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09 DE OUTUBRO DE 2009

Piracicaba poderá reconhecer projeto de denominação de área de quilombo urbano em Santa Teresinha


O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba - Ipplap, o arquiteto João Chaddad, na manhã de hoje (9), às 10h00, recebeu em seu gabinete, no 9 (...)



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Comunicação Salvar imagem em alta resolução


O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba - Ipplap, o arquiteto João Chaddad, na manhã de hoje (9), às 10h00, recebeu em seu gabinete, no 9.o andar da Prefeitura, a visita do historiador Noedi Monteiro, que na oportunidade falou em nome do vereador Walter Ferreira da Silva, o Pira (PPS), sobre a tramitação de projeto de lei (295/09), que deu entrada na reunião ordinária de ontem (8), sobre a denominação de Parque Histórico Quilombo Corumbataí, o parque de Santa Teresinha, localizado  no quadrilátero da Avenida Nossa Senhora do Carmo, Rua Adelmo Cavagioni, passarela Leonor Bernardino Cavagioni e ponte Moacir Bernardino. Segundo relatos históricos e documentais, a área foi local de refugio de escravos, constituindo-se num dos principais focos de resistência em plena era da escravidão, no século retrasado.

 

Noedi Monteiro mostra que os primeiros escravos com sanção oficial foram trazidos de Guiné e chegaram ao Brasil com Martim Afonso de Souza com 27 anos de idade, em 22 de janeiro de 1532, para a fundação de São Vicente no litoral paulista. Correm informações, no entanto, da existência no Brasil de escravos antes disso.


A primeira notícia sobre escravos em Piracicaba data de 21 de abril de 1733, em carta que Joam de Mello Rego de Itu, endereça ao Conde de Serzedas, capitão-general, da Capitania de São Paulo ao informar acerca de fuga de escravos

Segundo Noedi Monteiro, há várias ocorrências citadas nos documentos oficiais, sobre o quilombo e sua extensão política. A freguesia de Santo Antônio, nome antigo de Piracicaba já possuía, uma extensão considerável; ficando ainda maior com a sesmaria de Santo Antônio do Lageado  (1812) de propriedade de Domingos Soares de Barros , o 1º procurador-geral de Vila Nova da Constituição . Suas terras abrangiam às áreas dos atuais municípios de Araraquara, Jaboticabal, São Carlos, Brotas, São José do Rio Preto, Dois Córregos, Jaú, Barretos, Araras, São José do Rio Pardo, Pitangueiras, Pederneiras, Rio Claro, Limeira, São José do Rio Preto etc. Geograficamente a região piracicabana compreendia a ligação dos CAMPOS DE ARARAQUARA que se estendiam até a divisa da Capitania de Mato Grosso, na conexão da região do Morro de Araraquara à nascente do Rio Jacaré-Pepira configurando-se com Brotas, São Pedro (Serra de Itaqueri) e Dois Córregos no Estado de São Paulo.


O caminho para os "CAMPOS DE ARARAQUARA" partia do rio Piracicaba, tendo Corumbataí num extremo e a nascente do Jacaré-Pepira noutra.  A preocupação do governo era de um possível interesse na exploração do potencial da bacia hidrográfica araraquarense dos rios Ouro, Jacaré-Pepira, ribeirões das Cruzes, Jacaré-Guaçu e Chibarro, que já atraia o bandeirantismo (século XVII) por garimpeiros, escravos fugidos, forasteiros e aventureiros para a região. Por isso, ordena expressamente a CARLOS BARTOLOMEU DE ARRUDA BOTELHO comandante de Piracicaba, que desse fim ao quilombo, que havia resistido a várias incursões.


CCCXLIV
P. ª o Sargmor. Comde. Da Vª de Piracicaba [encarregando-o de uma expedição contra os negros fugidos]. (Do Secret.º)


O Illmo. º e Exm.º Snr General manda louvar muito a Vmce. O cuidado q. teve de lhe participar pela sua carta de 5 do preze, mez, a fermentação em q. os Negros estavão p.ª se aquilombarem, e conciderando ser precizo quanto antes invistilos e acatacalos, não lhes dando com o tempo força p.ª se arrojarem a maiores insultos, há por bem encarregar a Vmce. Essa expedição, para a qual lhe dá os poderes competentes, afim de haver do Senhores dos escravos fugitivos, que se apanharem, a despeza da Polvora, bala e mantimentos que fizer como cabo della; no que tudo confia o mmº Sr. Se haja Vmce. Com toda a inteireza e Justiça, dando-lhes logo conta do rezultado desta deligencia q. lhe há pr. mt.º recomendada. Ds. Ge a Vmce S. Plo. 31 de Com. De 1804. Luis Ant.º Neves de Carv.º Sr. Sargento Mor Carlos Bartolomeu de Arruda Comde. De Piracicaba. (Docs. Inters., Vol. LV, 1937, p. 275).

