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27 DE JULHO DE 2015

Fórum reúne lideranças em defesa da liberdade religiosa


Matheus Erler (PSC) participou do evento, sábado (25), realizado na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, no bairro Nova Piracicaba



EM PIRACICABA (SP)  

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Lideranças políticas e clericais se reuniram neste sábado (25) na sede da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, no bairro Nova Piracicaba, para participar do I Fórum de Liberdade Religiosa, organizado pelo programa Mãos Que Ajudam. Por quase duas horas, especialistas de diferentes denominações defenderam o respeito às crenças (e a não crença) a partir da Declaração dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas em 1948, Constituição Federal do Brasil, de 1998, e também a partir de passagens da Bíblia. 

“A II Guerra Mundial produziu 50 milhões de mortos e outros 20 milhões de pessoas mutiladas, e a intolerância religiosa, manifestada também por racismo e xenofobismo, contribuiu para esta tragédia humana”, disse Alcides de Carvalho Junior, diretor de assuntos públicos da igreja anfitriã. Ele apresentou estatísticas com os níveis de moderação e acirramento do desrespeito a crenças em diversos países. “Vivemos, ainda hoje, o desafio de propagar a tolerância”, disse. 

Embora o Brasil apareça como sendo um país com “baixa intolerância”, existe crescimento de casos de crimes contra religiosas, lembra Alcides, ao citar o caso da menina Kailane Campos, agredida com uma pedrada em 14 de junho deste ano, no Rio de Janeiro. “Infelizmente, as religiões de matrizes africanas têm sofrido mais do que qualquer outra”, disse Alcides. 

O presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba, vereador Matheus Erler (PSC), enalteceu o Estado laico no Brasil, “que não proíbe e nem exige qualquer religião, dando liberdade às pessoas em escolherem como professam a fé”, disse ele, que também é advogado. Erler lembrou os conceitos constitucionais de que “todos somos iguais perante à lei, mas diferentes nas peculiaridades, como a religião”, disse, “cada um decide a própria ou decide não ter, o que também é um direito e precisa ser garantido”, enfatizou o presidente do Legislativo. 

Kennedy Fonseca Canuto, presidente da Missão Piracicaba da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, lembrou do livre-arbítrio, “que nada mais é a possibilidade de decidirmos a respeito de nossas próprias condutas, sem sermos controlados”, enfatizou. Ele destacou que a profissão de qualquer fé deve haver sem desrespeito aos outros, “afinal, todos somos filhos de Deus”, defendeu, ao enfatizar a liberdade proporcionada no “plano de Cristo em nossas vidas”. 

Representante da Igreja Presbiteriana, o pastor Erasmo Silvério fez breve relato de nove anos em missões internacionais, cinco em Angola, na África, e quatro em Lisboa, em Portugal. “Em cada País, região, continente, existem diferenças e precisam ser respeitadas sob todos aspectos, tanto religiosos quanto culturais”, disse. Ele citou a passagem bíblica, do Velho Testamento, em que o povo hebreu escolhe em servir a Deus, “a liberdade está colocada desde o princípio”, defendeu, e também disse que “devemos fazer de tudo para defender a liberdade religiosa”, ao citar números de que três quartos da população mundial vivem em países intolerantes. 

Ex-vereador, o pastor Marcos Oliveira – atualmente, não atua em qualquer denominação – defendeu que a liberdade religiosa se dá a partir de “peneiras”, seja da legalidade, como, no caso do Brasil, onde a lei defende o culto e a crença, seja de maneira individual ou coletiva, mas também a peneira da licitude, “além de ser legal, é moral?”, disse, ao citar que, no Império Romano, mesmo contrários à lei daquele estado, os cristãos da época não deixaram de exercer a fé, mesmo sendo perseguidos pelo imperador. “Eles defenderam o que acreditavam”, lembra.

Já o presidente da 8ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Fábio Ferreira lembrou do episódio que ficou marcado na Câmara de Vereadores de Piracicaba, quando o ex-presidente da Casa, vereador João Manoel dos Santos (PTB), foi acusado de ter expulsado, em 2013, um cidadão por não ter ficado em pé durante a leitura bíblica. “Sou solidário ao vereador João Manoel, porque, naquela oportunidade, estava se fazendo cumprir uma regra do Legislativo, e isso é importante que se diga, embora a Constituição defenda o Estado laico, existem regras internas, de poderes e instituições, que precisam ser seguidas”, disse. 

Fábio Ferreira também lembrou que, até 1988, antes da promulgação da Constituição Federal, “chamada de cidadã”, o Brasil adotava o Catolicismo como “religião oficial”, o laicismo retirou este termo, criando a possibilidade de que todos pudessem professar a fé da maneira como cada um entende. “Defender a liberdade religiosa é também defender a Constituição”, enfatizou. 

O sacerdote umbandista, Ronaldo Sango, parabenizou a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias pela realização do Fórum Liberdade Religiosa, “oxalá, todas as denominações tivessem a mesma iniciativa”, disse, ao propor a criação de um coletivo de lideranças religiosas para discutir os assuntos relacionados ao tema na cidade. “A Umbanda pode ser considerada uma religião genuinamente brasileira, responsável por trazer ao País o sincretismo religioso, o que hoje é uma herança dos escravos ao Brasil”, disse, “é muito importante que a sociedade entenda os costumes e a maneira como professamos a nossa fé, para que não haja preconceito”. 

O prefeito Gabriel Ferrato (PSDB) retomou a história da família para defender o respeito às religiões. “Aprendi com o meu pai, desde criança, que é preciso respeitar para ser respeitado e que, não é possível dizer que é cristão e que ama a Deus, se não respeita os irmãos”, disse o chefe do Executivo. Ferrato lembrou que a relação do poder público com as religiões devem ser “bem definidas”, já que a Prefeitura não pode beneficiar uma denominação. “Ao discutir tolerância religiosa, também devo dizer que não é ético alguém que procura o prefeito, ou qualquer outro representante do poder público, apenas por interesse particular”, disse.

Ao finalizar o Fórum de Liberdade Religiosa, Fernando da Silva Mendes, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como igreja dos mórmons, de que ele próprio foi vítima do preconceito. “Nós temos o costume de levarmos à Palavra de Deus e, em uma destas visitas em residências, uma pessoa perguntou se ‘eu andava com álbum de pessoas mortas”, disse, ao lembrar que o álbum de fotografias que os mórmons utilizam é da família. “Precisamos todos defender a liberdade religiosa e começa por combater o preconceito.”



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Legislativo Matheus Erler

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