Com os estudantes do Sesi da Vila Industrial, a política só vale se for comprovada na prática. O conceito, entre os alunos, ganha dois sentidos: tanto o da experiência concreta de exercer a política no dia a dia do colégio, quanto na cobrança de resultados das propostas feitas por quem é eleito para defender os interesses da população.
Mas um terceiro sentido do termo “prática” foi vivido na manhã desta quarta-feira, dia 20. Um grupo de 58 alunos da 8ª série do Sesi 085 esteve na Câmara participando do projeto “Conheça o Legislativo”, de autoria do vereador João Manoel dos Santos (PTB).
A visita da turma de 36 meninos e 22 meninas foi feita a convite do vereador Carlos Alberto Cavalcante (PPS), que destacou a interação com os estudantes da cidade. “Desde o início do meu mandato, em 2009, a preocupação é trazê-los à Câmara, para promover a cidadania e o conhecimento”, afirmou. Por meio de convites de Carlos Alberto, quase mil estudantes já participaram do “Conheça o Legislativo” em 2010 –no ano passado, foram 850. “Sinto-me realizado quando vejo uma escola chegando aqui e depois vindo outras”, disse o vereador. “O projeto é uma oportunidade única que vocês [estudantes] têm de participar da Câmara de Vereadores. Apesar de receberem um aprendizado profundo na escola, há coisas que vocês só ficam conhecendo na prática”, completou, dirigindo-se aos jovens.

POLITIZADOS
A visita mostrou por que os alunos do Sesi da Vila Industrial são tidos como “bastante politizados” pela professora de geografia Elizete Siqueira de Medeiros, que acompanhou o grupo na Câmara. O comportamento ficou à mostra na simulação do debate de um projeto de lei que vetaria a prática de bullying nas escolas. Cinco alunos foram à Tribuna defender a proposta, enquanto outros três posicionaram-se contrários à aprovação da medida.
No papel de “vereador por um dia”, o estudante Renan Gabriel, de 15 anos, enfatizou a importância de combater o bullying. “Não é necessário resolver problemas xingando alguém, já que existe o diálogo. Sou a favor da aprovação da lei para que os locais que frequentamos não sejam ambientes de brigas ou discussões, mas de conversas e acordos”, disse o estudante.
O resultado da visita será depois debatido em sala de aula, segundo a professora de história Tercília Bernadete Sanches Costa, que também acompanhou o passeio. Para ela, levar os alunos à Câmara foi uma oportunidade de aprofundar o conhecimento histórico e ficar por dentro do funcionamento do Legislativo municipal.
Durante a visita, os 58 estudantes do Sesi da Vila Industrial assistiram a apresentações sobre a formação e o desenvolvimento de Piracicaba, as diferenças entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e o modo como funciona a Câmara de Vereadores. Comandaram as palestras o historiador Fábio Bragança, o advogado Bruno de Oliveira, do Departamento Jurídico da Câmara, e o diretor Sandro Silveira, do Departamento Legislativo.

VISÃO DOS ESTUDANTES
Recentemente, o Sesi realizou eleição para definir um grupo de alunos que seria responsável por levar as reivindicações dos colegas à direção da escola. Cada turma da 8ª série compôs um partido fictício; a União Estudantil, da 8ª A, venceu a eleição.
Nesse tipo de organização política dos alunos, a chapa vencedora torna-se representante de todos os estudantes, tal como os vereadores são da população. Ao grupo eleito cabe apresentar propostas de melhorias na escola, mas é a direção quem decide pela execução delas –como faz o prefeito de uma cidade. Entre as ideias que constam no “programa de governo” da chapa vencedora, estão criar uma rádio e um jornal interno, realizar a manutenção do espelho d’água do colégio e promover passeios com maior regularidade.
Da experiência na escola, Lucas Moretti, de 15 anos, aprendeu que o mais importante é o político “cumprir o que falou”. Seu colega Renan Gabriel reforça a ideia: “O político tem que apresentar propostas que sejam viáveis de fazer”.
Victor Hugo Campregher cita um exemplo que os próprios alunos viveram na eleição interna no Sesi. Segundo o estudante de 16 anos, para conquistar os votos dos eleitores, alguns candidatos extrapolaram nas promessas, como a de permitir que os alunos passassem a usar jeans no lugar das calças próprias do Sesi –o que feriria o regulamento da instituição. “Prometeram até levar os alunos de todas as séries ao parque de diversões”, conta Victor Hugo, a respeito de um privilégio que é restrito aos estudantes da 8ª série, prestes a se formarem. Como se vê, a fama de politizada cabe bem à turma do Sesi.

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTOS: Davi Negri / MTB 20.499