No dia 27 de março de 2012, pontualmente às 20h30, um ator, caracterizado como Charles Chaplin, corre à frente do palco, sobe pela escada lateral e, de trás da cortina, surge para a plateia. Sozinho em cena, o interprete de Carlitos ––um dos maiores artistas do século 20 e ícone do cinema mudo–– declama um texto do dramaturgo Plínio Marcos e deixa no ar as 216 primeiras palavras do Teatro Municipal "Erotídes de Campos", inaugurado nesta terça-feira em Piracicaba.

"Amo o artista nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o artista no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando, no seu mais íntimo secreto, afinidades com as distorções de caráter do seu personagem. Amo o artista mais ainda quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, oferecendo seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor, sem nenhuma reserva, toda a fragilidade do ser humano fraco, reprimido, violentado. Amo o ator por se emprestar por inteiro para expor os aleijões da alma humana, na tentativa de que o público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que será construído pela harmonia e pelo amor. Amo o ator consciente de que a recompensa possível não é o dinheiro e nem o aplauso, mas a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Amo o ator e, por ele, amo o teatro. E sei que é por ele que o teatro será eterno. Amo o ator, o músico, o bailarino. Amo o palhaço. Viva o teatro, viva a dança, viva a música, as artes plásticas, viva todas as artes!"

Mais de 131 anos depois de Estevão Ribeiro de Souza Resende, o Barão de Resende, ter constituído o Engenho Central, o Armazém 6, onde era feita a destilação do álcool, dá lugar a uma das mais modernas casas de espetáculo do interior do país, com dois pavimentos, capacidade para 422 pessoas e estilo elisabethano (voltado ao teatro popular, com amplo espaço interno e desenho simples e funcional).

Para Bruno Prata, o investimento em um segundo teatro municipal mostra "a mudança de Piracicaba também no meio artístico". "Nós temos, aqui em Piracicaba, grandes artistas do teatro, da música, das artes plásticas. Um teatro desse nível, num local tão aprazível, é motivo de muita festa. Fizeram uma obra tão bonita e que orgulha a todos nós, piracicabanos", comentou o vereador.

O parlamentar elogiou a secretária municipal da Ação Cultural, Rosângela Camolese, e o prefeito Barjas Negri (PSDB), dizendo que a área de lazer e entretenimento da cidade divide-se entre "antes e depois" deles. "Ninguém segura mais a cultura de Piracicaba. Então essa obra vem mostrar que, em todos os setores, Piracicaba hoje é pungente: na indústria, na agricultura, no comércio. Na cultura, ela tem esse potencial extraordinário, melhor do que todas as cidades do Brasil. Há um potencial magnífico de artistas aqui."

Prata ainda destacou a participação da Câmara na aprovação do projeto de lei, enviado pelo Executivo, que deu ao novo teatro o nome de Erotídes de Campos. Nascido em Cabreúva (SP), em 15 de outubro de 1896, e falecido em 20 de março de 1945, o homenageado produziu mais de 230 composições de formas musicais variadas e tornou-se um dos mais expressivos artistas da história de Piracicaba. "Foi um projeto de lei aprovado pela Câmara. Não há nada mais justo do que essa homenagem a Erotídes de Campos", disse o vereador, ao comparar a grandeza do artista com a imponência da obra.

Rosângela enfatizou a quitação da dívida milionária que permitiu que o Engenho Central passasse a ser da Prefeitura. "O Engenho agora é de fato e de direito nosso. Então, nós podemos investir dinheiro público nele e também aceitar doações, principalmente através de leis e de incentivo à cultura. Essa é uma parceria público-privada com o banco Santander, que nos permitiu fazer esse grande empreendimento."

Segundo a secretária, o Armazém 6 "era o único remanescente das características francesas com pé direito bem alto". "Nós colocamos aqui um teatro para ser convidativo para as pessoas que vêm até o Engenho Central, no seu momento de lazer, apreciar essas belas construções e esse belo espaço no coração da cidade."

Rosângela esclareceu que a casa de espetáculos deverá ter principalmente peças infantis. "Nosso foco são as crianças, sementes de um grande fruto para esse espaço cultural, porque nossa intenção é na formação de público e plateia. Este é um teatro moderno, do tipo elisabetano, de alta tecnologia e com moderníssimos equipamentos. Tanto que poderemos receber não só peças do eixo Rio-São Paulo, mas também fazer pequenas temporadas com os artistas locais. Piracicaba é um celeiro de grandes artistas ––nas artes cênicas, na dança, na música, na literatura–– e eles terão aqui esse grande espaço", destacou a secretária, ao lembrar que cidades de porte semelhante ao de Piracicaba "nem sequer têm um teatro municipal".

O "Erotídes de Campos" foi inaugurado em pleno Dia Mundial do Teatro, com quatro atrações: um musical com a Orquestra Sinfônica de Piracicaba, a encenação de "Diálogos de Época (com Carlos ABC e Raul Rozados), a apresentação de uma montagem da São Paulo Cia. de Dança e um pas de deux com Hélio Bejani, bailarino e coreógrafo piracicabano, e Ana Botafogo, bailarina e madrinha da Cia. Estável de Dança de Piracicaba.

Além de Bruno Prata, estiveram representando a Câmara no evento o presidente, João Manoel dos Santos (PTB); o vice-presidente, José Aparecido Longatto (PSDB); o primeiro secretário, Carlos Alberto Cavalcante, o Carlinhos (PPS); o segundo secretário, André Bandeira (PSDB); José Antonio Fernandes Paiva (PT), José Luiz Ribeiro (PDT) e Márcia Pacheco (PSDB).

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTOS: Luciano Beccari / MTB 47.054

[Texto atualizado em 29/03/2012]