O vereador Laércio Trevisan Júnior (PR) estuda registrar um boletim de ocorrência contra o secretário municipal de Saúde, Fernando Cárdenas, se um paciente com diabetes que espera por um leito há cinco dias, sentado numa cadeira na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Cristina, não for internado até a tarde desta quarta-feira (27). O parlamentar visitou o local na noite desta terça-feira (26) após ouvir reclamações quanto à falta de profissionais  no posto e às dificuldades em conseguir transferência de pacientes para hospitais.

"Não consigo compreender e aceitar a situação a que chegamos. Estou pedindo providências urgentes. Se esse homem não for internado até a tarde, vou fazer um BO contra o secretário, amparado na Constituição, por expor a vida dos munícipes", disse Trevisan, que classificou de "colapso" o estágio atual da saúde em Piracicaba. Ele já havia manifestado preocupação em relação aos problemas enfrentados pelas UPAs da cidade no último dia 4 de julho.

O paciente que está na unidade da Vila Cristina aguardando internação é Armando de Souza, de 56 anos. Com diabetes, ele não tem parte dos dedos das mãos, nem pode andar ou deitar, já que não consegue esticar as pernas em razão das fortes dores que sente. Assim, Souza tem dormido desde a última sexta-feira em uma cadeira, com apenas travesseiro e cobertor. Ele é mantido em uma área isolada na unidade, por causa do forte odor de seus membros, que estão em processo de necrose ––o que deve implicar a amputação dos dois pés tão logo Souza for internado.

Ao ser questionado por Trevisan como tem conseguido suportar as fortes dores e permanecer sentado há tantos dias, o paciente mostrou-se perseverante. "Eu acredito em Deus. Ele vai me ajudar a sair daqui", afirmou o homem de 56 anos.

Trevisan questiona as prioridades da gestão Barjas Negri (PSDB). "A Prefeitura prefere fazer grandes obras, visíveis, tirando inúmeras vidas por falta de atendimento nas UPAs. É um absurdo uma cidade que está com dinheiro sobrando em caixa não contratar vagas zero para resolver essa situação caótica", disse o vereador.

"Nunca vi a situação chegar a esse ponto, em que as pessoas ficam esperando por mais de seis dias. Quantas pessoas mais terão que morrer para que a administração pública faça uma remodelação do sistema de saúde?", perguntou Trevisan, que, além das vagas zero, sugere ao Executivo que alugue o imóvel onde funcionava o hospital da Unimed, na avenida Carlos Botelho, para elevar a oferta de leitos da rede (seriam mais 107 se fosse feita essa opção).

MAIS PROBLEMAS
Ainda sobre a UPA da Vila Cristina, Trevisan recebeu denúncia de usuários dando conta de que um óbito registrado no último domingo (24) teria ocorrido por negligência no socorro à vítima. Segundo testemunhas, o homem que morreu foi levado com vida para o interior do posto para receber os primeiros atendimentos. Na versão relatada pela unidade de saúde a Trevisan, a vítima teria falecido ainda na parte externa, antes de ter contato com a equipe médica do local.

Além desse caso e da ocorrência envolvendo o paciente com diabetes, Trevisan viu outros graves problemas na UPA da Vila Cristina. Uma criança de 7 anos estava esperando havia duas horas por uma ambulância para ser transportada até a COT (Central de Ortopedia e Traumatologia), onde passaria por exames. Outras duas pessoas também relatavam esperar há mais de cinco dias por uma internação em um dos hospitais da rede pública.

E, segundo Trevisan, a UPA da Vila Cristina, na noite desta terça-feira, não contava com enfermeiro-padrão chefe e tinha apenas dois clínicos fazendo atendimento às mais de 60 pessoas que aguardavam nos corredores da unidade. Além disso, o vereador constatou que havia quatro funcionários de enfermagem a menos que o mínimo necessário para o período.

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTO: Vereador Laércio Trevisan Júnior