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07 DE JULHO DE 2023

Clubes sociais tiveram papel de integração dos negros no pós-abolição


Arquivos históricos revelam o papel da Sociedade Beneficente 13 de Maio na inclusão da população negra de Piracicaba



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Fabrice Desmonts - MTB 22.946 (1 de 10) Salvar imagem em alta resolução

Sociedade 13 de Maio em registro de 2014

Sociedade 13 de Maio em registro de 2014
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Sociedade 13 de Maio em registro de 2014

Sociedade 13 de Maio em registro de 2014
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Roda de Conversa promoveu discussão sobre Rotas Afro e a história registrada nos arquivos da Câmara

Roda de Conversa promoveu discussão sobre Rotas Afro e a história registrada nos arquivos da Câmara
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Roda de Conversa promoveu discussão sobre Rotas Afro e a história registrada nos arquivos da Câmara

Roda de Conversa promoveu discussão sobre Rotas Afro e a história registrada nos arquivos da Câmara
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Roda de Conversa promoveu discussão sobre Rotas Afro e a história registrada nos arquivos da Câmara

Roda de Conversa promoveu discussão sobre Rotas Afro e a história registrada nos arquivos da Câmara
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Julia Madeira

Julia Madeira
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Marilda Aparecida Soares

Marilda Aparecida Soares
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Antônio Filogênio de Paula Junior

Antônio Filogênio de Paula Junior
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Acácio Godoy (PP) - mediador

Acácio Godoy (PP) - mediador
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Silvia Morales (PV) - Escola do Legislativo

Silvia Morales (PV) - Escola do Legislativo
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Sociedade 13 de Maio em registro de 2014



A abolição da escravatura no Brasil, em 1888, não garantiu à população negra direitos básicos como educação, saúde ou o acesso a qualquer tipo de benefício. Diante disso, os clubes sociais exerciam o papel de inserção das comunidades negras nas cidades e os associados recebiam auxílios farmacêuticos, educacionais, jurídicos e todos os tipos de direitos que o Estado negava à população negra.

Em Piracicaba, esse papel de inserção e acolhimento era exercido pela Sociedade Beneficente 13 de Maio. Tombada pela Prefeitura Municipal de Piracicaba por sua importância cultural para a cidade, a sede da Sociedade Beneficente 13 de Maio faz parte do itinerário do Rotas Afro, movimento de afro-turismo que conta as histórias negras de quatro cidades do interior paulista: Piracicaba, Campinas, Rio Claro e Vinhedo.

A roda de conversa “Rotas Afro nos arquivos da Câmara Municipal de Piracicaba”, promovido pela Escola do Legislativo “Antonio Carlos Danelon - Totó Danelon", apresentou registros históricos da Câmara referentes aos locais que compõem as Rotas Afro em Piracicaba.

Acervo – O Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara possui em seus registros um documento datado do dia 3 de junho de 1888, dias após a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio. Trata-se de uma indicação do vereador Francisco Rocha, indicando que a Rua das Flores passasse a denominar Rua 13 de Maio e o Largo da Boa Vista, Praça 13 de Maio.

Segue a transcrição do trecho original:

2. RUA E PRAÇA 13 DE MAIO

 

         [fl.54]

        

         Sessão ordinaria do dia 3 de junho de 1888, nesta

                         Presidencia do Senhor Arruda Pinto.

        

         [fl.58]

         [continuação]

        

10     Do Senhor Francisco Rocha: Indico que a Rua da Flores,

         passe a denominar-se Rua 13 de Maio e bem assim

         o largo da Boa Vista á denominar-se Praça 13 de

         Maio. Devendo o Senhor Fiscal providenciar com urgência

         para que seja escripto. Paço da Camara Munici-

         pal 3 de Junho de 1888.

Sociedade Beneficente – Fundada em 1901 com o nome de Sociedade Beneficente Antonio Bento, passou a ser denominada, em 1908, de Sociedade Beneficente 13 de Maio.

