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24 DE MARÇO DE 2023

Premiação buscava voluntários para lutar na Guerra do Paraguai


Documento preservado na Câmara mostra que, no auge do conflito, Partido Conservador pediu apoio para a proposta



EM PIRACICABA (SP)  

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Reprodução de imagem de vídeo produzido pelo Senado Federal



Maior conflito armado da América Latina, a Guerra do Paraguai teve repercussão não apenas no front de batalha, mas até em regiões longínquas do então período imperial brasileira, como na então Vila Constituição. Sob a guarda do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, foi localizado ofício endereçado à edilidade pelo Partido Conservador Piracicabano, onde se demonstra como a preocupação com as batalhas impactou a classe governante da época.

Nele se lê:

“Ilustríssimos Senhores nas atuais circunstancias do País, e em vista do que vai-se dando nesta Província na aquisição de pessoal para aumento do nosso exército nas margens do Paraguai e do Paraná, os abaixo assignados membros do Partido Conservador nesta Cidade, não só com o fim de auxiliar o Governo naquela tarefa, como de aliviar a população dos vexames que sofre, oferecem o premio de 400#000 Réis a cada um dos primeiros vinte e cinco voluntários, que se apresentarem a qualquer das autoridades deste Município e efetivamente partirem para o exercito.” (em transcrição livre)

No documento, assinado por Fernando Paz de Barros, Estevão Ribeiro de Rezende (Barão de Rezende), Francisco José da Conceição, Antônio da Costa Pinto Silva e José Bento de Matos, o diretório solicita também auxílio da Câmara, tanto com outras premiações, quanto para dar publicidade a tal oferta.

A data do ofício também é bem significativa, dia 23 de dezembro de 1866, apenas meses após uma das maiores derrotas sofrida pela chamada Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), a Batalha de Curupaiti.

“A proposta do Partido Conservador Piracicabano de premiar as pessoas que se alistarem ao exército ilustra as proporções do conflito e a demanda de força humana. Já haviam se passado dois anos do início da guerra, não havia mais a intensa motivação de voluntários e o exército ia perdendo sua força”, avalia Giovanna Calabria, chefe do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, responsável pela pesquisa.

A resposta da Câmara, enviada 3 de janeiro de 1867, espelha outra realidade do período: o uso de escravizados “libertos” na Guerra do Paraguai.

No documento se lê:

“Esta Câmara reconhece como Vossos Senhores a conveniência de unirem-se os esforços de todos para aumentar o pessoal do exército, mas sente dizer que tão bem reconhece atualmente na população uma repugnância tal de marchar para a guerra que não julga a soma dos três prêmios suficientes para fazerem aparecerem voluntários, e por isso por sua vez deve lembrar a Vossos Senhores a conveniência de modificar-se um pouco a aplicação dos prêmios, que em vez de serem aplicados ao engajamento de voluntários o sejam a compra de escravos que libertados assentem praça e marchem para o exército e assim conseguir-se-á não só o fim desejado, como o humanitário e social de restituir-se a si sete ou oito indivíduos que para tanto chegam as quantias oferecidas”. (em transcrição livre)

Em 6 de novembro de 1866, pouco tempo antes desta troca de ofícios entre a Câmara e o Diretório, foi promulgado pelo Império do Brasil, de maneira emergencial, o Decreto 3.725, que concedia liberdade gratuita aos escravos da Nação designados para o serviço do exército.

“Não é possível discorrer aqui os motivos, complexos, diversos e discutíveis, que levaram a guerra entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, um conflito que durou de 1864 a 1870 e acumulou consequências a todos os envolvidos, como o elevado número de mortos e a devastação da nação paraguaia, mas os documentos na Câmara podem demonstrar a realidade de uma conjuntura guerra em um país imerso no regime escravista”, conclui Giovanna.

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo. Ela foi criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, e conta com publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Câmara Municipal de Piracicaba.



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992




Achados do Arquivo Documentação

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