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26 DE AGOSTO DE 2020

Live discute importância da educação sexual no combate à lgbtfobia


Bernardo Valentim, membro do coletivo Transitando e do Conselho Municipal de Políticas LGTBQIA+, foi o entrevistado da live do Parlamento Aberto.



EM PIRACICABA (SP)  

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Bernardo Valentim é membro do coletivo Transitando e do Conselho Municipal de Políticas LGTBQIA+.







Conviver com o diferente nem sempre é tarefa simples. Quando se vive em uma sociedade presa em estereótipos e modelos pré-estabelecidos de conduta, o desafio tende a ser ainda maior. Para Bernardo Valentim, membro do coletivo Transitando e do Conselho Municipal de Políticas LGTBQIA+, a educação sexual, somada à empatia, é uma das ferramentas capaz de minimizar as diferenças entre gêneros e disseminar conhecimento sobre diversidade.

Em entrevista ao programa Parlamento Aberto, nesta terça-feira (26), Valentim falou das conquistas e principais lutas do movimento político e social que busca o reconhecimento e a representatividade de pessoas LGBTQIA+ na sociedade, bem como o respeito à diversidade, questionando os padrões historicamente estabelecidos como forma de ser e amar. “Precisamos naturalizar a pluralidade de corpos, orientações e identidades”, afirmou.

De acordo com ele, o preconceito institucionalizado e a falta de conhecimento dificultam a ascensão dessa população e, por consequência, acarretam na marginalização desses indivíduos. “Me assumi homem trans somente aos 21 anos. Nascemos e somos inseridos no binarismo de ‘8 ou 80’, ou você é mulher ou é homem. As concepções de gênero construídas socialmente é o que torna a descoberta tão tardia”.

Ao chegar à pré-adolescência, fase em que o corpo começa a passar por mudanças, Valentim relata ter tido dificuldades de aceitação. Nas aulas de ciência, ele entendia que, biologicamente, aquele era o seu corpo, ele só não conseguia sentir identificação com ele. “É um problema recorrente entre a população trans. A gente sempre sente que o problema está em nós”, contou.

A escola é, por excelência, um dos principais espaços de formação para a cidadania e de socialização de crianças, adolescentes e jovens. Por isso, ressaltou Valentim, as intuições devem tratar das questões ligadas à sexualidade e à orientação sexual. “Precisamos debater esse temas dentro dos diversos campos de formação, a violência não é a única forma de agressão a que as pessoas LGBT estão sujeitas”, argumentou.

Os transexuais, por exemplo, enfrentam obstáculos para se inserirem na sociedade, visto que, conforme dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), cerca de 90% das travestis e transexuais usam a prostituição como fonte de renda. “A maioria está em empregos não formais. Isso por conta de uma questão cultural e institucional que nos exclui. O mercado de trabalho ainda é um ambiente muito hostil para pessoas trans”.  

Além disso, o País lidera ranking mundial de assassinato de transexuais. Segundo dados da ONG Transgender Europe (TGEU), o Brasil matou ao menos 868 travestis e transexuais nos últimos oito anos. A média de vida dessa população no Brasil é de 35 anos – menos da metade da média nacional (75 anos).

“Para pessoas cisgênero - cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento - chegar aos 75 anos é preciso toda uma estrutura que lhes favoreça. Isso inclui o acesso à educação, ao emprego formal, ao lazer, família e amigos. O quanto dessa qualidade de vida chega às pessoas trans? Como elas vão se desenvolver sem essas condições?”, questionou o entrevistado.

Saber identificar e reconhecer privilégios é o melhor caminho para a reflexão. “Se você consegue ir à padaria, comprar pão e voltar em paz para casa, sem temer perder a vida no caminho, você é privilegiado. As pessoas trans saem de casa sem essa certeza. Não falo do medo de ser assaltado, disso todos estão sujeitos, mas do medo de morrer por ser quem é”. 

Coletivo Transitando - O respeito às diferenças virá somente com a educação e a conscientização das pessoas, mas não só. Uma legislação mais adequada também tem uma função importante no combate à lgbtfobia. É o que busca o coletivo Transitando, fundado em 2018, do qual Bernardo faz parte.

De acordo com ele, o acesso à saúde ainda é desigual entre a população trans e as equipes ainda não são capacitadas o suficiente para atendê-las. “O objetivo do coletivo é reunir essa população socialmente vulnerável para pedir politicas publicas ou ao menos capacitá-las com informação”.

LGBTQI+ - Nascido sob a sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) o movimento mudou muito com o passar do tempo. Com o intuito de contemplar novas identidades de gênero, passou a incluir pessoas não heterosexuais e não cisgênero. “A sigla lgbtqia+ representa a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais e assexuais, além daqueles sem identidade expressa de gênero”, explicou Valentim.

De acordo com ele, lésbicas são mulheres que sentem atração afetivo/sexual por outras mulheres, gays são homens que se sentem atraídos por homens e bissexuais são pessoas que sentem atração tanto pelo gênero masculino quanto pelo feminino. “Transexuais, transgêneros e travestis, representados na sigla pela letra T, são pessoas que se identificam com outro gênero que não aquele atribuído no nascimento”.

Ainda segundo ele, queer são pessoas que transitam entre os gêneros feminino e masculino ou em outros gêneros não binários, intersexual as pessoas cujo desenvolvimento sexual corporal – expressado em hormônios, genitais, cromossomos e outras características biológicas – não se encaixam na norma binária.

“O assexual, por sua vez, é alguém que não sente atração afetiva e/ou sexual por outras pessoas, independentemente de gênero. O + da sigla abriga todas as diversas possibilidades de orientação sexual e identidade de gênero que existam”, completou.

Momentos históricos -  A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBTQIA+ contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos. Esses motins são amplamente considerados como o evento mais importante que levou ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos direitos LGBT no país.

Tarântula – Em 1980, Jânio Quadros, prefeito de São Paulo na época, instituiu a "Operação Tarântula" para prender e assassinar travestis que se prostituíam. Essa foi uma política de Estado para exterminar e higienizar as ruas da cidade, baseado na lei que proibia a "vadiagem". Na ocasião, a política de tortura e perseguição foi legitimada pela sociedade civil.

ACESSE O CONTEÚDO
As lives do programa Parlamento Aberto são realizadas no perfil do Instagram, que pode ser acessado em @parlamento_aberto.

As entrevistas também podem ser conferidas no canal do YouTube do Departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores de Piracicaba e, ainda, no podcast produzido pela Rádio Câmara Web.

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Texto:  Raquel Soares


Cidadania Parlamento Aberto

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