
21 DE MAIO DE 2013
A Câmara de Vereadores de Piracicaba encaminhará moção de apelo ao Governo de São Paulo para a inclusão de Piracicaba no "Programa Recomeço". De autoria do vereador (...)
A Câmara de Vereadores de Piracicaba encaminhará moção de apelo ao Governo de São Paulo para a inclusão de Piracicaba no "Programa Recomeço". De autoria do vereador Carlos Alberto Cavalcante (PPS), a moção 114/2013 foi aprovada na reunião ordinária desta segunda-feira (20).
O "Programa Recomeço" é uma iniciativa do Governo de São Paulo para resgatar dependentes químicos, principalmente de crack, por meio de acompanhamento multidisciplinar. A iniciativa conta com o "Cartão Recomeço", benefício que é usado para a recuperação de dependentes químicos que procuram ajuda voluntariamente em entidades especializadas.
O cartão, com dados do dependente, é encaminhado para a entidade definida para o acolhimento e serve tanto para monitorar as atividades prestadas no serviço quanto para controlar a frequência do usuário. É importante salientar que nem o dependente nem sua família recebem qualquer valor em dinheiro, pois o pagamento é realizado diretamente às entidades especializadas.
Carlinhos aponta que o cartão veio como uma forma de agilizar a ampliação do "Programa Recomeço" para o interior, uma vez que "Piracicaba, infelizmente, incorpora a triste estatística de ser um município com índice altíssimo de usuários de drogas".
O vereador lembra que o crack chegou ao Brasil no início dos anos 1990 e, em menos de 25 anos, alcançou caráter epidêmico. Derivado da cocaína, o produto é resultado da mistura entre cloridrato de cocaína (cocaína em pó), bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada.
"Esse entorpecente vem prejudicando muitos adolescentes e jovens viciados, em todo o Brasil. O sofrimento das famílias dos dependentes é lastimável, pois manter o vício custa muito caro, tanto na parte financeira como em relação à saúde física e psíquica. Assim, a busca por uma "libertação" é o que motiva muitos usuários e suas famílias a continuarem lutando pelo tratamento para se livrar do vício", comenta Carlinhos.
O vereador observa que um dos grandes problemas do vício são suas consequências para a saúde, como problemas cardiovasculares, aumento da pressão arterial, infartos, problemas respiratórios e lesões nos pulmões, causando pneumonia e tuberculose.
"A má alimentação e higiene estão cada vez mais presentes nos dependentes que passam a viver em função do crack. Os problemas psíquicos (oscilações de humor, baixo limite para frustração, dificuldades em ter relacionamentos afetivos, casos de psicose, paranoia, delírio e alucinações) também estão presentes na vida do adicto", acrescenta o parlamentar.
O consumo do crack, ressalta Carlinhos, vem aumentando em relação à cocaína por ser mais barato, embora seu efeito dure pouco. Ainda assim, é seis vezes mais potente que a cocaína ––e a necessidade de repetir a dose faz com que o custo para o usuário seja muito elevado. Por conta disso, surgem os problemas dentro de casa: uma vez que a família não tem condições de bancar o uso, o dependente começa a roubar para pagar as suas "pedras", cometendo atos ilegais para sustentar o vício ––o que pode levá-lo à morte.
"Muitas famílias já não sabem como agir diante desse grave problema, pois as internações, na maioria das vezes, não surtem efeito. O sujeito deixa de usar o crack por alguns dias, mas logo reincide. Aumenta-se o número de internações para a cura do vício; entretanto, todas as vezes que o indivíduo é exposto a um local em que tenha acesso à droga, ele tem uma nova recaída", afirma Carlinhos.
"Muitos usuários já não enxergam um sentido para continuar vivendo. Deixam seus lares, vão para as ruas, usam crack o dia inteiro e dormem debaixo de viadutos, nas calçados, nos bancos das praças. Enfim, ficam passíveis a agressões, humilhações e sérios riscos de morte. No âmago, sentem um vazio sem explicação e passam a buscar incessantemente momentos de prazer ––o que leva muitos a saírem de suas casas, pois, diante da "pressão" familiar para deixarem de usar o crack, não veem mais sentido em continuar vivendo dentro de seu lar, mesmo sabendo que, em caso de emergência, sempre recorrerão à família", complementa o vereador.
Carlinhos pondera que "o uso do crack não é só um problema familiar, mas social. "E, mesmo que a sociedade e o Estado tentem se omitir frente a essa cruel realidade, é papel de todos promover ambientes favoráveis a uma boa formação moral e ética. Quando todos pecam na construção desses elementos fundamentais para a sociedade, devem-se criar mecanismos para a reparação deles (como a criação de espaços que promovam a cultura e a formação profissional e o desenvolvimento de iniciativas individuais e coletivas em prol da educação escolar, ambiental e cidadã), mostrando a esses dependentes o quanto são importantes para a sociedade e a necessidade de eles reconquistarem seu espaço dentro dela. E é nesse momento que percebemos que os governos e a sociedade não estão preparados para atuarem, com eficiência, para solucionar esse grave problema", conclui o parlamentar.
TEXTO: Mariana Bittar / estagiária de Jornalismo - R.V.
FOTO: Fabrice Desmonts / MTB 22.946