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25 DE MARÇO DE 2021

Especialistas apontam modelo de cidades na degradação de rios


Professores e doutores na área, Demóstenes Ferreira da Silva Filho e Juliana Alencar ministraram palestra na Escola do Legislativo.



EM PIRACICABA (SP)  

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A relação complexa entre o homem e a água, “no nível de sobrevivência biológica”, como aponta a professora doutora Juliana Alencar, não é traduzida pela forma como o modelo de desenvolvimento na maior parte das cidades trata os chamados “rios urbanos”. O assunto foi tema de palestra na Escola do Legislativo, na tarde desta quarta-feira (24). 

“O rio é reflexo dos processos que ocorrem em sua bacia hidrográfica, ou seja, lugares diferentes vão ter rios diferentes”, destaca Juliana. Essa diversidade, no entanto, se dá tanto pelo aspecto das características naturais de cada ambiente onde o rio está e também com as relações antrópicas, “a maneira como a gente utiliza dentro da organização das cidades”, diz. 

Para demonstrar como o modelo de desenvolvimento aplicado na maior parte das cidades brasileiras afeta a qualidade dos rios, o professor e doutor Demóstenes Ferreira da Silva Filho traz a relação entre a mobilidade e a drenagem, em que se foram “lacrados” os rios, agravando, inclusive, as pandemias em chuvas de verão. “Nós temos muitas avenidas que são assim, como a Armando Salles, em Piracicaba, que está sobre um córrego”, diz.

“A gente tem que repensar estas questões, e aqui entram as árvores nas microbacias urbanas como uma alternativa para melhorar o sistema de drenagem”, aponta o especialista. A partir de um estudo na cidade de São Paulo, Silva Filho destaca a importância dos leitos dos rios na melhora dos microclimas da malha urbana e prevenção das chamadas ilhas de calor.

Ele cita um projeto em que são feitas medições de temperatura em diferentes áreas na Região Metropolitana de São Paulo observando a cobertura arbórica e o resultado são diferenças de seis a oito graus Celsius entre locais com maior ou menos densidade. “Estes microprocessadores são ligados à internet, então podemos ter um olhar bem apurado”, diz.

A qualidade, portanto, do clima nas cidades está ligada à qualidade dos rios urbanos, o professor aponta o quanto os leitos bem preservados poderiam contribuir na qualidade do clima. “Precisamos sempre fazer o exercício do que queremos e aonde queremos chegar”, define.

Juliana Alencar demonstra a relação do rio e o ambiente por onde ele passa e suas interações com as cidades a partir de um olhar mais apurado sobre o rio Tietê, o maior do Estado de São Paulo. “Ele nasce em Salesópolis, onde está protegido dentro de um parque, tem a influência da vegetação, com uma área um pouco melhor manejada”, explica.

Quando chega em São Paulo, o Tietê muda de forma e perde a qualidade da água, “aqui temos um trecho de ocupação mais agressivo, com uma cidade super densa, super heterogênea, que está crescendo e se remodelando, e aí temos um rio que tenta sobreviver a todo este processo”, acrescenta.

Mais a frente, o rio Tietê entra em um ambiente alterado, com uma cidade menos densa, com zonas mais preservadas. “A autodepuração do rio vai se renovando e ele vai se purificando e recupera a qualidade da água”, diz, ao exibir uma foto da chamada “Prainha de Buritama”.

A especialista conclui que a sociedade precisa entender qual tipo de rio que ela quer em suas cidades. “A gente quer um rio que seja provedor, que provenha coisas para a cidade e para o contexto em que está inserido, onde consigo produzir um uso multiplico do recuro hídrico, que seja bom para a paisagem, esteja integrado”, conclui.

A palestra da Escola do Legislativo está disponível no Youtube e pode ser acessada, na íntegra, neste link ou no vídeo anexado à matéria.



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Escola do Legislativo Infraestrutura Urbana Meio Ambiente Silvia Maria Morales

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