05 de fevereiro de 2014

Fotógrafos da Câmara documentam agonia do rio Piracicaba

Davi Negri e Fabrice Desmonts visitaram rio e produziram imagens sobre a histórica seca

As altas temperaturas desde o início de janeiro, a ausência de chuvas e a baixa vazão das águas modificaram, esta semana, o principal cartão-postal da cidade. No tradicional salto já não se vê a força das águas e em seu lugar formou-se uma ilha que se atravessa a pé. A agonia do Rio Piracicaba motivou os repórteres fotográficos da Câmara de Vereadores de Piracicaba, Davi Negri e Fabrice Desmonts, a documentar o histórico e triste episódio.

“É uma tristeza para todos os piracicabanos que gostam desse patrimônio”, diz Negri, funcionário da Câmara desde 1989. “É um privilégio ter um rio cortando a nossa cidade”, destaca o fotógrafo, ao sentir nítido o desânimo dos moradores da rua do Porto com a situação. “O rio e a população estão tristes”, completa.

Desmonts, que atua no Legislativo piracicabano desde 1995, lembra que até um mês era possível avistar patos selvagens no leito do rio, que sumiram, provavelmente, com o quadro atual. “Além de uma grande concentração de areia, pude ver muito lodo e vegetação seca”, diz.

A paixão pela cultura ribeirinha faz parte da trajetória dos dois profissionais, que em 2009 lançaram o livro Nosso rio, Nossas aves – Às Margens do Piracicaba, assinado também pelo biólogo piracicabano Luccas Longo e publicado pela Editora Senac. Para produzir o material, Negri e Desmonts percorreram 20 quilômetros de vegetação às margens do rio e fotografaram 115 espécies de aves.

Desta vez, ao caminhar literalmente pelo salto da “Noiva da Colina”, Negri observou o voo de quatro colhereiros, aves de bico longo e plumagem rosa-brilhante que geralmente habitam terrenos pantanosos, mangues ou lagos ricos em vegetação. Com 68 milímetros de chuva registrado desde o início do ano, contra a média histórica de 335 milímetros, a baixa vazão é propícia para aproximação das aves na captura dos peixes. 

Também causou surpresa nos fotógrafos o índice de mortandade dos peixes, entre eles o da espécie cascudo, que tem seu período reprodutivo entre os meses de novembro e fevereiro. Em pleno período da piracema – que teve início em novembro e segue até 28 de fevereiro – outras espécies de água doce agonizam em pequenas poças d’águas e ficam impossibilitadas de fazer a desova. “Como os peixes se refugiam nas poças, tornam-se alvo de garças, colhereiros, socós e biguás, que ficam em bando à espera de uma brecha para se alimentar”, observa Negri.

Ao fazer o percurso na última segunda-feira (3), Desmonts também presenciou três capivaras mortas, enroscadas entre as pedras do rio. Esta é uma observação que serve como alerta para possíveis aventureiros que queiram atravessar o rio a pé, pois os buracos entre as rochas deformadas podem representar perigo.

Na última sexta-feira (31), enquanto fazia uma pauta para um vereador, Negri acompanhou a progressão dos termômetros na área de lazer da Estação da Paulista. Às 12h30 a temperatura era de 41º e quarenta minutos depois indicava 47º. Conforme dados do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura) este é o fevereiro mais quente nos últimos 90 anos.

Texto: Rodrigo Alves - MTB 42.583