
02 DE ABRIL DE 2009
A vereadora Márcia Pacheco (PSDB) entregou durante a Reunião Ordinária desta quinta-feira (02/04), moção de Aplauso à Ariete Carraro de Carvalho, vencedora da promo (...)
A vereadora Márcia Pacheco (PSDB) entregou durante a Reunião Ordinária desta quinta-feira (02/04), moção de Aplauso à Ariete Carraro de Carvalho, vencedora da promoção do JP Mulher, exemplo de vida, onde contou sua luta contra o alcoolismo da mãe e do marido.
A homenageada, que contou com o apoio das filhas para contar sua história, disse que nunca teve medo em expor sua história de vida e que a intenção é justamente incentivar as pessoas que ainda passam pelo mesmo problema que o seu.
O concurso, que recebeu cerca de 100 cartas, teve como juradas a empresária e escritora Maria Helena Corazza, a professora de história Ariane Guimarães e a editora responsável do JP, Marisa Setto.
A vereadora contou que se emocionou com a história de Ariete Carraro de Carvalho e sua força de vontade e sua coragem em enfrentar todos os obstáculos impostos pela vida. "A história de vida de Ariete é mais que uma lição de vida. É um exemplo a ser seguido", comentou Márcia Pacheco.
Íntegra da Carta vencedora
"Minha história é um pouco triste. Com 11 anos (1969), meus pais se separaram. Até então, me recordo de muitas brigas e desavenças entre eles. Aí fui morar com minha mãe e meu irmão mais velho, na casa do meu avô materno (viúvo).
Em minha mãe despertou a doença do alcoolismo. Foi para mim uma vida muito difícil, pois meu irmão não aceitava o alcoolismo da minha mãe e foi morar com meus avós paternos. Então ficamos eu, minha mãe e meu avô morando juntos.
Com 14 anos conheci o meu marido (ele então com 20 anos), namoramos por seis anos. Nos casamos em 27/01/1979 e, depois do casamento, despertou nele também a doença do alcoolismo. Portanto tinha em minha vida dois alcoólatras (ele sempre bom e trabalhador), mas alcoólatra.
Imaginem vocês pelo que eu passava. Brigas entre os dois eram constantes, eu e meu avô chorávamos muito.
Depois de nove meses de casada, tive a 1ª filha (Vanessa) em outubro 1979 e a 2ª filha (Ariana) que nasceu em 1981, são as alegrias da minha vida e vieram para me dar mais força para lutar.
Aí ficaram duas filhas, dois alcoólatras e o avô materno, todos morando comigo. Foi uma tarefa difícil (quase impossível) de ser enfrentada, não fosse o apoio moral, psicológico e financeiro da família do meu pai (meus avós e meu tio). Certo dia, muito triste, chorando muito, pensando em desistir de tudo, sentei em minha cama, olhei para minhas filhas (uma no berço e outra na cama), pedi forças a Deus para que Ele me ajudasse a achar uma saída para aquela situação, pois não agüentaria mais sofrer (sou católica).
Aí Deus (Todo Poderoso) me iluminou e fui procurar o A. A. (Alcoólicos Anônimos), ou melhor, Alanon. Sabe, eu pensava: como vou abandonar minha mãe ( mãe eu só tenho uma), e como vou separar do meu marido, que é pai das minhas filhas, pois quero que elas tenham uma família quando crescerem, já que eu não tive.
Minha vida era só chorar em datas comemorativas, Natal, Dia das Crianças, etc. Enfim, era muito sofrimento para elas, aí pedi forças a Deus e falei a mim mesma "nem que eu morra, mas um dia esses dois param de beber".
Comecei a freqüentar o Alanon, onde aprendi a conviver com os meus alcoólatras. Participei de reuniões durante oito anos (minha mãe na ativa). Só depois de oito anos, após quase acontecer uma tragédia, ela aceitou o A. A., e sua doença então estacionou no mês de agosto de 1988. Aí ficou só um alcoólatra (sempre trabalhador) na minha vida (menos mal).