 

CCCLXII
P.ª o S. M. Carlos Bartolomeu de Arruda [comunicando-lhe ter ordenado lhe seja prestado auxílio na expedição contra os negros fugitivos] (Do Secrt.º)

S. Exa. me ordena avize a Vmce. Ter recebido a sua carta de 17 do corre. Mez, e q. pa. Obviar todas as duvidas q. podem suscitar-se, vai nesta ocazião ordem ao Comde dessa Freguezia, pa. Não embaraçar, antes proteger a deligencia de q. Vmce. Se acha encarregado. O mesmo Sr. Houve com dissabor tudo o q. são queixas intempestivas, e feitos PR. pessoas suspeitozas em razão das suas inimizades particulares, pelo q. se de Vmce. Abster de cahir nessa censura. Ds. Ge. A Vmce. S. Paulo 21 de Abril de 1804 = Luis Antº Neves de Carv.º S. M. Carlos Bartolomeu de Arruda. (Docs. Inters., Vol. LV, 1937, p. 286).

 

CCCXLIII
P.ª o Capm. Franco da Roxa [ordenando-lhe prestar auxílio á expedição contra os negros fugitivos]. (Do Secret.º)

O Illmo.º e Exmº Snr Gal. Houve PR. Bem encarregar ao S. M. Carlos Bartolomeu de Arruda de atacar hum Quilombo de Negros Fugitivo, e lhe deu ordem pa. Conduzir comsigo a gente q. lhe fosse necessária, o q. paricipo a Vmce. PR. Q. não só o não embarace, mas anates lhe preste todo o auxilio q. puder pa. Tão interessante deligencia. Ds. Ge. A Vmce. S. Plo. 21 de /abril de 1804. = Luis Antônio Neves de Carvalho = Snr. Franco. Franco da Rocha Capm. Comde. Da Freguezia de Piracicaba. (Docs. Inters., idem, ibidem, p,. 287).


 
As atividades microeconômicas do quilombo giravam em torno do extrativismo e da agricultura de subsistência (milho, mandioca, cana-de-açúcar e outros produtos), e do intenso comércio com sertanistas e posseiros, que por ali passavam, a caminho do sertão de Araraquara e de Goiás, como de mascates, caixeiros e lavradores em trânsito nas proximidades. Havia na foz do rio Corumbataí, (margem esquerda), um dos afluentes do Piracicaba, um porto e um posto de baldeação ou paragem obrigatória (atual área da fábrica de papel da Klabin), para a troca e descanso de animais e traslado de pessoas e cargas, por meio de balsa, de uma margem à outra. Havia, de fato, uma rede de comércio entre os escravos e os comerciantes locais, principalmente com relação à produção de lenha, madeira e aguardente.

 

Ao tempo do quilombo, a região era rica em vegetação com densas matas e muita madeira de lei: guarantãs, jequitibás, guaritas, taquarantãs, figueiras enormes, jatobás, guaraiúvas, pindaíbas com frutas vermelhas, araúbas, guararubas, ipês, canela, paus-ferro, ximbós, capoíbas (pau-de-óleo), aroeiras, paus-d´alho, cabrutingas, cedros, perobas e jacarandás derribados com a aglomeração humana na região. O comércio de madeira se intensificou com a navegação fluvial no rio Piracicaba (1872-1945). A sede do quilombo ficava à margem direita do Corumbataí na extensão compreendida da ponte da SP-147 - Rodovia Geraldo de Barros Sobre o Rio Corumbataí, Avenida Nossa Senhora do Carmo, Rua Adelmo Cavagioni, Ponte Moacyr Bernardino e da Passarela Leonor Bernardino Cavagioni.

 

O temido quilombo até mesmo para experientes capitães-do-mato ou capitães-do-campo deu muita dor de cabeça para a milícia local, comandada pelo sargento-mor CARLOS BARTOLOMEU DE ARRUDA BOTELHO e ao então governador da Província de São Paulo, capitão-general Antônio José de Franca e Horta. O cemitério africano hoje deu lugar ao Parque Residencial Piracicaba, antiga Balbo. Homiziavam-se no QUILOMBO CORUMBATAÍ escravos fugidos de toda região de Piracicaba.


"Enfim, como já vimos, em março/abril de 1804 definitivamente o QUILOMBO DO CORUMBATAÍ foi aniquilado pelo sargento-mor CARLOS BARTOLOMEU DE ARRUDA BOTELHO, com a ajuda de força militar da Capitania de São Paulo. As terras do QUILOMBO DO CORUMBATAHY hoje são terras de um quilombo urbano que se juntam a outras do mesmo gênero florescente no Brasil", conclui o historiador.


Foto e texto: Martim Vieira Mtb 21.939



Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939


Legislativo Walter Ferreira

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