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02 DE AGOSTO DE 2011

Fórum: Religiosos discutem papel de Estado e família na vida dos jovens


Líderes religiosos discutiram o papel do Estado e da família na vida do jovem durante a penúltima reunião temática do Fórum Permanente de Segurança Pública, realiza (...)



EM PIRACICABA (SP)  

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Líderes religiosos discutiram o papel do Estado e da família na vida do jovem durante a penúltima reunião temática do Fórum Permanente de Segurança Pública, realizada na manhã desta terça-feira (2), no plenário da Câmara. Apesar de os integrantes do sétimo grupo de trabalho representarem segmentos religiosos, a educação foi apontada como uma das saídas para combater a violência em Piracicaba.

O encontro foi conduzido pelos vereadores João Manoel dos Santos (PTB) e Carlos Alberto Cavalcante, o Carlinhos (PPS), respectivamente presidente e primeiro secretário da Mesa Diretora, que falaram sobre a razão de distintos setores da sociedade terem sido convidados a participar do Fórum. "Segurança não é só colocar polícia na rua; é ter informações sobre como podemos nos inserir nesse contexto para exigir dos comandos uma ação mais enérgica. Não adianta só cobrar a polícia; a questão da segurança é muito mais complexa. Todos temos o dever de estarmos inseridos nessa discussão", disse João Manoel. "Este tem sido um trabalho muito bem elaborado, que está tendo a participação de todos os segmentos da sociedade", observou Carlinhos.

Compareceram à reunião desta terça-feira o padre Marcelo Bellato, da Paróquia Menino Jesus, representando a Diocese de Piracicaba; o pastor Jessé Sobral, presidente do Conselho de Pastores, representando as igrejas evangélicas; Rodrigo Alves, do Ministério Freedom; o babalorixá Eduardo Gomes T’Osumaré, representando as religiões tradicionais de terreiro; e o pastor Beto Avancini, da Igreja Batista Vale do Sol.

Também participaram dos debates João José Couto, representando a pastoral da saúde da Santa Casa de Piracicaba e o capitão Wagner Geromim Valente, chefe de comunicação social da Polícia Militar de Piracicaba. O encontro foi acompanhado, ainda, por Célia Turi, assessora do vereador Dirceu Alves da Silva (PPS), e pelos diretores de departamentos da Câmara Fábio Dionisio (Legislativo), Evandro Evangelista (Cerimonial), Kátia Garcia Mesquita (Administrativo), Carlos Eduardo Gaiad (Comunicação) e Marisa Libardi (TV Câmara).

PROPOSTAS I
Em sua fala, o padre Marcelo Bellato sugeriu a adoção de uma cultura para a cidadania e a prevenção. "O tráfico de drogas está dizimando as famílias. Nós devemos propor uma política educacional, começando pelas escolas", disse o representante da Igreja Católica. "Devemos procurar orientar jovens e crianças. É um trabalho em conjunto. Se há nas escolas uma educação para a cidadania, as entidades religiosas também devem contribuir", completou o sacerdote, para quem aquele que age com indiferença ante uma pessoa necessitada pode sofrer, ele mesmo, as consequências desse tipo de comportamento adotado.

Representando a Igreja Batista, o pastor Beto Avancini também fez sugestões que têm como foco a família e o resgate de valores. "É necessário convocar a família para assumir seu papel, que nunca vai deixar de existir. Isso deve ser cobrado pelo poder público constituído e pelas igrejas. Pais e filhos precisam conversar", alertou o pastor, que desenvolve um trabalho social no bairro Jaguari com 17 jovens que atuavam como "aviõezinhos" do tráfico. "Há uma inércia da família: não há diálogo, não há relacionamento. Todo investimento que se fizer será pouco se não houver religiosidade. A restauração do compromisso com a família é a base para a segurança", completou Avancini, apontando a falta de estrutura familiar como gerador de violência.

