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21 DE FEVEREIRO DE 2011

Câmara repudia tratamento de concessionária a cliente


Um episódio ocorrido no final do ano passado levou a Câmara a aprovar moção de repúdio ao tratamento dado pela Concessionária Andreta, que revende veículos Renault, (...)



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Gustavo Annunciato - MTB 58.557 Salvar imagem em alta resolução


Um episódio ocorrido no final do ano passado levou a Câmara a aprovar moção de repúdio ao tratamento dado pela Concessionária Andreta, que revende veículos Renault, ao cliente Adney Araújo de Abreu, que alega ter sido vítima de racismo. De autoria do vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT), a propositura foi apreciada em plenário em reunião ordinária na noite desta segunda-feira (21).

Segundo o texto da moção 2/2011, Adney, de 40 anos, esteve na concessionária em 15 de dezembro de 2010 para avaliar preços de automóveis, já que pretendia trocar o seu. Os funcionários do local, porém, teriam ignorado sua presença durante aproximadamente 20 minutos.

O cliente, que é negro, havia ido com seus filhos de 8 e 14 anos até o estabelecimento, situado no km 21,5 da rodovia SP-135, que liga Piracicaba a Tupi. "Depois de olhar os modelos, [Adney] posicionou-se em frente à mesa dos vendedores e aguardou pelo atendimento, quando percebeu que, mesmo o local estando praticamente vazio e os vendedores desocupados, nenhum deles o abordou para saber o que ele queria, demonstrando assim um comportamento racista", relata a moção de repúdio aprovada pela Câmara. Ao perceberem a indiferença dos atendentes da concessionária, os filhos de Adney desistiram de ficar no local. "Pai, vamos embora porque ninguém está vendo a gente aqui", teria dito um deles.

Paiva disse esperar que os fatos sejam "apurados devidamente". "Racismo é crime e, como qualquer crime, merece atenção das autoridades. Que sejam aplicadas as devidas punições a todos aqueles que estão direta e indiretamente envolvidos em tal delito, para que ocorrências como a noticiada não mais ocorram, sob pena do recrudescimento das boas relações de convívio, urbanidade, respeito e cidadania" que existem no país, pediu o vereador.

"RACISMO CAMUFLADO"
Além de ver no racismo um sinal de ignorância às próprias origens, Paiva critica a forma como o problema é tratado no Brasil. "Infelizmente, constatamos em nosso cotidiano que as atitudes racistas persistem no mundo porque seus detratores reagem com indiferença aos atos de discriminação étnica. O preconceito contra a população negra geralmente se esconde por trás das aparências, através de comportamento subliminar de encobertamento permeado por um aparente tratamento cordial ou simplesmente o ato de ignorar", aponta o vereador.

Para Paiva, "o que existe na maioria das vezes é o racismo camuflado e que todo mundo faz questão de não enxergar". "Os alvos, mesmo que inconscientemente, sempre são os mesmos. Negros, mestiços, nordestinos, pessoas fora do padrão da moda e, principalmente, os mais pobres sofrem com a discriminação e não conseguem emprego, estudo, dignidade e respeito. Estes não têm vez na sociedade brasileira!", criticou o parlamentar.

O vereador lembrou ainda que a legislação brasileira prevê que qualquer pessoa que se sentir humilhada, desprezada ou discriminada por sua cor de pele, religião ou orientação sexual pode entrar com uma ação na Justiça contra o responsável pelo ato. "Mas, neste país, situações como a de Adney acontecem com tanta frequência que repudiar e denunciar tal fato muitas vezes causam estranheza nas pessoas, mas isso é extremamente necessário, pois somente assim teremos, no futuro, uma sociedade mais justa e fraterna", diz o texto da moção de repúdio.

Paiva cita dois trechos do artigo 5º da Constituição de 1988 para mostrar os tipos de infrações em que se enquadra o episódio que teria ocorrido na Concessionária Andreta. "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, ao respeito e dignidade, à segurança e à propriedade", diz o caput. "A prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei", afirma o inciso 42.

 

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTO: Gustavo Annunciato / MTB 58.557



Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918


Legislativo José Paiva

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