foi divulgada na reunião do Fórum Permanente Sobre Álcool e Outras Drogas, terça-feira à tarde, dia 16, coordenado pelo vereador Bruno Prata (PSDB) no plenário da Câmara de Vereadores de Piracicaba. Por quase duas horas, representantes do Legislativo, da Fundação Casa e de secretarias municipais, como Educação e Desenvolvimento Social, discutiram o fortalecimento da rede de atendimento aos dependentes químicos, sobretudo na reintegração destas pessoas à sociedade quando encerra o tratamento. Na oportunidade, ouviram relato de dois jovens que estão na Fundação Casa.
Outra informação preocupante apresentada por Flagas é a diminuição da faixa etária de quem entra na Fundação Casa. Se no ano passado a média sustentava-se em torno de 16 a 17 anos, atualmente, segundo o diretor da unidade, está em 13 anos. “Ou seja, o tráfico está se renovando”, diz, ao lembrar que há “capital humano” em diversos pontos da cidade onde há jovens sem atividades diárias e com as famílias desestruturadas.
É o caso, por exemplo, de J.S, de apenas 17 anos, um dos jovens que esteve na reunião do Fórum Permanente. Começou a usar drogas aos 10 anos, devido à influência de um tio; da maconha, passou para a cocaína e, quando chegou à Fundação Casa, usava crack. Agora, só quer mudar de vida. “Quero ajudar a minha mãe, quero trabalhar, ter uma nova vida”, diz ele que está em sua terceira passagem pela Fundação Casa. “A gente só precisa de um pouco de apoio, para ter formação e um trabalho, só isso”, disse.
Ao seu lado, o companheiro de unidade, E.M.F, também de 17 anos, lembra que chegou a fumar crack com o próprio pai. “Para você ver a minha situação”, diz ele, consciente da situação que o levou, seis meses atrás, à Fundação Casa. Apaixonado pelo teatro, obteve liberação judicial para freqüentar ensaios na Estação da Paulista e espera, com a arte, buscar sua redenção. “Acho que posso fazer muitas coisas boas como ator. Hoje (ontem) vai ter ensaio!”, disse, empolgado, sobre as duas peças que está ensaiando.
“Precisamos nos organizar para exigir do poder público mais investimentos na prevenção ao uso de drogas, mas também na necessitamos estruturar a sociedade para receber estes adolescentes de volta”, disse Bruno Prata, no término da reunião do Fórum Permanente. O próximo encontro está agendado para o dia 20 de setembro, às 9 horas, na Câmara de Vereadores.
Texto: Erich Vallim Vicente MTb 40.337
Foto: Gustavo Annunciato MTb 58.557