Trabalhar a perspectiva histórica, com foco no programa de formação continuada em Educação Étnico-Racial, da SME (secretaria municipal de Educação), tendo como referência importantes acervos, a exemplo do setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal e o Museu Prudente de Moraes, onde os integrantes da rede municipal de ensino serão estimulados a trilhar por caminhos visando o resgate e valorização do processo de formação e transformação, que resultou na consolidação de Piracicaba na contemporaneidade, sucedida pelo período da monarquia, com o colonialismo e regime de escravidão até o advento da República, em 1889. 

Com estas premissas, os professores da rede municipal de ensino, compreendendo um universo de 3.500 pessoas, tendo como foco inicial diretores e coordenadores, totalizando 130 educadores, trabalham com a perspectiva de conhecer um pouco mais o processo histórico da formação de Piracicaba. 

O desenvolvimento desta iniciativa é explicado por Marilda Soares, assessora especial de projetos e responsável pela formação continuada na área de Educação Étnico-racial da SME (secretaria municipal de Educação), que na manhã desta quinta-feira (11) acompanhou o primeiro, dos cinco grupos, no entorno de 130 pessoas, entre diretores e coordenadores de escolas municipais de Piracicaba que passarão pela Câmara e Museu Prudente de Moraes, para conhecerem um pouco mais da história da cidade. 

Primeiramente, o grupo de diretoras foi recebido na sala de aula do setor de Documentação e Arquivo da Câmara, localizado no prédio anexo, quarto andar, onde a chefe do setor, Giovanna Fenili Calabria, a arquivista Dayane Cristina Soldan, o servidor Bruno Didoné de Oliveira e a estagiária Samara Lopes, iniciaram explicações sobre o processo de guarda e conservação dos documentos da história da cidade em poder da Câmara. 

Na sequência o grupo parou na sala de reunião e, respaldado com luvas especiais e opção pelo uso de máscaras, tiveram acesso às diversas atas antigas, com direito a manusear publicações e registros, onde o livro mais antigo é datado de 1784, descrevendo as mudanças das margens do rio Piracicaba, onde aparece a assinatura do povoador Antonio Correa Barbosa. 

Na sala de conservação e restauro, o grupo de diretoras pôde constatar o cuidado com que o setor de Documentação faz a guarda dos livros antigos, onde se usa um papel especial (japonês) além de cola específica à base de metilcelulose, para os reparos. Também foi apresentado às educadoras registros históricos sobre a implantação do primeiro tributo de Piracicaba, a chamada lei da "Finta", onde os proprietários eram obrigados a contribuir sobre a cabeça de cada escravo acima de sete anos de idade. 

A pena de morte, com a discussão sobre onde se instalar a forca, bem como o Pelourinho, também foi outro assunto abordado na visita das diretoras, que ainda ficaram sensibilizadas ao tomar ciência do processo que envolveu a escrava Benedicta, presa sob acusação de ter matado os seus três filhos, fruto do desespero de uma escravizada que se viu pressionada pelos seus algozes, frente ao sistema escravagista, onde os negros eram considerados objetos, adquiridos em praças públicas como "peças de Guiné". 

Concluindo a visita na Câmara, o grupo de diretoras também conheceu o plenário "Francisco Antônio Coelho", palco das reuniões ordinárias e extraordinárias, além de eventos e audiências públicas. E, também passaram pelo salão nobre, onde se realiza as reuniões solenes da Casa de Leis, bem como visitaram o Espaço Prudente de Moraes, onde se concentra registros históricos, fotos e objetos do primeiro presidente civil do Brasil, que fez de Piracicaba a sua trajetória de vida e morada eterna, ao estar enterrado no Mausoléu da família, no Cemitério da Saudade. 

