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17 DE MARÇO DE 2021

Historiadora foca passado escravista na realidade das trabalhadoras


Evento da Escola do Legislativo de Piracicaba traz a contribuição da professora Glaucia Fraccaro, da Universidade Federal de Santa Catarina.



EM PIRACICABA (SP)  

Historiadora foca passado escravista na realidade das trabalhadoras

Historiadora foca passado escravista na realidade das trabalhadoras

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Historiadora foca passado escravista na realidade das trabalhadoras



No mês em que se reverencia a luta das mulheres, com destaque ao dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, a Escola do Legislativo de Piracicaba, promove a realização do minicurso "História do Feminismo", comandado por Glaucia Fraccaro, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com foco na introdução à história do feminismo no Brasil e no mundo, por meio de uma abordagem dos séculos XIX e XX, que envolve a "história vista de baixo", com foco na realidade das trabalhadoras e o peso do passado escravista no Brasil, além de despertar a percepção das permanências e das rupturas e o pensamento crítico sobre o passado e o presente. O curso, iniciado nesta quarta-feira (17), das 9h às 11 h, via on-line, finaliza amanhã (18), no mesmo horário.

Glaucia Fraccaro iniciou suas explanações dando uma contrapartida nas falas da diretora da Escola do Legislativo, Sílvia Morales (PV), do Mandato Coletivo A Cidade é Sua e, também da participação da vereadora Rai de Almeida (PT), em apontamentos de casos que denotam a omissão do Estado na defesa das mulheres, especialmente no caso da vereadora assassinada no Rio de Janeiro, Mariele Franco. E, do avanço do conservadorismo. Além de agradecer o empenho de pessoas que respaldam a realização do evento.

Glaucia também lembrou do impechment da ex-presidente Dilma Rousseff, para demonstrar que todos estes processos nos deparam com uma realidade muito cruel, que não ampara as mulheres e não cuida das pessoas. Também falou do legislativo propiciar este encontro, numa visão que considera as mulheres como parte do mundo.

Glaucia Fraccaro contou um pouco de sua atuação, em 2016, na assessoria das trabalhadoras domésticas, de Campinas e na organização da marcha das mulheres, e referendou Andreia Barbieri, companheira que atua no eixo Campinas-Piracicaba, que referendou a trajetória de dar voz ao maior número de mulheres.

Para Glaucia, na crise da covid-19, as mulheres estão saindo mais ainda do mercado de trabalho, onde a cada crise são as maiores atingidas. E, adiantou que amanhã (18), será abordado mais as questões da contemporaneidade.

A professora reportou sobre trecho de livro, da escritora Anne McClintock, em temática sobre raça, gênero e sexualidade, no embate colonial, apontando que as mulheres representam dois terços (2/3) do trabalho de cuidados do mundo e ganham 10% da renda, e são donas de menos de 2% da propriedade, o que reflete na cadeia global de cuidados, onde cada vez mais hà uma migração intensa, de países muito pobres para países muito ricos, com o objetivo de garantir a formação emocional e a reprodução da unidade familiar, o que gera uma massa intensa de trabalho, que representou em 2009, 53 milhões de mulheres, em cerca de 10% da força de trabalho mundial, o que implica numa imensa remessa de fluxo monetário, sendo o segundo maior fluxo do mundo, só perdendo para as companhias de petróleo, somando 500 bilhões de dólares por ano, segundo fontes do Banco Mundial, mostrando o potencial de países pobres, com foco no trabalho doméstico, o que envolve uma maioria de mulheres.

Glaucia também discorreu sobre a nossa hierarquia social, como elemento organizador de noções de raça e gênero, em elementos que formaram a sociedade, no século IX, embora a escravidão do povo negro surgiu no conceito de que precisava humanizar aquelas almas, de cristanizá-las, o que diziam justificar a escravidão.

No caso do racismo e da desigualdade de gênero, esta confirmação é bem recente, onde diante da Primeira Guerra Mundial, a Europa resolveu conquistar o mundo e, com a partilha da África, em 1884, o que se aproxima em muito o ano de 1888, da libertação dos escravos no Brasil.