Em janeiro de 1989 (cinco meses depois da doença da minha mãe estacionar) meu marido foi baleado (tiros) em uma briga de trânsito (quatro tiros), portanto, dez anos depois de casada, ele foi baleado (20/01/1989) e dia 27/01/1989 era aniversário nosso de casamento e ele estava na UTI.
Começou outro sofrimento, pois um tiro acertou sua cabeça, foram cinco cirurgias neurológicas em 60 dias de UTI. Na quinta cirurgia, foi colocada uma válvula para conter um vazamento no cérebro. Minha mãe, até então com a doença estacionada, passou a cuidar das minhas filhas. Se ainda estivesse bebendo como iria me ajudar, pois tinha uma filha com 9 e a outra com 7 anos.
Graças a Deus o meu marido não ficou com seqüela neurológica, mas ficou com seqüela psiquiátrica, pois tinha muitas crises inclusive de agressão, que só o continha em hospitais psiquiátricos (18 internações), Dr. Jardim, Dr. Cesário Motta e Dr. Bezerra de Menezes (Rio Claro).
Suas últimas internações foram em Rio Claro (Dr. Bezerra de Menezes), sempre que ia buscá-lo em suas altas, olhava para o retrovisor do carro a cidade sumindo eu dizia: "Se Deus quiser esta vai ser a última vez que você volta para esse hospital". Como eu não desisto nunca na nona internação (naquele hospital) Deus ouviu minhas preces, pois um grande amigo (há seis anos mais ou menos, começou a levá-lo em sua auto - elétrica, para tentar amenizar nosso sofrimento (dele, meu e das minhas filhas), pois não tem coisa mais triste, que ver um ser humano nesses hospitais, desde então está na Auto - Elétrica até hoje e nunca mais precisou internação.
Agradecemos demais a esta família, pois não tem dinheiro que pague o bem que nos fizeram, (fiz um agradecimento neste conceituado veículo de comunicação ao Amigo "Toninho Barão Toninho Irmão".
Em 1999 pegou uma bactéria na válvula (pegou do ar) fez mais duas cirurgias neurológicas.
Este ano fiz 30 anos de casada (dia 27/01) e 20 anos do acidente dele, portanto, dez anos ele alcoólatra (na ativa) e 20 anos ele doente.
Com tudo isso criei (com ajuda da minha mãe (sóbria) 2 filhas maravilhosas, hoje são muito bem casadas (igreja e cartório) e com curso superior (as duas) com o apoio total financeiro do meu tio (irmão do meu pai), elas são Assistente Social, pois para elas, todo nosso sofrimento serviu como lição de vida, amor e perseverança.
Hoje depois de 30 anos "desistir jamais", somos uma família feliz, sentamos a mesa aos domingos, pai, mãe, filhas, genros e o neto Marcus Vinícius (uma luz em nossas vidas), filho da Vanessa. Tenho que só agradecer a Deus pela família que tenho que, sou feliz em todas as datas comemorativas e peço também a Deus que nos conserve com saúde para recebermos o (filho ou filha) da Ariana, quando ela o tiver.
Hoje moro com meu marido em apartamento (próprio) e ele sóbrio, (meio que forçado) mas sóbrio, minha mãe mora em apartamento próprio com meu irmão e minhas filhas em suas casas próprias.
Disso tudo agente tira uma lição, nunca abandone um problema "enfrente" pois você vencerá, demora, é cansativo e desgastante, mas quando existe amor, vale a pena perseverar, a recompensa chega (Deus tarda, mais não falta nunca). Não fosse a filosofia e os ensinamentos de vida que aprendi no Alanon, não teria suportado tudo isso. Se possível passaria tudo de novo pela família que tenho hoje.
P.S: Escrevi esta, pois, minhas filhas dizem: "Mamãe, você é nosso exemplo de vida, amor e perseverança".
Como se pode observar é uma história de exemplo de vida de uma mulher lutadora que conseguiu vencer os obstáculos.
Patrícia Sant Ana Amancio _ MTb:24.154
Foto: Fabrice Desmonts _ MTb: 22.946