Já na parte externa da Câmara, no prédio principal, rua Alferes José Caetano, 834, o grupo se deteve no Marco Histórico da Câmara Municipal de Piracicaba, alusivo ao local simbólico que marca a luta e resistência do povo negro na cidade, tendo como locais referenciais, o entorno da Igreja de São Benedito, ao lado da Câmara e, o antigo Cemitério dos Negros, que outrora ocupava o local onde hoje está situada a escola estadual Moraes Barros, na praça Tibiriçá, no cruzamento da rua 13 de Maio, com a rua do Rosário. 

Diretoras que estiveram na Câmara: Vanessa Mussini (Benedito de Fátima), Ana Paula (Heitor Pompermayer), Fabiana Figueiredo (Maria Penezzi), Joyce Godoi (José Antonio de Souza), Camila Rosolen (Olivia Caprânico), Samira Marcun (Luiz Cláudio Alves), Agatha Valeriano (Aracy de Moraes), Débora Costa (Nathalio Zonatta Sabino), Simone Aparecida de Lima (Maria Conceição Polizel Mendes), Karina Teixeira (Lazaro Detoni), Flávia Negri (Erica Gobbo), Cássia Mota (Maria Elvira Faganello), Suelen Camargo Wouk (Ada Buzelli Neme), Danielly Vasconcelos Oliveira (Padre Pedro Baron), Elizabeth Leme Castilho (João Otávio de Melo Gonçalves (Elizabeth Consomagno Cruz), Regiane Vanin Libardi (Benedito de Andrade) e Priscila Mendonça Cersosimo (Maximiliano Fermino Gil).   

Acervo

O acervo histórico é composto por documentos produzidos e recebidos pela edilidade. São documentos datados desde 1784, como ofícios, atas, normativas e fotografias. Parte deste acervo encontra-se disponível para consulta online e pode ser acessado através do site oficial da Câmara (camarapiracicaba.sp.gov.br). São mais de 6.000 itens documentais já disponibilizados, incluindo os apresentados na visita monitorada.

Câmara

A Câmara Municipal de Piracicaba foi criada em 1822, em decorrência de um ato do Governo Provisório de São Paulo, no qual a Freguesia de Santo Antônio de Piracicaba foi erigida à categoria de Vila, recebendo o nome de Vila Nova da Constituição, em homenagem à Constituição Portuguesa que fora recentemente promulgada. A elevação da Freguesia à condição de Vila e a disposição da Câmara Municipal marcam o início da autonomia administrativa da região.

Através da Ata de Instalação da Câmara e de eleições indiretas se tem a primeira sessão da Câmara Municipal da Vila Nova da Constituição, que ocorreu no dia 11 de agosto de 1822, na residência do Juiz-Presidente, o Capitão João José da Silva. Já a primeira Casa da Câmara que se tem notícia foi construída onde hoje está localizada a praça José Bonifácio.

Ali foram instalados os diferentes órgãos administrativos da Vila, na seguinte disposição: a Casa da Câmara foi construída na praça José Bonifácio com sua face principal voltada para a igreja matriz, ao lado e anexo à Câmara estava a Cadeia e no centro, entre a Câmara e a Igreja Matriz, foi instalado o Pelourinho.

Anos depois, a Câmara migrou para um imóvel na Praça Tibiriçá. Posteriormente, instalou-se na confluência das ruas Alferes José Caetano e São José, e em 1975, no número 834 da rua Alferes José Caetano, local onde se encontra até os dias atuais.

Com a proclamação da República no Brasil, foi outorgado também o primeiro Regimento Interno da Câmara Municipal de Piracicaba, no qual a constituição, estrutura, atribuições, funções, competências e atribuições da Câmara foram regulamentadas.

E, em 1908, passa a entrar em vigor uma nova organização do sistema municipal, com a separação das funções da Câmara e da Prefeitura, e a designação dessas atribuições.

No dia 1º de agosto de 1975 ocorreu a inauguração da sede da Câmara Municipal de Piracicaba, na localidade que se encontra até os dias atuais (rua Alferes José Caetano, 834).