Segundo Glaucia, na Primeira Guerra temos uma unica disputa, que era por novos solos, onde em 1897, um quarto da superfície da terra foi redistribuida como colonia entre meia dúzia de Estados europeus. E, que em 1914 não havia restado qualquer Estado independente no Pacífico, além de avaliar que a dinâmica de gênro acontece em terras virgens, mesmo cheia de índios, com subordinação das mulheres como categoria da natureza.

A professora também destaca que na literatura científica da época, segundo Georges Curvier (paleontólogo), a forma dos africanos se aproxima da do animal, cuja inteligência nunca era vista como suficente para chegar a estabelecer um governo regular, onde a África neste período se torna um lugar no tempo e na geografia, como um local rude e o primitivo, representando o sul global, sobressaindo a visão europeia, que colocava as mulheres na condição de infantilização, pobres e colonizadas, o que marcou o século IX.

Glauccia também ressalta que a mulher foi inserida na história como esposa, amante ou esposa de uma famoso, a exemplo de Domilitila, amante de Dom Pedro, Anita Garibaldi, esposa  de Giusepi Garibaldi - que foi exemplo de luta nas américas. Também citou Joana D'Arc, queimada em praça pública, pelo próprio povo francês, que a entregou aos ingleses. E, citou Mary Curry, detentora de dois prêmios nobel, na área da ciência, que entra na categroia de mulher fantástica, mas não com o mesmo reconhecimento de Linus Pauli, que até hoje é reverenciado por também ganhar este duplo reconhecimento. 

Glaucia também focou quatro propostas analíticas a serem desenvolvidas no minicurso, que passam pela permanência da ideia de que é possível diferenciar quem pensa a sociedade, onde se deve romper a lógica da luta pelo feminismo, que pode estar em qualquer espaço que pense nas mulheres; das notáveis versus as comuns; do marco histórico privilegiado como o momento em que as mulheres passam a se organizar politicamente como mulheres e a proposta de contar a história das mulheres e delimitar definições de feminismo a partir das lutas, das disputas e da própria experiência histórica, onde a conscientização da ação se localiza na própria formação do movimento, onde as ideias das mulheres podem aparecer.

Glaucia também reservou um espaço para uma retrospectiva histórica, num segundo momento da palestra, focando desde a emancipação das mulheres, na tentativa de responder quando foi o seu despertar. Também abordou sobre o feminismo nas questões dos direitos.

O recorte da reflexão é sobre o homem e a mulher, iniciando pelos estudos de Mart Willstonecraft (1792), autora de Reivindicação dos Direitos das Mulheres, que foi um dos primeiros livros da idade moderna, onde as mulheres foram esquecidas de serem colocadas no centro do poder. Onde a base de toda a crítica é a dominação.

Na visão da misoginia - palavra de origem grega, que significa aversão às mulheres - Gláucia discorreu sobre o processo histórico que ficou conhecido como "caça às bruxas", pela falta da capilaridade da igreja, onde criaram-se outras formas de religiosidade, o que contrariava a visão de coisas fora do campo santo.

Gláucia finalizou suas expanações com enfoque no pensamento de Simone de Beauvoir (1949), no século XX, com reflexo no movimento social nos dias atuais, na defesa da ideia da feminilidade, que deve prevalecer perante aos sistemas que aprisionam as mulheres. E, no final foi aberto espaço para diferentes interações, tendo o feminismo como um processo político. 

TRAJETÓRIA - Glaucia Fraccaro, graduada em História, Mestre em História e Doutora em História Social é professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e foi coordenadora de Autonomia Econômica das Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Em 2016, defendeu a tese "Os Direitos das Mulheres - organização social e legislação trabalhista no entreguerras brasileiro" e, em 2017, recebeu o prêmio "Mundos do Trabalho em Perspectiva Multidisciplinar, da ABET (Associação Brasileira de Estudos do Trabalho).

SERVIÇO - o curso online é transmitido ao vivo pelo aplicativo Zoom (os inscritos receberão o link de acesso para a sala de reunião por email e/ou WhatsApp) e também pelo Canal da Escola no YouTube, através do link: https://www.youtube.com/channel/UCof7kyatk6Sz4xk7lhYc



Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939


Escola do Legislativo Rai de Almeida Silvia Maria Morales

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