
23 DE NOVEMBRO DE 2010
A tradutora Fabiana Dupont e a jornalista Fernanda Medeiros foram homenageadas pela Câmara nesta segunda-feira pela criação do site O Tao do Consumo, que alerta sob (...)
Primeiro, a iniciativa de duas amigas de criar um site para informar sobre os possíveis malefícios causados pela substância bisfenol-A. Depois, a adesão de mais de 50 blogs na divulgação de um selo que alerta para os riscos da exposição de crianças a esse componente químico utilizado na produção de plásticos e resinas. Agora, o reconhecimento da Câmara ao trabalho de conscientização que teve origem em Piracicaba e ganhou o planeta por meio da rede mundial de computadores.
E tudo isso tendo duas corajosas mulheres à frente: a tradutora Fabiana Dupont e a jornalista Fernanda Medeiros, que estiveram no plenário da Câmara na noite desta segunda-feira (22) para receber a moção de aplausos 132/2010, de autoria do vereador Carlos Gomes da Silva, o Capitão Gomes (PP). Ambas são criadoras do site O Tao do Consumo, que traz notícias e estudos sobre o bisfenol-A, conhecido também pela sigla BPA.
A substância ––presente, por exemplo, em algumas embalagens e em parte das mamadeiras–– pode se desprender do plástico e contaminar alimentos ou produtos embalados com policarbonato ou resina epóxi (um tipo de plástico termofixo que fica rígido quando misturado a um agente "endurecedor"). Estudos têm mostrado que o bisfenol-A agiria como alguns dos hormônios presentes no corpo humano e estaria ligado a uma maior incidência de obesidade, problemas cardíacos, diabetes, câncer na próstata e de mama, entre outros supostos efeitos danosos à saúde.
No Brasil, fabricantes de utensílios infantis têm substituído o componente por outra matéria-prima para a produção de mamadeiras e chupetas. No Senado, atualmente tramita o projeto de lei nº 159/2010, do senador Gim Argello (PTB-DF), impedindo a venda de mamadeiras, bicos e chupetas que contenham bisfenol-A. O uso da substância já é proibido no Canadá, na Costa Rica e na Dinamarca ––nos Estados Unidos, o veto vale pelo menos
"CAMINHO CERTO"
Durante a entrega da moção, Fernanda Medeiros disse que, por meio do site, "Piracicaba está dando um exemplo para o Brasil inteiro". A jornalista, que tem dois filhos, afirmou que a preocupação com o tema justifica-se pela associação da substância à incidência de várias doenças. Para ela, o reconhecimento prestado pela Câmara mostra que o projeto desenvolvido pelas amigas está no "caminho certo". "Quando vejo que as pessoas começam a tomar consciência, é sinal de que nosso trabalho está dando resultados", disse Fernanda.
Fabiana Dupont aproveitou para alertar sobre os riscos a longo prazo do bisfenol-A, que no corpo humano agiria como hormônio (saiba mais sobre o tema ao final deste texto). Segundo a tradutora, a indústria química e algumas agências regulamentadoras defendem que certa quantidade da substância não faria mal à saúde. "O problema é que com hormônio não é a mesma coisa, pois mesmo uma dose muito pequena já afeta uma criança", contestou. De acordo com Fabiana, os efeitos do uso do bisfenol-A no organismo de uma pessoa podem demorar até 40 anos para aparecerem. Ela, no entanto, destacou que o "problema tem saída". No caso das mamadeiras, as opções seriam utilizar recipientes de vidro ou aqueles que trazem, na identificação, o alerta para a presença de substâncias nocivas (são as etiquetas que têm os números 3, 6 ou 7 impressos).
A tradutora falou também sobre as três metas que movem o trabalho de conscientização desenvolvido pelas criadoras do site O Tao do Consumo: que todos os consumidores fossem informados quando o bisfenol-A estivesse presente em embalagens, que o uso do componente fosse vetado em mamadeiras e produtos infantis e que a substância não fosse mais empregada nas embalagens de itens alimentícios.
APOIO DA CÂMARA
O vereador Capitão Gomes, que propôs a moção de aplausos, pediu que a população esteja atenta aos produtos que contenham o componente químico e prometeu o apoio da Câmara na divulgação da iniciativa de Fabiana e Fernanda. Os supostos efeitos nocivos causados pelo bisfenol-A serão tema de um encontro a ser realizado em São Paulo nesta semana. O parlamentar sugeriu que a próxima edição do fórum seja organizada em Piracicaba, no ano que vem. "É o reconhecimento da Câmara à luta de vocês. Estamos juntos nessa batalha", afirmou.
O empenho no esclarecimento do tema também foi destacado pela vereadora Márcia Pacheco (PSDB). Ela, que é médica pediatra, desaconselhou o uso de mamadeiras e defendeu o aleitamento materno como forma exclusiva de alimentação do bebê pelo menos até ele completar 6 meses de idade. A vereadora parabenizou Fabiana e Fernanda pela criação do site e reforçou a necessidade de a iniciativa ser cada vez mais divulgada. "O mais importante é que isso [o trabalho de conscientização] chegue às pessoas que têm menos acesso à informação, que são as menos protegidas", afirmou.
O QUE É O BISFENOL-A?
O bisfenol-A (BPA) é um composto utilizado na fabricação do policarbonato, um tipo de plástico rígido e transparente. É também um dos componentes da resina epóxi (plástico termofixo que endurece quando misturado a um agente catalisador ou "endurecedor"), presente, por exemplo, no revestimento interno de latas para evitar a ferrugem. Apesar do plástico ser considerado estável, já se sabe que as ligações químicas entre as moléculas do BPA são instáveis, permitindo que o químico se desprenda do plástico e contamine alimentos ou produtos embalados com policarbonato ou resina epóxi. No caso de aquecimento do plástico, a contaminação por BPA é ainda maior.
ONDE O BISFENOL-A É ENCONTRADO?
É encontrado em grande parte das mamadeiras de plástico, nos enlatados (como revestimento interno), em garrafas reutilizáveis de água (squeezes), em embalagens plásticas para acondicionar alimentos na geladeira, em copos infantis e em materiais médicos e dentários
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DO USO DO BISFENOL-A?
O bisfenol-A age como alguns dos hormônios presentes no corpo humano e pode comprometer a saúde. Estudos sugerem que a parte mais afetada é o sistema reprodutivo, sendo fetos e bebês os mais vulneráveis à sua exposição. Outras pesquisas associam o bisfenol-A a uma maior incidência de obesidade, problemas cardíacos, diabetes, câncer na próstata e de mama, puberdade precoce e tardia, abortos, anormalidades no fígado em adultos e também problemas cerebrais e no desenvolvimento hormonal em crianças e recém-nascidos. O componente químico também foi associado a problemas sexuais em homens, como a diminuição da qualidade e da quantidade de esperma.
TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918
FOTOS: Gustavo Annunciato / MTB 58.557