
01 DE JUNHO DE 2010
O vereador Walter Ferreira da Silva, o Pira (PPS), na tarde de ontem (31/05), atendeu o pedido do Provedor da Irmandade de São Benedido de Piracicaba, José Mariano (...)
O vereador Walter Ferreira da Silva, o Pira (PPS), na tarde de ontem (31/05), atendeu o pedido do Provedor da Irmandade de São Benedido de Piracicaba, José Mariano nos devidos encaminhamentos junto a órgãos públicos, como a secretaria municipal de Meio Ambiente e Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DPRN), em providências na preservação do complexo arquitetônico no entorno da Igreja de São Benedito, onde o crescimento desordenado de árvores ameaçam a estrutura deste bem histórico, inaugurado em 1892 e tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba - CODEPAC, por força do Decreto Lei 10.008, 13 de novembro de 2002.
A consideração é que o avanço das raízes ameaçam as estruturas da Igreja, que já apresenta sinais de rachaduras em paredes, pisos e calçadas. Também se observa o crescimento de vegetação no topo da Igreja, evidenciando o possível comprometimento do teto, com rachaduras devido ao avanço das raízes.
Igreja de São Benedito
Em recente artigo disponibilizado no Site de A Provincia (www.aprovincia.com), o jornalista Cecílio Elias Netto, dentre outras considerações destacou que a Igreja e a Irmandade do São Benedito são uma das mais heróicas e belas páginas da história de Piracicaba, seja pela devoção dos negros, pela participação da família do Barão de Rezende, mas, também e especialmente, pelo manancial de cultura popular e negra que detém e contém. No entanto, como se houvesse, ainda – e não queremos crer nisso – ranços e resquícios de preconceitos e menosprezo pelos herdeiros da mancha da escravidão, tanto a igreja quanto a irmandade – que é uma das mais antigas do Brasil – estão sendo menosprezadas, pode-se dizer que até espezinhadas pelo poder público. A própria Igreja Católica não luta por aquele patrimônio o tanto e quanto se era de esperar, mesmo havendo quem ainda conheça o admirável histórico da Igreja de São Benedito que, por bom tempo, se tornou a igreja matriz da diocese quando da construção da Catedral de Santo Antônio.
O patrimônio de São Benedito foi esbulhado, essa a verdade. E isso começou ainda na segunda administração de Luciano Guidotti quando, num crime histórico – que teve o então jovem arquiteto João Chaddad como cúmplice – se fez a destruição de um patrimônio inavaliável, o Solar do Barão, onde funcionava a antiga prefeitura. Derrubou-se o solar histórico, destruiu-se o jardim, derrubaram-se as palmeiras imperiais plantadas pelo próprio D. Pedro II em sua última visita a Piracicaba. Tudo foi destruído para se construir um verdadeiro caixão para abrigar a Prefeitura, uma obra que se transformou caricata. Havia até planos de se derrubar a centenária Igreja de São Benedito, para se construir, naquela área – onde se instalaria o Fórum, que abriga atualmente o Instituto Histórico e Geográfico – o que se chamaria Praça dos Três Poderes. Foi idéia ridícula que não vingou. Mas que deixou prejuízos culturais e históricos inavaliáveis.
Pode-se dizer que São Benedito foi roubado, pois roubaram-lhe terrenos, tomaram posse da praça fronteiriça à igreja para transformá-la em estacionamento ao ar livre, destruíram parte do prédio histórico, ao fundo, onde funcionavam sacristia, sala de catequese, a irmandade e, por um tempo, até mesmo a cúria diocesana, onde hoje estão localizada duas árvores que ameaçam a estrutura da Igreja. A Irmandade, há anos, vai de Ceca a Meca, sem que ninguém lhe dê satisfações ou tome providências, permanecendo a ameaça a um patrimônio e a uma instituição históricos.
O terreno era da Igreja tendo a Irmandade como guardiã, incluindo o seu entorno, onde se realizavam festas, quermesses, procissões e até danças folclóricas. Lembro-me de, quando criança, ser levado, com moradores da região central, às aulas de catecismo no anexo da Igreja de São Benedito, o salão dos cruzadinhos, onde o Padre Romário cuidava da orientação religiosa de crianças e adolescentes, preparando-as para a primeira comunhão, crisma, etc. Brancos e negros uniam-se num lugar sagrado e histórico. Senhoras da sociedade piracicabana, sem distinção de cor, tratavam o São Benedito como jóia rara da coroa católica de Piracicaba, burilada por Lydia de Rezende, disse o jornalista Cecílio.
A ignorância ou a má fé de nossos tempos são verdadeiras bombas de dinamite implodindo patrimônios históricos, sem que lideranças locais reajam, talvez seduzidas por construções de pontes que favorecem condomínios, avenidas que ampliam tráfego de produtos industriais – uma cidade que está morrendo em suas raízes por força da infestação tóxica em seus galhos e tronco.
Há uma lenda que deveria preocupar políticos de hoje: a Igreja de São Benedito mata! A história tem mostrado que todos os que tentaram demolir ou prejudicar o São Benedito tiveram fins trágicos: Luciano Guidotti, que começou tudo e tentou demolir a igreja, morreu repentinamente; Salgot Castillon, que teve idéia semelhante, foi cassado em seus direitos políticos; Cássio Padovani, que retomou a idéia, morreu no cargo e, agora, até a morte de João Herrmann Neto é atribuída a esse mistério, havendo quem se lembre da indefinição do filho dele, Gustavo Herrmann, quando presidente da Câmara. O prefeito Adilson Maluf, que tem Benedito no nome, escapou da praga por, querendo também mexer naquele patrimônio, ter sido impedido por sua própria mãe, devota de São Benedito.
E Piracicaba, que também está contaminada pelo vírus do materialismo e do individualismo sem freio, se acautele. Pois a reação da Irmandade é tão poderosa que está clamando por forças desconhecidas, dos tempos de ancestrais vítimas de chibatadas, de sangue, de suor, de dores, amainadas pela fé em Nossa Senhora do Rosário e em São Benedito.
No dia 13 de Maio, data da abolição, líderes negros realizaram um movimento de recuperação do patrimônio, acorrentando-se à porta da Igreja ou onde está aquele pérfido estacionamento. Que Piracicaba reaja e devolva, à Irmandade, o que lhe foi roubado. Não acreditar na força da fé é estupidez, disse.
Pesquisa, fotos e texto: Martim Vieira Mtb 21.939