Já Rodrigo Alves, do Movimento Freedom, apontou que, além da família, é necessário investir em opções de lazer para que o jovem não parta para a criminalidade. "Não é questão de família somente, é questão de ter base, de ter o que fazer. Os centros comunitários não estão sendo usados para nada. Eles são usados somente para fazer festas promovidas por pessoas ligadas ao tráfico. Era para as famílias estarem lá dentro e até mesmo as igrejas. Os centros comunitários têm que voltar a ser lugar de lazer, cultura e educação na periferia da cidade", cobrou. "Como cidadãos de bem, temos que tomar o poder novamente", afirmou. Rodrigo também propôs a criação de casas de recuperação exclusivas para crianças, para que a qualidade do atendimento não seja afetada pelas diferenças de idade.

PROPOSTAS II
Presidente do Conselho de Pastores, o pastor Jessé Sobral selecionou três pontos como base para combater a violência: mobilização/conscientização, prevenção e correção. O primeiro ponto seria viabilizado com a distribuição de cartilhas anti-drogas, a promoção de campanhas de forte impacto e a realização de uma passeata anual que envolvesse toda a população. O segundo item inclui o aumento do contingente policial e a instalação de sistema inteligente de monitoramento por câmeras. Por fim, a correção se daria com a construção de mais clínicas para dependentes químicos (a fim de reduzir o número de pacientes que atualmente cada centro atende) e para crianças. "Se há excesso de contingente, há má qualidade no atendimento", afirmou.

"O sistema de atendimento a crianças em Piracicaba está ainda muito aquém do que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA determina pequenos grupos, para que essas crianças e adolescentes não fiquem nos "depósitos da sociedade", mas que sejam trabalhadas para voltar ao seu lar", comentou. Jessé ainda criticou o que ele chamou de "cultura da transferência": "As mães trabalham e os filhos são criados pelas creches. Os pais estão transferindo, inclusive para a igreja, a responsabilidade que têm".

João José Couto, da pastoral da saúde da Santa Casa de Piracicaba, manifestou ponto-de-vista diferente sobre o assunto. Para ele, o Estado precisa assumir seu papel na educação dos jovens. "Esse conceito precisa ser mudado. Hoje o Estado está ocupando o espaço da família. A escola tem o dever de educar, sim. Tem que ser uma educação compartilhada", defendeu Couto, que propôs o incentivo ao que chamou de "educação teológica" e a realização de curso para a qualificação das famílias que utilizam serviços do Estado, como creches e escolas.

PROPOSTAS III
Já o babalorixá Eduardo Gomes alertou para a necessidade de combater outro tipo de violência: a intolerância religiosa. Ele pregou o respeito às diferentes crenças. "O Estado é laico e não tem religião. Ele não é cristão", disse Gomes, que sugeriu a integração de entidades para implementar ações socioeducativas nas comunidades. "Temos que começar com a educação para diminuir a intolerância religiosa, que no mundo foi por muito tempo causa de brigas", observou.

Convidado a participar da reunião do sétimo grupo temático, o capitão Wagner Geromim Valente, chefe de comunicação social da Polícia Militar, trouxe à mesa de debates um problema recorrente em Piracicaba, que, segundo ele, requer solução rápida e integrada. Trata-se da relação entre o Conselho Tutelar da cidade com as forças de segurança locais. "Trabalhamos integrados com todos os poderes públicos. Nosso interesse em segurança pública é preservar os direitos do cidadão", afirmou.

Segundo o capitão, uma ideia surgida tempos atrás propunha a criação, em Piracicaba, de uma força-tarefa que reuniria a PM, a Guarda Civil Municipal, a Semuttran e a Sedema, com o Conselho Tutelar atuando como "um viés em tudo isso", para que, quando fosse localizado um menor de idade em situação de risco, houvesse uma ação de abordagem e proteção imediata para a retirada desse jovem do local e seu consequente encaminhamento. Tal ideia, apresentada ao Conselho Tutelar, foi rejeitada pela entidade e, então, inviabilizada. Para tentar reconsiderar a situação e buscar um meio para executar a ação conjunta, o Fórum Municipal Permanente de Segurança Pública prôpos reunir as organizações envolvidas nesse plano ainda em formulação para tentar colocá-lo em prática.

 

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTOS: Davi Negri / MTB 20.499



Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918


Câmara Cidadania

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