"A nossa sociedade está muito mais violenta e a nossa juventude aprendeu a responder com violências a essas dificuldades na invenção de si". A frase de impacto, dita pelo psicólogo Sérgio de Oliveira Santos, na noite desta quinta-feira (1º), durante a suspensão do Expediente da 38ª reunião ordinária da Câmara Municipal de Piracicaba, solicitada por meio do requerimento 586/2022, de autoria da vereadora Sílvia Morales, e corrobora a importância de ações mais efetivas voltadas à ampliação da atenção à saúde mental, em especial entre jovens de 14 a 29 anos de idade.

A fala do psicólogo abriu as ações do Setembro Amarelo, campanha voltada à prevenção e combate ao suicídio, e que conta com o apoio do Legislativo piracicabano.

"Eu posso lhes dizer, de um dado extraoficial, mas que em breve será divulgado, de uma das localidades de atenção psicossocial do município: de 15 tentativas de suicídios no mês de agosto, dos 15 atendimentos que fizeram, 13 eram de jovens entre 14 e 29 anos", disse o psicólogo que se dedica ao estudo da temática do suicídio e de sua prevenção.

De acordo com Santos, apesar de os dados iniciais mais recentes não apontarem um aumento expressivo nos casos mundiais de suicídio, mesmo durante a pandemia, houve um crescimento dos casos de transtornos depressivos e de ansiedade:  

"Se as taxas de suicídio não aumentam na pandemia, nós temos dados que comprovam que o transtorno de ansiedade subiu mais de 27%, e a depressão, o transtorno depressivo, subiu cerca de 26,8%, dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). Ou seja, esse é um problema que cai em nossas mãos", destacou. 

Ainda de acordo com o especialista, a saúde mental, diferentemente dos outros ramos da saúde pública, afeta a todos, mesmo que não dependam diretamente dos serviços médicos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS): "ela atinge a todos nós. Até aquelas pessoas que falam: a saúde pública não é comigo pois eu tenho plano de saúde...'. A saúde mental, não", e citou como exemplo o ataque a faca em um ônibus público da cidade, em junho, e que resultou em três mortes.

Mulheres acima dos 60 anos -  Se os números iniciais não mostram aumentos nos casos de suicídio, essa não é a realidade para todas as faixas etárias: "aqui no Brasil houve um aumento nas mulheres acima de 60 anos. Não tivemos aumento em diversas faixas, mas nessa faixa, mulheres acima dos 60 anos, nós tivemos.

De acordo com Sérgio de Oliveira Santos, uma das estratégias para se prevenir o suicídio é a oferta de atividades de diferentes tipos, ainda que não entendidas num primeiro momento como sendo diretamente ligadas à saúde mental. E isso vale para todas as faixas etárias: "vocês podem, na comunidade de vocês, criar instrumentos para que a saúde mental possa evoluir. Pode ser criar na sua igreja, comunidade, uma escola, uma oficina de fazer pão, por exemplo. Ajudar que a senhora que está fechada em casa vá à tarde e converse com as amigas. Um crochê, um tricô, ajuda ela a falar de si", pontou.

CAPS III - Ainda de acordo com o pesquisador, a construção de um CAPS III (Centro de Atenção Psicossocial) na cidade, aparelho que atende especificamente casos de transtornos mentais, é também indispensável:

"Aqui em Piracicaba precisamos com urgência de um CAPS III. Como nós temos pouco mais de 400 mil pessoas aqui no município, nós temos, legalmente, a possibilidade de termos dois CAPs III. Qual a diferença do CAPS III? Ele tem leitos. Se uma pessoa, hoje, tem a necessidade de um aparelho de saúde mental numa sexta-feira à noite, tem o que popularmente as pessoas chamam de “surto”, o que fazer? Temos que esperar... Ela vai para um serviço não especializado. Ela é acolhida, no entanto, só na segunda-feira ela terá acesso a um aparelho de saúde mental", destacou.

Durante a palestra, diversos vereadores destacaram a importância do assunto e compartilharam experiências sobre o tema. 

A fala completa do psicólogo e dos parlamentares podem ser vista, na íntegra, na parte superior desta matéria.