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07 DE MAIO DE 2020

Pesquisador relaciona polarização política e uso das mídias


Victor Corte-Real, doutor em Ciências da Comunicação pela USP, foi entrevistado na live do Parlamento Aberto desta quarta-feira (6)



EM PIRACICABA (SP)  

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A história do Brasil, o que envolve os embates políticos em diversos períodos, é marcada por polarizações. O designer e publicitário Victor Corte-Real, doutor em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo), relaciona essa característica ao uso das mídias ao longo do debate público no País, sobretudo em situações de rupturas de regime.

“Se a gente voltar no tempo, a Proclamação da República, em 1889, foi o primeiro golpe de estado no País, um golpe militar para tirar a Monarquia, que foi ordenado a partir de intelectuais com apoio militar”, observou, durante entrevista na live do Instagram do programa Parlamento Aberto, na tarde desta quarta-feira (6).

Corte-Real estudou, em seu mestrado, o governo do quarto presidente (sendo o segundo civil) da chamada Velha República, Campos Salles, e evidencia na autobiografia do político, que também foi governador da então Província de São Paulo, a chamada “verba secreta” encaminhada a representantes da imprensa da época, com o objetivo de criar uma opinião pública favorável ao regime que ainda estava se estabelecendo.

“Essa ‘verba secreta’, que, é bom ficar claro, depois viria a ser divulgada pelo próprio Campos Salles, era enviada aos jornalistas que a aceitavam para falar bem do governo. Essa foi a alternativa que ele achou para conseguir influenciar a sociedade em torno das pautas de seu governo.

Docente extensionista da PUC Campinas, Corte-Real analisa que a Proclamação da República, embora tenha tido o apoio militar, não teria sido implementada não fosse o poder ideológico, com a criação do jornal A Província de São Paulo – hoje, o jornal O Estado de São Paulo.

O período da Velha República, que durou até os anos 1930, foi marcado pela alternância de poder entre Minas Gerais, pecuarista, e São Paulo, agricultor, que ficou conhecido como “República Café com Leite”, e que viria a ser derrubada com a insatisfação de outras regiões do País, especialmente o Sul, de onde surgiu o movimento liderado por Getúlio Vargas, tendo utilizado o rádio como propagador das ideias.

“Aqui vale o registro do jornalismo em levar às pessoas, de maneira geral, a algo que é limitado, então, a força da mídia está justamente em poder trazer à população o conhecimento que, às vezes, é de uma parcela pequena de pessoas”, avalia o pesquisador.

Na década de 1960, Corte-Real relata que o País passa a ter uma forte influência da mídia no estabelecimento de um novo poder hegemônico, alterando o status quo da época. “Neste período, existe toda uma produção de informação ligando João Goulart a uma suposta relação com a China, com movimentos socialistas e comunistas que estavam fortes na ocasião, por conta de uma ameaça do País se tornar comunista”, analisa.

Aprofundando na análise da polarização políticas e as mídias, em diferentes épocas, o pesquisador também lembrou do papel do cinema no período da ascensão do Nazismo na Alemanha, durante os anos 1930. “O próprio EUA trabalha muito com o cinema”, lembra, “e hoje, com as mudanças tecnológicas, a internet faz muita diferença”, acrescenta.

Na sua tese de Doutorado, Corte-Real estudou as eleições de 2014 e as mídias, onde conseguiu captar, a partir de análise de dados de fluxo em redes sociais, como o Facebook, a ascensão do então candidato Aécio Neves (PSDB), que vinha em terceiro lugar em uma disputa dominada pela então presidente Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), que na ocasião substituira Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no mês de agosto, menos de dois meses antes da realização do primeiro turno.

“Acontece um fenômeno. Nos últimos dias do primeiro turno, Aécio dá uma virada a ponto de quase ganhar da Dilma naquele momento. E tem um vídeo que é muito simbólico, em que dois lutadores de MMA pedem voto no Aécio, claro que não foi apenas por causa deste vídeo, mas é um dos elementos que permite que o candidato vá ao segundo turno”, explica.

A análise dos fluxos de informação nas redes durante as eleições de 2014 foi desenvolvida a partir de softwares que se utilizam palavras-chaves e conseguem identificar qual o volume de cada mensagem. “Eu foquei em palavras que tinham ‘Dilma’, ‘Aecio’, ‘Marina’, para conseguir entender estes fluxos, e foi muito interessante ver a ascensão de Aécio no final do primeiro turno”, explica Corte-Real.

De acordo com o pesquisador, as eleições de 2014 são emblemáticas no sentido de analisar que, embora a presidente tenha conquistado a reeleição, já havia outro poder hegemônico na sociedade, fruto do que havia ocorrido nas chamadas “jornadas de Junho”, em 2013, e que, mais tarde, desembocaria inclusive no Impeachment de 2016.

“O que, a meu ver, é muito importante em todo esse processo é a gente conhecer a História do Brasil e nunca dissociá-la da política, porque a História não é linear, ela acontece em ciclos, com as diferenças de cada época, sobretudo a partir das tecnologias de mídia, porque a nossa História é carregada de polarização, seja elas entre republicanos e monarquistas, reacionários e progressistas, ou qualquer outra”, conclui.



Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Parlamento Aberto

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