Na roda de conversa, a produtora cultural e fundadora do projeto Rotas Afro, Julia Madeira, citou pesquisas do historiador William Lucindo sobre o associativismo negro no Brasil. Essas pesquisas detalham que as associações negras, sobretudo, os clubes negros de Campinas, como o Clube Machadinho, e a Sociedade Beneficente 13 de Maio, de Piracicaba, inspiraram outras sociedades e outros clubes sociais negros.

“Existe uma pesquisa da Alissa Galdino (historiadora) que fala dos diferentes lugares dos negros na sociedade no pós-abolição. Por exemplo, tinha o negro que era livre, o negro livre que era associado de clubes sociais e o negro livre das irmandades”, relatou a produtora cultural.

Além da contextualização histórica, Julia reforça a importância dos clubes sociais negros para a inserção e organização da comunidade negra no pós-abolição.

A doutora e mestre em História Social, Marilda Aparecida Soares, detalhou que os clubes e associações também tinham uma função moralizante porque existiam padrões de comportamento: qual roupa usar, como se portar e como manter as relações interpessoais a partir do respeito.

“Não é porque houve a abolição que o preconceito racial deixou de existir, se fosse assim, nós não estaríamos hoje aqui pontuando isso, mas os grupos também vão se organizar. Assim como os grupos de imigrantes se organizaram nas suas colônias para manterem os seus valores, língua de origem, os negros fizeram o mesmo”, afirmou Marilda Soares, uma das facilitadoras da roda de conversa.

Em defesa do Carnaval – Em fevereiro de 1952, a Câmara Municipal de Piracicaba debateu o projeto de lei nº 4, proposto pelo vereador Oscar Manoel Schiavon, que previa a premiação dos cordões carnavalescos e dos caminhões de rancho do município. O assunto gerou discussões contrárias e favoráveis na Casa e também na cidade.

Na roda de conversa, o servidor do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, Bruno Didoné de Oliveira, relatou que encontrou no texto original manifestações pela rejeição do projeto, no qual um vereador afirma que “o carnaval é festa de origem e natureza pagãs. Por isso, deveria ser banido da civilização cristã e [universal]. Nenhum benefício traz ao povo ou aos indivíduos, antes pelo contrário, somente malefícios tem produzido, estes de ordem moral, física, etc”.

Em defesa do projeto, a Sociedade Beneficente 13 de Maio entregou abaixo-assinado à Câmara, definindo o prêmio como oportuno. “E essas quase 200 assinaturas são de pessoas do povo que queriam fazer aquele carnaval, lutando contra essa outra força que surgia na Câmara que era de abafar, não ter essa festa popular”, afirmou Bruno Didoné.

No documento original, que pode ser acessado nesse link, consta o abaixo-assinado com o timbre da Sociedade 13 de maio, cuja primeira assinatura é do então presidente, Benedito José Anastácio.

Rotas Afro nos arquivos da Câmara Municipal de Piracicaba – Realizada no mês de junho, a roda de conversa foi mediada pelo vereador Acácio Godoy (PP) e teve como facilitadores a fundadora do Rotas Afro, Julia Madeira, e os especialistas Antônio Filogênio de Paula Junior e Marilda Aparecida Soares, que contextualizaram a origem afro no Brasil e em Piracicaba.

Os servidores Giovanna Fenili Calabria, Dayane Cristina Soldan e Bruno Didoné de Oliveira, do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, apresentaram registros relacionados às rotas afro que estão no sistema ATOM, disponível no site oficial da Câmara Municipal de Piracicaba.

Registros da Câmara sobre os demais locais da Rotas Afro, a história de personalidades negras e o contexto da escravatura na cidade integram em uma série de reportagens publicadas pelo Departamento de Comunicação Social da Câmara.



Texto:  Daniela Teixeira - MTB 61.891
Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992


Escola do Legislativo Achados do Arquivo Documentação Pedro Kawai Acácio Godoy Silvia Maria Morales

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